Sondagens são frágeis e não permitem leituras definitivas

As sondagens sobre as autárquicas já conhecidas são poucas, têm pouca fiabilidade e não permitem leituras nacionais. Quem o garante é Pedro Magalhães, a maior autoridade sobre o assunto em Portugal

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Pedro Magalhães é investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa Rui Gaudencio

No mesmo dia, três jornais diários publicam sondagens sobre as eleições autárquicas no concelho do Porto, e os resultados apresentados dão um nó na cabeça dos eleitores. Elas servem de argumento a quem olha com desconfiança para o panorama dos escassos estudos de opinião existentes que visam antecipar os resultados nas eleições de 1 de Outubro.

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No mesmo dia, três jornais diários publicam sondagens sobre as eleições autárquicas no concelho do Porto, e os resultados apresentados dão um nó na cabeça dos eleitores. Elas servem de argumento a quem olha com desconfiança para o panorama dos escassos estudos de opinião existentes que visam antecipar os resultados nas eleições de 1 de Outubro.

O Jornal de Notícias apresentou nesta sexta-feira uma sondagem feita pela Universidade Católica, em que o actual presidente da Câmara do Porto e de novo candidato independente, Rui Moreira, está tecnicamente empatado, no patamar dos 30%, com o seu antigo “número dois” no executivo, o candidato do PS, Manuel Pizarro. No Correio da Manhã e no Jornal de Negócios é publicada uma sondagem da Aximage em que Moreira aparece com um resultado a rondar os 40%, ou seja, com hipótese de garantir a maioria absoluta, enquanto Pizarro se fica em torno dos 20%.

“Os leitores devem tentar ser extremamente criteriosos quando olham para estes resultados, e começar por pensar no que pode ‘correr mal’ na tentativa de medir intenções de voto”, afirma, em declarações ao PÚBLICO, o investigador e professor universitário Pedro Magalhães, que é em Portugal a maior autoridade sobre sondagens, alertando para a falibilidade dos estudos existentes.

A precaução aconselhada por Pedro Magalhães vai ao ponto de frisar não só que as leituras autárquicas de sondagens sobre candidaturas concelhias podem falhar como faz questão de sublinhar que não devem ser feitas leituras nacionais destes estudos sobre candidaturas locais. “As sondagens conhecidas incidem sobre 15 de 308 concelhos, e o número máximo de sondagens em cada concelho é de três”, refere o investigador, para concluir: “Nada se pode inferir a nível nacional dessa informação.”

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Pedro Magalhães concretiza as dúvidas com o caso de três cidades, Matosinhos, Oeiras e Lisboa. Em relação à capital, refere que se conhece uma única sondagem, da responsabilidade da Universidade Católica e publicada pelo Jornal de Notícias, em que “os resultados estão na margem entre [o PS] perder e não perder a maioria absoluta”, pelo que conclui: “É uma base de informação insuficiente para sequer pensar que a perda da maioria absoluta é provável.”

Dúvidas que estende à sondagem sobre Matosinhos, feita também pela Universidade Católica e publicada pelo Jornal de Notícias, em que a vitória é atribuída a Luísa Salgueiro do PS. Bem como às duas sondagens sobre Oeiras disponibilizadas pela Marktest — “dão resultados completamente contraditórios”. Uma, da Consulmark, dá um resultado em torno da maioria absoluta a Isaltino Morais, que fica a mais de 20% de distância do segundo colocado, o actual presidente da câmara, o também independente Paulo Vistas. A outra, feita pela Eurosondagem, aponta para uma vitória de Isaltino, mas com uma vantagem de apenas cerca de 5% sobre Vistas, ficando ambos na casa dos 20%.

Explicando as dúvidas que coloca aos estudos de opinião conhecidos sobre as eleições de 1 de Outubro, Pedro Magalhães começa por alertar para o facto de haver “sondagens divulgadas com amostras de 300 inquiridos”. Razão pela qual considera que, “mesmo que não houvesse qualquer outra fonte de erro, uma amostra tão reduzida implica margens de erro muito elevadas, que certamente não respondem a questões sobre ‘maiorias absolutas’, por exemplo”.

O investigador adverte ainda para o facto de haver “casos de taxas de resposta apresentadas”, ou seja, a percentagem de “pessoas que teriam sido efectivamente contactadas para responder e que terão consentido em participar”, que são “de 85%”. Isto, na opinião de Pedro Magalhães, “é um valor completamente implausível, de tão elevado, sugerindo a possibilidade de que os responsáveis nem sequer conheçam ou saibam medir correctamente o conceito”, o que, afirma, “é preocupante”.

Por último, Pedro Magalhães considera que “continua a haver nas sondagens uma fixação com ‘o resultado’, na medida em que este seja comparável com um resultado eleitoral”. Simultaneamente, há “pouca preocupação com aspectos complementares”, os quais não apenas não são divulgados como nem sequer foram questionados.

Entre os “aspectos complementares” que destaca, estão a “avaliação da actuação das câmaras”, a “simpatia em relação às lideranças” ou se “os que declararam intenções de voto são, de facto, prováveis votantes”. E ainda questões como “o grau de certeza ou indecisão nas suas intenções, ou no cruzamento entre a intenção de voto e aspectos fundamentais das predisposições dos eleitores, tais como a simpatia partidária ou o posicionamento ideológico.”