"Cada um com o seu estilo.” Costa recusa pacto de não-agressão com PCP

Líder do PS diz que “quer ganhar as 308 câmaras”. E as do PCP? Não há agressão nem não-agressão, “cada um tem o seu estilo”.

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Secretário-geral do PS viajou de metro de Odivelas ao Largo do Rato, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

O primeiro-ministro e líder do PS andou esta terça-feira por casa. Saiu de territórios vermelhos e andou no distrito de Lisboa, por terras próprias, Odivelas, Lisboa e Sintra, e por terreno árido, Cascais. Mas nas paragens do dia, e por entre viagens de metro, arruada e jantar, o líder do PS queria passar outra ideia: a de que não há pacto de não-agressão com o PCP.

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O primeiro-ministro e líder do PS andou esta terça-feira por casa. Saiu de territórios vermelhos e andou no distrito de Lisboa, por terras próprias, Odivelas, Lisboa e Sintra, e por terreno árido, Cascais. Mas nas paragens do dia, e por entre viagens de metro, arruada e jantar, o líder do PS queria passar outra ideia: a de que não há pacto de não-agressão com o PCP.

No fim-de-semana andou por concelhos comunistas – percorreu vários –, mas não concorda que digam que o fez de forma ligeira, para não perturbar os equilíbrios entre os parceiros que apoiam o Governo. “Eu quero ganhar as 308 câmaras”, disse na manhã desta terça-feira, numa conversa com o PÚBLICO. Mas isso significa querer roubar as do PCP? “Todas.” Dito no geral, sem particularizar, tem sido, aliás, assim por onde passa.

Mas, do outro lado, Jerónimo de Sousa está em guerra aberta para manter câmaras importantes que conquistou ao PS há quatro anos e outras que são ameaçadas pelos socialistas. Costa não o tem ouvido, mas ainda lança, num aparte: “Cada um tem o seu estilo.”

O estilo de Costa nestas autárquicas é, aliás, de definição fácil: pede mais força ao PS para “dar continuidade” às políticas nos dois anos de mandato que faltam e esta é a mensagem central. Nesta terça-feira à noite, em Sintra, ao lado de Basílio Horta, acrescentou-lhe um ponto. “O verdadeiro adversário é a abstenção”, disse.

Mas na mira de António Costa está o outro verdadeiro adversário: a oposição, PSD e CDS. De manhã visou Assunção Cristas, à noite o PSD. “A proposta não faz o menor sentido”, disse sobre a proposta de Cristas para criar 20 novas estações no metro de Lisboa. À noite criticou o PSD, que deixou a Câmara de Sintra “numa situação desgraçada”, pedindo o voto no PS para que também a nível local se ande em frente: “A oposição que fique onde se quis colocar, no passado.” “A oposição ficou baralhada, tinha um discurso acreditando no diabo, ficou perdida e ainda não se encontrou.” Já na segunda-feira tinha usado o mesmo para o PSD, por causa do apoio a André Ventura em Loures e de um alegado afastamento da “raiz humanista” dos sociais-democratas.

Se dúvidas houvesse que estas eleições estão marcadas, pelo menos nos arredores de Lisboa, por questões raciais, Costa teve ontem a prova provada de que, mesmo a nível local, a discussão faz-se na hora do voto. Ainda antes de ter entrado no metro em Odivelas, Costa foi abordado por um apoiante de origem cigana que lhe disse: “Acreditamos no PS, é o partido do cigano.” “Somos cidadãos portugueses, somos honestos, não somos racistas como ele [André Ventura]”, acrescentou. Costa tinha no dia anterior criticado o apoio do PSD ao candidato, dizendo que os sociais-democratas estavam a usar “um balão de ensaio do discurso populista”.

Mais tarde, em Cascais, ouviria um grupo de música cantar-lhe em crioulo e deixar-lhe uma mensagem final: “Não te esqueças que os pretos vão votar por ti.” E já à noite, no concelho onde vive, ouviria com agrado o presidente da câmara e candidato pelo PS dizer que por ali “não importa a raça, o credo ou a opção política”. “São pessoas e merecem o nosso respeito. Sejam muçulmanos, católicos, de que raça for. Aqui recebemos de braços abertos”, disse Basílio Horta, lembrando que Sintra, tal como Lisboa, foram dois dos concelhos a acolher refugiados.