Duplo Espaço: o atelier de Susana Carvalhinhos

Laura Sequeira Falé gosta de ateliers e mostra-os no blogue Duplo Espaço. Desta vez, visitou a artista Susana Carvalhinhos

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Laura Sequeira Falé

No centro de Lisboa vive a Susana Carvalhinhos, ilustradora. Vive há três meses num apartamento partilhado, que é também o seu espaço de trabalho. Mas o atelier não se cinge só à sua casa: consegue trabalhar em qualquer sítio e a mudança de ambiente frequente faz com que os trabalhos sejam mais ricos.

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No centro de Lisboa vive a Susana Carvalhinhos, ilustradora. Vive há três meses num apartamento partilhado, que é também o seu espaço de trabalho. Mas o atelier não se cinge só à sua casa: consegue trabalhar em qualquer sítio e a mudança de ambiente frequente faz com que os trabalhos sejam mais ricos.

 

Abre-me a porta a sorrir com os dentes todos. É baixa, magra e cabelo recto, escondendo a clara timidez por trás de uma explosão de gargalhadas. É parecida com os personagens que invadem o seu trabalho. Gesticulando muito de cada vez que fala, é doce no trato e fala sempre num tom certo, racional e agradável, embora não seja de palavras a mais.

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A casa a partir da qual trabalha tem vidros duplos, uma luz invejável e uma buganvília roxa que dá vida ao terraço igualmente iluminado. A sensação que tive quando fotografei a Susana é que parece que se funde com qualquer espaço onde esteja: passa despercebida se quiser e sabe fechar-se de modo a que não a incomodem.

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Laura Sequeira Falé

 

Susana foi conservadora-restauradora, o que lhe deu ferramentas para conseguir trabalhar ao mesmo tempo que é observada. Isto permite que se sinta confortável para esboçar e planear os seus trabalhos em cafés, jardins ou outros espaços públicos que escolhe consoante a sua disposição.

 

O que desejava mesmo era ser ilustradora. Estudou no Ar.Co e agora trabalha com a marca nipónica Winged Wheel e faz algum trabalho editorial em Portugal. Pinta em azulejo e cerâmica e concretiza alguns objectos de joalharia que estão disponíveis na sua lojaEstes são os meios mais fiéis que encontra para contar as histórias que vai criando na sua cabeça.

 

O seu trabalho, quando não é feito fora de casa, está condicionado à sua pequena secretária no quarto arejado, à mesa redonda da marquise e ao terraço. Desenha com frequência na mesa gráfica, mas não dispensa os esboços a lápis — tudo depende do trabalho final.

 

Gosta de contar histórias a cada trabalho que faz, mesmo quando está a fazer trabalho para fora. Em termos editoriais, diz-me, pedem-lhe algumas vezes que pinte o que não se lembraria de pintar. A Susana vê isto de uma forma positiva: sair da sua zona de conforto é poder descobrir que pode estar presente em lugares onde nunca se imaginaria. Como consequência, o seu trabalho pessoal beneficia.

 

O seu quarto é um sítio impecavelmente branco, sem um lápis fora do sítio, com todos os desenhos muito arrumados. Apesar disso, este espaço de trabalho tem qualquer coisa de obscuro que eu não fui capaz de identificar, como se a ilustração por cima da cama lhe desse um tom negro que contrasta com a brancura envolvente.

 

Há uma estante com livros, outra com DVD e alguns azulejos na cómoda lateral. A janela do quarto enche de luz o espaço de trabalho e consigo imaginar por que razão aquele sítio é um bom local para desenhar: não há a mínima distracção nem um objecto a mais.

 

"Uso o papel como uma forma de comunicar e até de desabafo, mas não me expresso de uma forma particular para que não mace o observador — gosto da ideia que o trabalho provoque alguma coisa em quem observa. As histórias que conto no meu trabalho pessoal têm muito a ver com histórias de corações partidos e sobre a efemeridade."

 

Para onde quer que vá, consegue trabalhar e adaptar-se ao espaço que tem disponível. O atelier da Susana é tão portátil quanto a sua vontade.

 

Vale muito a pena visitar a loja da Susana. A sua página de Facebook e o seu Instagram são tão delicados como os seus trabalhos.