Percevejos alheios
O percevejo é tão estranho às nossas cidades e à nossa cultura que a palavra percevejo nem sequer existe na nossa língua.
Quem é que trouxe os percevejos para Lisboa? E para o Porto? Foram os turistas. Bem me parecia! São estrangeiros e basta. Também há turistas portugueses, claro, mas esses felizmente estão todos no estrangeiro, onde não nos chateiam.
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Quem é que trouxe os percevejos para Lisboa? E para o Porto? Foram os turistas. Bem me parecia! São estrangeiros e basta. Também há turistas portugueses, claro, mas esses felizmente estão todos no estrangeiro, onde não nos chateiam.
Como é que os turistas conseguiram introduzir os percevejos nas nossas camas limpinhas? Vieram nas mochilas, nas mochilas infectas que estiveram sabe-se lá onde, a arrastar pelo chão e a apanhar toda a espécie de doenças.
O percevejo é tão estranho às nossas cidades e à nossa cultura que a palavra percevejo nem sequer existe na nossa língua - para falar nele temos de usar o castelhano percevejo.
Antes da invasão de 2017 só se conhece uma referência ao parasita nórdico-americano. Foi feita por Bocage no século XVIII, com a queda para a boçalidade que o caracteriza, na décima em que glosa o verso Almas, vidas, pensamentos. Ela aqui está, com a preciosa ajuda de Paulo Neves da Silva:
Calções, polainas, sapatos,
Percevejos, pulgas, piolhos,
Azeites, vinagres, molhos,
Tijelas, pires e pratos,
Cadelas, galgos e gatos,
Pauladas, dores, tormentos,
Burros, cavalos, jumentos,
Naus, navios, caravelas,
Corações, tripas, moelas,
Almas, vidas, pensamentos.
Nem mais.