Celebração colectiva na house de Moullinex

Hypersex: música da dança como demanda espiritual, agregadora, capaz de diluir diferenças em torno de uma ideia partilhada de felicidade.

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Muitas das formas que a chamada música de dança foi adoptando ao longo das últimas décadas foram alvo de várias narrativas desqualificadoras. Pouca seriedade artística, correlação directa com o consumo de substâncias aditivas ou indutora de comportamentos alienantes foram alguns dos predicados empregues.

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Muitas das formas que a chamada música de dança foi adoptando ao longo das últimas décadas foram alvo de várias narrativas desqualificadoras. Pouca seriedade artística, correlação directa com o consumo de substâncias aditivas ou indutora de comportamentos alienantes foram alguns dos predicados empregues.

No entanto, olhando para a história, verifica-se que a cultura da música de dança esteve conectada com dinâmicas de transformação socioeconómica e política, convidando à interacção em lugares públicos, às vezes parecendo um dos últimos vestígios de um tempo onde se podia participar em festividades comunitárias ou funcionando como pólo de atracção para a afirmação identitária de comunidades emergentes. Para muitos continua a ser através da música e da dança que se materializa o potencial para a expressão da solidariedade colectiva ou para a liberalização pessoal.

Foi com isto em mente que Luís Clara Gomes, Moullinex, avançou para o terceiro álbum, Hypersex, que acaba por funcionar como celebração desse legado e memória. Para a sua feitura fez-se rodear da sua habitual banda e de uma série de convidados, muitos deles vocais (Shermar, Fritz Helder, Da Chick, Marta Ren ou Georgia Anne Muldrow), compondo uma mão cheia de canções onde as dinâmicas rítmicas electrónicas (devedoras do "disco" ou house) se aliam a efeitos sintéticos, climas lânguidos e vozes que introduzem um colorido funk, soul e R&B.

Há temas de inclinação funky (Work it out, Carnival, Like a man) e outros onde as atmosferas mais cósmicas (Painting by numbers) se impõem. Em Daydream, Say it slow e, principalmente, em Hidden affection, os ritmos tornam-se mais distendidos, em câmara lenta, envolvendo. Mas é talvez Open house a canção-chave de todo o álbum. É um tema de house clássico que comunica essa ideia da música da dança como demanda espiritual, algo agregador, que é capaz de diluir diferenças em torno de uma ideia partilhada de celebração e felicidade. Ou como diz Moullinex, é como se abrisse a sua casa (house), fazendo dela um espaço plural e festivo.