Malária: a dieta do hospedeiro importa

Investigadores portugueses publicaram estudo em ratinhos que demonstra que a susceptibilidade à malária é determinada pelo metabolismo do hospedeiro

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Parasita da malária (o Plasmodium falciparum, um parasita que só afecta os humanos é transmitido pela picada dos mosquitos Anopheles James Gathany Image storage

Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM) Lisboa descobriu que a susceptibilidade do hospedeiro para desenvolver malária depende do estado metabólico do mesmo, ou seja, dos seus hábitos alimentares. Os resultados do estudo, publicados esta semana na revista Nature Microbiology, mostram que o aumento dos níveis de pró-oxidantes, causado por alterações na dieta, resultam numa redução de 90% da carga parasitária durante a fase hepática da infecção e, assim, conseguem uma diminuição da severidade da doença. 

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Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM) Lisboa descobriu que a susceptibilidade do hospedeiro para desenvolver malária depende do estado metabólico do mesmo, ou seja, dos seus hábitos alimentares. Os resultados do estudo, publicados esta semana na revista Nature Microbiology, mostram que o aumento dos níveis de pró-oxidantes, causado por alterações na dieta, resultam numa redução de 90% da carga parasitária durante a fase hepática da infecção e, assim, conseguem uma diminuição da severidade da doença. 

“A progressão e o desfecho de uma doença infecciosa dependem não só das características do agente infeccioso que a causa (mais ou menos agressivo) como também das características genéticas do hospedeiro, que lhe permitem controlar de forma mais ou menos eficiente esse mesmo agente”, revela o comunicado do IMM sobre o estudo.

A equipa de investigadores, liderada por Maria Mota, manipulou a dieta de ratinhos de laboratório por períodos muito curtos de tempo, avaliando de seguida o nível de infecção causado pelo parasita da malária. “O mecanismo usado pelo hospedeiro para eliminar o parasita da malária, agora desvendado, poderá contribuir para explicar como é que certas alterações genéticas associadas a níveis elevados de stress oxidativo, tais como a anemia falciforme ou a beta talassémia, foram seleccionadas na população por conferirem um elevado nível de protecção contra a malária”, acrescenta o comunicado.

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Investigadora Maria Mota Tiago Machado

Maria Mota já tinha publicado um artigo na revista Nature, em Julho, que demonstrava que uma redução calórica de 30% na dieta de ratinhos com malária fazia abrandar a infecção. Nesse trabalho demonstrava-se que o parasita da malária (o Plasmodium falciparum, um parasita que só afecta os humanos e que é transmitido pela picada dos mosquitos (pela fêmea) Anopheles) tem “a capacidade sensorial de determinar qual é o estado nutricional do hospedeiro”. Assim, os investigadores do IMM demonstraram que mais do que apenas saber o que comemos, este agente infeccioso é capaz de se adaptar ao ambiente nutricional. 

Actualmente, a malária será responsável pela morte de uma criança a cada minuto que passa e apesar de uma redução do número de casos, todos os anos, há cerca de 200 milhões de novas infecções.