Uma viagem pelo espaço ao alcance do comum mortal?
A expectativa de voos no espaço, em menos de uma hora, para o outro lado da Terra, é um sonho. Mas parece muito provável que essa visão se torne realidade num futuro não tão distante quanto isso.
A apresentação pública de Elon Musk sobre os projectos de exploração espacial da empresa SpaceX, no Congresso Internacional de Astronáutica em Adelaide, Austrália, a 29 de Setembro, foi brilhante, com linhas simples mas claras e lógicas.
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A apresentação pública de Elon Musk sobre os projectos de exploração espacial da empresa SpaceX, no Congresso Internacional de Astronáutica em Adelaide, Austrália, a 29 de Setembro, foi brilhante, com linhas simples mas claras e lógicas.
Elon Musk, fundador ou co-fundador de várias empresas tecnológicas, nomeadamente: a Tesla Motors que produz carros eléctricos com condução automática, e a SpaceX, uma empresa privada fundada em 2002, não cotada em bolsa, com mais de 5 mil funcionários, cujo objectivo principal é a exploração espacial, em particular, fazer viagens e colonizar Marte com um milhão de pessoas entre 40 e 100 anos, proposta recebida com muito cepticismo quando apresentada em 2016.
A SpaceX desenvolveu novas tecnologias e parece ter conseguido dominar a capacidade de fazer um foguetão espacial, movido exclusivamente a propulsão a jacto, aterrar de novo, com precisão, só com propulsão, após uma viagem no espaço, tendo esse foguetão um único reactor, i.e., sem redundância. A SpaceX conseguiu fazer 16 viagens consecutivas, com sucesso. Dois desses foguetões fizeram, cada um, duas viagens. Ou seja, os foguetões espaciais da SpaceX são reutilizáveis e parecem ter elevada fiabilidade.
O vídeo (min. 6-8, da apresentação) da aterragem dos foguetões por propulsão, numa pequena plataforma, uma das quais no meio do mar, é quase mágico. Relembra livros da infância: um projéctil disparado por um gigantesco canhão, com o objectivo de chegar à Lua, “Da Terra à Lua”, 1865, de Júlio Verne; e o foguetão à Lua que aterra verticalmente tanto na Lua como na Terra, das aventuras de Tintim, “Rumo à Lua” (Março a Setembro de 1950) e “Explorando a Lua” (Outubro de 1952 a Dezembro de 1953).
Em Adelaide, Elon Musk – presidente executivo e Designer Chefe da SpaceX – apresentou a estratégia da empresa: concentrar todos os recursos no desenvolvimento de um novo foguetão, designado BFR, o maior foguetão jamais construído, com capacidade de transporte para o espaço de 150 toneladas de massa. Esse foguetão seria completamente reutilizável, tal como um avião comercial do presente. A sua capacidade para transporte de passageiros (volume de cabina pressurizado) seria superior ao do maior avião da actualidade, o Airbus A380.
Essa nova plataforma BFR seria multi-funções: transporte para o espaço de satélites; transporte de carga para a estação espacial internacional; transporte para uma nova base permanente na Lua; viagens a Marte em 2022 (carga) e em 2024 (cerca de 100 pessoas); e, particularmente, para viagens entre grandes cidades do mundo em menos de uma hora, por exemplo, de Nova York nos EUA para Shangai na China em 39 minutos, a um preço comparável ao de uma viagem de avião para esse mesmo trajecto em classe económica, hoje.
Ou seja, a visão e a aspiração de Elon Musk e da empresa SpaceX, torna pelo menos plausível, dentro de uma ou duas décadas, algo dificilmente imaginável por um cidadão comum dos dias de hoje: uma viagem a um preço acessível, pelo espaço, para o outro lado da Terra.
Elon Musk é conhecido por ser um visionário e não é certo que a SpaceX consiga realizar o programa que apresentou e que representa uma alteração em relação aos planos apresentados no ano passado. De facto, é um enorme desafio construir foguetões fiáveis e plenamente reutilizáveis que possam transportar muitos passageiros pelo espaço, a preços comparáveis aos do avião de hoje.
A visão estratégica da SpaceX, uma pequena empresa, é uma ameaça concorrencial aos gigantes Boeing e Airbus. A expectativa de voos no espaço, em menos de uma hora, para o outro lado da Terra, em substituição de voos directos intercontinentais de 10 a 19 horas ou, com escalas, ainda mais longos, é um sonho. Mas parece muito provável que essa visão se torne realidade num futuro não tão distante quanto isso.