As ilhas onde vivem estão em perigo e estes jovens são os seus porta-vozes

Podem as alterações climáticas fazer desaparecer pequenas ilhas? Sete jovens embaixadores do ambiente passaram por Lisboa para dizer que sim e que o vêem todos os dias com os seus próprios olhos. Seguem agora para Edimburgo (Reino Unido), Reiquiavique (Islândia) ou Nova Iorque (Estados Unidos).

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Esta segunda-feira, o bote de fragata Sejas Feliz não prosseguiu o passeio pelo rio Tejo sem que uma nova bandeira fosse içada. É branca e com letras verde, azul e amarela, onde se lê “COP 23”. É a bandeira da próxima Cimeira do Clima, que se vai realizar em Bona (na Alemanha), em Novembro. Afinal, sete dos seus passageiros dos 19 aos 26 anos lutam para que as alterações climáticas não façam desaparecer pequenas ilhas no Pacífico, Caraíbas e Índico. A COP 23 vai ser uma oportunidade para se fazerem ouvir.  

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Esta segunda-feira, o bote de fragata Sejas Feliz não prosseguiu o passeio pelo rio Tejo sem que uma nova bandeira fosse içada. É branca e com letras verde, azul e amarela, onde se lê “COP 23”. É a bandeira da próxima Cimeira do Clima, que se vai realizar em Bona (na Alemanha), em Novembro. Afinal, sete dos seus passageiros dos 19 aos 26 anos lutam para que as alterações climáticas não façam desaparecer pequenas ilhas no Pacífico, Caraíbas e Índico. A COP 23 vai ser uma oportunidade para se fazerem ouvir.  

Mas antes disso, Kya Lal (Fiji), Selina Leem (Ilhas Marshall), Matea Nauto (Kiribati), Ashwa Faheem (Maldivas), Shafira Charlette (Seicheles), La Tisha Parkinson (Trindade e Tobago) e Zana Wade (Belize) vão passar por 23 portos de 19 países para partilharem a fragilidade dos locais onde vivem.

Logo assim que a embarcação tradicional partiu da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos (Lisboa), os sete jovens juntaram-se para tirar uma selfie que tinha como pano de fundo o rio Tejo e o Ocean Dream, o navio da organização Peace Boat que os trouxe até à capital portuguesa. Tudo começou em Yokoma, no Japão, a 13 de Agosto, e antes de passarem por Lisboa visitaram Barcelona. A aventura termina no Japão a 24 de Novembro.

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Os sete jovens embaixadores do ambiente Mário Lopes Pereira

“Olha, aqueles contentores de mercadorias são quase iguais aos das Maldivas”, aponta Ashwa Faheem com um tom irónico. “Nem tudo nas Maldivas é bonito”, brinca, aproveitando para falar dos efeitos das alterações climáticas. “Quando o nível das águas sobe, perdemos muita terra. E quando a terra desaparece, perdemos recursos, a agricultura e a pesca. Muita gente usa a pesca e o turismo para sobreviver”, diz preocupada a jovem de 26 anos. “Afecta tudo. É um efeito de dominó.”

Ashwa Faheem é fotojornalista freelancer e o passeio pelo Tejo também foi motivo de registo. Mas a sua especialidade são mesmo os problemas sociais e ambientais. “Uso a fotografia como porta-voz. Estamos num nível crítico e temos de ter consciência da vulnerabilidade da beleza das Maldivas [o país de menor altitude do mundo].” É através da fotografia que tenta alertar as pessoas e influenciar o Governo das Maldivas para que tome medidas quanto às alterações climáticas. “O Governo não fala sobre isso, mas há muitos estudantes e activistas que trabalham para fazer a diferença.” Ashwa Faheem é uma delas.

A arma de Selina Leem contra as alterações climáticas é o discurso. Na COP 21 (em Paris) foi a delegada mais jovem. Durante a intervenção de encerramento do ministro do Exterior das Ilhas Marshall, Tony deBrum, este deu-lhe a oportunidade de intervir. “Eu tenho apenas 18 anos mas desde que me lembro sinto-me nervosa quanto à minha casa”, dizia. Hoje está ainda mais nervosa. “O meu país é muito afectado pela subida do nível das águas. Quando a água sobe, arrasta-se por todo o lado. Toda a ilha é inundada.”

O que se pode fazer para se minimizar esses efeitos? “Educar as pessoas. Falar com os líderes políticos. Tirar fotografias. Fazer discursos públicos. Há muitas pequenas coisas que todos podemos fazer”, enumera quase sem fôlego. A sua participação nesta viagem da Peace Boat foi também uma resposta ao que ela pode fazer para se ouvir.

A quinta vez em Lisboa

Esta é a 95.ª viagem da Peace Boat. A organização não-governamental japonesa apoia temas como os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e o respeito pelo ambiente. A primeira “viagem de paz” aconteceu em 1983 e foi realizada por um grupo de estudantes universitários japoneses como resposta à antiga agressão militar do Japão no Pacífico.

“Este ano, o programa foi todo desenhado para se falar das alterações climáticas. A COP acontece já em Novembro”, diz Karen Hallows, coordenadora internacional da Peace Boat, que acompanha os sete jovens embaixadores. “As Fiji vão presidir à conferência e um dos temas é o impacto das alterações climáticas nas pequenas ilhas. Preocupa-nos que essas ilhas estejam a desaparecer. Por isso, queremos dar voz a essas pessoas.” Uma das conversas mais importante será em Outubro quando chegarem a Nova Iorque. Aí vão falar com responsáveis das Nações Unidas.

É a quinta vez que uma viagem da Peace Boat passa por Portugal. A próxima viagem que passará pelo país está marcada para Junho de 2018. Antes já tinha estado em Lisboa em 2012, 2015 e duas vezes em 2016. Mas é a primeira em que os seus participantes passeiam numa embarcação típica pelo rio Tejo. Tudo aconteceu porque Karen Hallows conheceu Ana Noronha, directora-executiva da agência Ciência Viva, na Conferência dos Oceanos da ONU, em Junho, em Nova Iorque. Depois, a coordenadora da Peace Boat contactou a Ciência Viva, que decidiu receber esta “embaixada” e organizar a viagem.

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Ashwa Faheem, fotojornalista que tenta alertar para a vulnerabilidade das Maldivas Mário Lopes Pereira

Esta é também a primeira vez de Zana Wade em Portugal. Natural do Belize, na América Central, conversa sobre o efeito das alterações climáticas com Francisco Peres e Catarina Coelho, ambos com 16 anos e do Colégio Pedro Arrupe (Lisboa). “Acho que as alterações climáticas ocorrem em todo o mundo. Mas as ilhas do oceano Pacífico e do Índico estão a desaparecer”, conta aos dois alunos portugueses. “O nosso recife de coral está a ser afectado como o da Austrália. Há partes que estão a branquear agora.”

Outra das situações que Zana Wade não esquece são os furacões. “Em Belize, há seis anos, precisamente na altura do meu aniversário, tivemos um de categoria 2 [quando os ventos causam estragos graves]. No ano passado tivemos outro de categoria 1 [os ventos provocam alguns estragos].” Ambos causaram danos na agricultura. E há bem pouco tempo, os furacões voltaram a preocupá-la. A sua mãe e o irmão estavam em Miami (Estados Unidos) quando o Irma, um furacão de categoria 5 (com danos catastróficos) entre final de Agosto e meados de Setembro, passou por lá.

“Abre-nos os horizontes”, diz Francisco Peres sobre a conversa. Habituado já a estes temas nas actividades da Ciência Viva, conclui: “A nossa geração tem de actuar e fazer a diferença.” Mas não é fácil. “De momento, não há uma solução para parar as alterações climáticas”, diz Zana Wade. “Temos de nos adaptar e mitigar os efeitos. E temos de estar preparados para tempestades mais violentas.”

O Sejas Feliz terminou o passeio no Parque das Nações. Afinal, foi no Pavilhão do Conhecimento, uma das casas da Ciência Viva, que os sete jovens cumpriram um dos objectivos da viagem: falar do efeito das alterações climáticas para uma plateia. Como diz a sua coordenadora Karen Hallows: “Nem todos vemos essas ilhas, então trazemos as ilhas às pessoas.” 

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