Mercados patrióticos

Dado o peso económico do mercado inglês no mundo do futebol, a colocação de entraves de janela temporal vai, na prática, fazer render ainda mais o negócio daqueles que estão dispostos a alargar as barreiras para quem está disposto a pagar.

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O futebol da Premier League é um dos mais espectaculares do mundo Reuters/JASON CAIRNDUFF

A Liga Inglesa de 2018-19 vai encurtar a janela de transferências de importação. Isto significa que os clubes ingleses terão de fechar os negócios relativos a contratação de novos jogadores antes do apito inicial do primeiro jogo agendado para aquela época. No entanto, muito pouco ainda foi definido em termos de exportação que continuará a ser permitida dentro das regras dos mercados adquirentes de talentos britânicos. Na prática, faz-se aquilo que tantas vezes a Inglaterra tem feito e — curiosamente — com mais prejuízos para a generalidade dos ingleses do que propriamente com benefícios líquidos: os entraves à importação.

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A Liga Inglesa de 2018-19 vai encurtar a janela de transferências de importação. Isto significa que os clubes ingleses terão de fechar os negócios relativos a contratação de novos jogadores antes do apito inicial do primeiro jogo agendado para aquela época. No entanto, muito pouco ainda foi definido em termos de exportação que continuará a ser permitida dentro das regras dos mercados adquirentes de talentos britânicos. Na prática, faz-se aquilo que tantas vezes a Inglaterra tem feito e — curiosamente — com mais prejuízos para a generalidade dos ingleses do que propriamente com benefícios líquidos: os entraves à importação.

Quando a Inglaterra, em meados do século XIX, decidiu barrar/dificultar a importação da maquinaria germânica, que chegava aos portos britânicos com a reputação de fiável e duradoura, usou de várias ferramentas — desde decretos reais até à vandalização. Foi nesse período que surgiu o rótulo ‘Made in Germany’ com intenções xenófobas que visavam encarecer a aquisição de material alemão com custos de depreciação social.

O problema é que virou-se o feitiço contra o feiticeiro — e o rótulo depreciativo acabou, na prática, por se transformar num slogan mediático que acelerou a identificação das importações vindas da Alemanha e, consequentemente, a sua aquisição pelos pequenos industriais e clientes domésticos ingleses. Como vários autores de então comentavam, o patriotismo é mais fácil de vingar nos campos de batalha do que nas casas dos soldados.

Dado o peso económico do mercado inglês no mundo do futebol, sobretudo em termos de folha salarial e de negociação dos direitos televisivos, a colocação de entraves de janela temporal vai, na prática, fazer render ainda mais o negócio daqueles que estão dispostos a alargar as barreiras para quem está disposto a pagar. Já que não vai ser tão fácil esperar pelos dias finais de Agosto para o encerramento das contratações, o valor a pagar pela observação e agenciamento dos jogadores deve subir claramente. Os managers pensarão — queremos os melhores jogadores quanto antes! E por isso, toda a equipa de scouting espalhada pelo mundo vai exigir compensações adequadas pela descoberta mais cedo do maior diamante - polido ou em bruto. Os rumores terão rotação mais acelerada, os treinadores ingleses uma maior definição dos plantéis em perspetiva e a imprensa da especialidade terá maiores certezas na edição das revistas de lançamento da época desportiva.

E o que ficará para as restantes ligas? Ligas igualmente poderosas como a espanhola ou a italiana na prática terão efeitos pouco significativos. Os grandes clubes procurarão assegurar as melhores aquisições quantos antes como tem sido até agora, pois, além da pressão do agenciamento e da instabilidade dos rumores haverá, adicionalmente, a certeza de que uma Liga importante fechará o seu mercado de aquisições mais cedo.

Os ‘bons jogadores’ sobrantes da Liga inglesa, curiosamente, ficarão a perder — nada pior no jogo da reputação ter fama de “admissível” e depois não ser admitido.

Vários estudos no campo da Teoria dos Jogos e na Economia Experimental tem mostrado como este tipo de situações leva a uma desvalorização significativa do bem ou serviço em causa que pode cair para mercados terciários. E é aqui que entra Portugal, que poderá ficar a ganhar com as “pechinchas” — jogadores com nível de Liga milionária mas que, por mau agente, mau tempo ou má sorte, não conseguiram inscrição na Liga desejada, no devido tempo.

Afinal, quando a lotação de um bar está no limite máximo, existirá sempre não muito longe algum outro disposto a servir um café.