Angola e as tensas relações com Portugal
As relações entre os dois países estão eivadas de picardias. Mas não são mais do que isso.
Não creio que a ida do Presidente da República à posse do novo Chefe de Estado angolano pudesse ter corrido melhor. Como é sua característica, Marcelo Rebelo de Sousa tirou o maior proveito desta deslocação, conviveu com angolanos, mergulhou nas águas tépidas de Luanda, saiu de lá com uma nova alcunha amistosa e transmitiu da sua presença ali um ambiente de normalidade quase caseira, que só o seu talento comunicacional conseguiria.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Não creio que a ida do Presidente da República à posse do novo Chefe de Estado angolano pudesse ter corrido melhor. Como é sua característica, Marcelo Rebelo de Sousa tirou o maior proveito desta deslocação, conviveu com angolanos, mergulhou nas águas tépidas de Luanda, saiu de lá com uma nova alcunha amistosa e transmitiu da sua presença ali um ambiente de normalidade quase caseira, que só o seu talento comunicacional conseguiria.
Mas não foi nada disso que transpareceu em alguma da comunicação social portuguesa, sempre ávida de encontrar, ou mesmo espevitar, atritos nas nossas relações com Angola. Desde logo, especulou-se pelo facto de o primeiro-ministro não ter ido a Luanda. Mas estando presente o Presidente da República e o ministro dos Negócios Estrangeiros, que motivo haveria de lá estar também o chefe de Governo? Não é certamente useiro tal acontecer. Algum outro país se fez representar pelo Chefe de Estado e pelo primeiro-ministro?
Depois, perante a comovente e única ovação de manifesta amizade que acompanhou a apresentação do nome do nosso Presidente, houve quem salivasse ao poder interpretar os assobios que a integraram como uma vaia. Foi preciso que vários angolanos (veja-se as redes sociais) viessem explicar que em Angola os assobios são de apoio e não de desagrado. Mas não o são já também entre nós? Veja-se os concertos.
Finalmente, a cereja em cima do bolo: João Lourenço não mencionou Portugal ao enunciar os principais parceiros internacionais de Angola. Logo todos concluíram que Portugal tinha deixado de ser um parceiro relevante para Angola. É verdade que o novo Presidente de Angola não disse expressamente o nome de Portugal. Mas é óbvio que Portugal foi mencionado de forma que reflecte a particularidade única das relações entre os dois países.
As relações entre Portugal e Angola estão constantemente eivadas de picardias, para utilizar uma palavra cara aos meus amigos angolanos. Mas não são mais do que isso. As relações, digamos estruturais, prevalecem sobre esses incidentes conjunturais. São, como sempre os responsáveis repetem, de interesse mútuo para os dois países. E assentam em relações de igualdade entre dois Estados soberanos que, como uma vez me comentou o actual Presidente de Angola, devem comunicar entre si com a franqueza que caracteriza as relações entre amigos. Mas para o prosseguimento dessas relações era bom que todos compreendessem em Portugal de uma vez por todas que Angola é um Estado soberano e independente e que Portugal não tem direito a exercer, não exerce e não quer exercer sobre ela nenhuma espécie de tutela, ética ou outra.