PSD e CDU são os grandes derrotados

O PSD afundou-se nas principais cidades e Passos Coelho admitiu demitir-se. Já o PCP teve o pior resultado da sua história eleitoral autárquica. O PS viu António Costa ter a sua primeira vitória em eleições como líder do PS.

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A maior novidade das autárquicas é a dimensão da derrota do PSD. As sondagens tinham apontado para um mau resultado, mas os números nos concelhos com maior dimensão demográfica bem como o resultado nacional em percentagem de votos superaram as piores expectativas: quando faltavam apurar três freguesias, o PSD tinha 16,07% nas câmaras onde concorreu sozinho e 14,27% nos concelhos onde concorreu em coligação, num total nacional de 30,34%. A quebra do PSD ficou simbolizada em Lisboa, onde Teresa Leal Coelho foi terceira, obtendo cerca de 11,23%.

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A maior novidade das autárquicas é a dimensão da derrota do PSD. As sondagens tinham apontado para um mau resultado, mas os números nos concelhos com maior dimensão demográfica bem como o resultado nacional em percentagem de votos superaram as piores expectativas: quando faltavam apurar três freguesias, o PSD tinha 16,07% nas câmaras onde concorreu sozinho e 14,27% nos concelhos onde concorreu em coligação, num total nacional de 30,34%. A quebra do PSD ficou simbolizada em Lisboa, onde Teresa Leal Coelho foi terceira, obtendo cerca de 11,23%.

Perante os resultados, perto da meia-noite, Pedro Passos Coelho assumiu a derrota – “um dos piores resultados de sempre” – e abriu a porta à demissão da presidência do partido. “Não deixarei de ponderar devidamente os resultados”, garantiu, afirmando que fará uma “reflexão pessoal” sobre a possibilidade de se demitir, uma hipótese que ganha força, tendo em conta o tom da sua declaração de derrota.

As hostilidades contra Passos Coelho dentro do PSD tinham sido abertas pouco depois das 21h, na TVI, por Manuela Ferreira Leite, a ex-líder que foi afastada por Passos Coelho em 2010. “Estou um bocadinho chocada e atónita. Os resultados são demasiadamente maus para uma pessoa como eu, que gosto muito do partido, não estar abalada”, afirmou Ferreira Leite, parafraseando a tirada mortal que António Guterres usou na noite das legislativas de 1991, para abrir a guerra interna no PS, que levou ao afastamento de Jorge Sampaio.

Já perto das 22h era a vez de o também ex-líder e antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes dizer à SIC: “As pessoas compreenderão que se sinta tristeza por estes resultados.” Poucos minutos depois, também na SIC, foi a vez de um outro ex-líder, Luís Marques Mendes, numa alusão à demissão de António Guterres, na noite das autárquicas de 2001, ir mais longe e vaticinar: “Não me surpreenderia muito que Passos Coelho tomasse hoje ou na próxima terça-feira a decisão de dizer que sai, que se afasta, que não se candidata novamente à liderança do partido.”

Em números globais, o resultado do PSD consegue ser pior do que há quatro anos, quando já tinha sido mau e este partido foi penalizado pelo facto de se viver o pico da austeridade. Então o PSD ganhou 106 câmaras, 86 conquistadas sozinhas e 20 em coligação com o CD – o que já então tinha sido um péssimo resultado, uma vez que em 2009 os sociais-democratas tinham partido de um total de 139 câmaras contra 132 do PS. Agora fica-se pelas 79 presidências de câmaras sozinho e 19 em coligação. Quanto aos concelhos mais populosos, o PSD mantém agora Braga e Cascais, mas não reconquista mais nenhum.

Para esta derrota do PSD contribuiu, na prática, mas sobretudo simbolicamente, o mau resultado obtido por Teresa Leal Coelho, que fica em terceiro lugar, com cerca de 11,23% e praticamente empatada com João Ferreira da CDU, que tem 9,56%. E se os comunistas mantiveram os dois vereadores, o PSD desceu de quatro para dois. O PSD, que já ganhou a presidência à Câmara de Lisboa com Pedro Santana Lopes, em 2001, obteve o seu pior resultado, já que, há quatro anos, Fernando Seara registou 22,37% (contra 50,51% de António Costa). Em 2009, quando Costa ganhou por 29,54%, o PSD dividiu o seu eleitorado entre Carmona Rodrigues (que substituíra Santana na batalha de Lisboa) com 16,7%, e Fernando Negrão, o candidato oficial do partido que se ficou pelos 15,74%.

A derrota do PSD foi também acentuada com os resultados do Porto. Conquistando a maioria absoluta, o independente Rui Moreira foi reeleito, com maioria absoluta. Na reedição do duelo de há quatro anos, o candidato do PS, Manuel Pizarro, ficou igualmente em segundo. Mas no Porto, o PSD, que em 2013 obteve 21,06%, com Luís Filipe Menezes (tendo então perdido eleitorado tradicional do partido para Moreira, já que Rui Rio o apoiou), fica agora em terceiro, com apenas cerca de 10%, tendo Álvaro Almeida como candidato.

Pior resultado

O outro derrotado da noite é a CDU. Obtém 9,45% e perde um total de nove câmaras para o PS e uma para um movimento de cidadãos, ficando com um total de apenas 24 câmaras. Três são cidades importantes para os comunistas. Perde pela primeira vez Almada. E volta a perder o Barreiro e Beja.

Os outros seis concelhos são Alandroal, Alcochete, Barrancos, Moura, Castro Verde e Constância. Este resultado abala a posição do PCP no poder local e é uma derrota expressiva para os comunistas, pois há quatro anos tinha conquistado 34 câmaras, mais seis do que as 28 de 2009.

Numa primeira leitura, o PCP pode ter sido vítima do chamado “abraço de urso”, ou seja, perdeu eleitorado fruto do acordo parlamentar com o PS que suporta o Governo. Tem o pior resultado autárquico da sua história eleitoral, ficando abaixo do resultado de há oito anos, que em conjunto com 2001, quando conquistou também 28 câmaras, tinham sido os piores resultados das coligações lideradas pelo PCP em autárquicas desde 1976.

Já o BE, não perdeu, mas também não ganhou. Partiu de zero presidentes de câmara e ficou com zero. Salvou a noite eleitoral com a eleição de Ricardo Robles como vereador da Câmara de Lisboa.

A vitória de Costa

O PS é o partido vitorioso em número de câmaras a nível nacional e nas principais cidades, numas autárquicas que tiveram como universo eleitoral 9.396.680 inscritos recenseados, mas em que a abstenção foi de 45,02% contra 47,4% em 2013. Os socialistas obtêm um recorde de 158 câmaras, mais o Funchal e Felgueiras em coligação, contra 150 presidentes eleitos em 2013. E, ainda que tenha conquistado nove câmaras à CDU, perdeu cerca de uma dezena para o PSD.

Esta é a primeira vitória eleitoral de António Costa como líder do PS, depois de o actual primeiro-ministro ter ficado em segundo lugar nas legislativas de 2015, com um resultado final de 32,31% dos votos, contra 36,86% da coligação entre o PSD e o CDS, Portugal à Frente. Agora, o PS tem um total nacional de 37,83%, mais 1,23% em coligação.

O PS já em 2013 tinha reconquistado ao PSD a presidência da Associação Nacional de Municípios, que agora mantém. E ganha a maior parte dos principais centros urbanos. À cabeça das vitórias do PS está Lisboa, onde Fernando Medina é reeleito com 42,02%, mas sem a maioria absoluta, elegendo oito vereadores, quando há quatro anos tinha onze.

Outro vencedor da noite é o CDS. Esse estatuto é-lhe dado pelo segundo lugar em Lisboa, onde a líder do partido, Assunção Cristas, ficou em segundo lugar, com 20,57%, e subindo de um vereador para quatro vereadores. Cristas, que apostou a liderança nestas autárquicas, consolida assim o seu lugar à frente do CDS e consegue-o com o resultado histórico em que que triplica os 7,59% dos votos conseguidos pelo ex-líder Paulo Portas, em 2001.

A nível nacional, o CDS também canta vitória, porque subiu de cinco para seis câmaras, acrescentando Oliveira do Bairro a Albergaria-a-Velha, Vale de Cambra, Ponte de Lima, Santana (Madeira), Velas (Açores).

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