Governo espanhol envia 6000 reforços policiais para a Catalunha

Os agentes devem "actuar caso se mantenha o referendo ilegal". Concentrações independentistas continuam no centro de Barcelona.

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Dois Mossos na concentração junto ao Palácio da Justiça de Barcelona Susana Vera/Reuters

Madrid “decidiu mobilizar para a Catalunha unidades de reforço das Forças e Corpos de Segurança do Estado”, lê-se numa carta enviada esta sexta-feira pelo ministro do Interior, Juan Ignacio Zoido, ao conselheiro do Interior da Generalitat. Na verdade, segundo a imprensa espanhola, a maioria destes reforços já está na Catalunha. Ao todo, são 6000 agentes.

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Madrid “decidiu mobilizar para a Catalunha unidades de reforço das Forças e Corpos de Segurança do Estado”, lê-se numa carta enviada esta sexta-feira pelo ministro do Interior, Juan Ignacio Zoido, ao conselheiro do Interior da Generalitat. Na verdade, segundo a imprensa espanhola, a maioria destes reforços já está na Catalunha. Ao todo, são 6000 agentes.

As forças enviadas integram a polícia nacional e a Guardia Civil (paramilitar) e na missiva do ministro explica-se que estes agentes vão actuar em apoio do Corpos de Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, com 17 mil efectivos. A carta chega um dia depois das críticas feitas por Zoido à actuação dos Mossos, que estariam a evitar obedecer às ordens para “apreenderem urnas” e qualquer material destinado a preparar e celebrar o referendo de 1 de Outubro, suspenso pelo Tribunal Constitucional e considerado ilegal pelo Governo de Madrid.

Há duas semanas que estes agentes têm vindo a chegar em grupos à região, parte do chamado plano de Segurança para a Catalunha “para o referendo ilegal para a divisão de Espanha”, elaborado em segredo.

No caso da polícia, os agentes enviados são na sua maioria membros das Unidades de Intervenção Policial (UIP), conhecidas como antimotins – já chegaram à região 32 unidades de cerca de 50 membros cada. Quanto à Guarda Civil, estão na Catalunha ou a caminho membros dos Grupos de Reserva e Segurança (GRS). Foram ainda mobilizados agentes de áreas como Informação e Segurança Cidadã.

Para além dos Mossos, há em permanência na Catalunha cinco membros da Guarda Civil, com quartéis espalhados pela região.

Estes reforços, explica ainda o ministro à Generalitat, têm como funções “a vigilância do espaço público e a manutenção da ordem e actuarão caso se mantenha o referendo ilegal”. Nos últimos dias, desde a operação policial para deter membros do governo autonómico e outras pessoas ligadas à organização do referendo, e apreender toda a documentação ligada à consulta, o que se tem visto é guardas civis praticamente escoltados pelos Mossos, que abrem caminho entre concentrações de milhares de independentistas.

Alguns jornais mais próximos das posições de Madrid, como o El Mundo, têm dado conta de casos em que membros dos Mossos actuariam para “ajudar a Guarda Civil às escondidas das chefias”. Os sindicatos tinham tornado público que estão a receber muitas chamadas de membros do corpo catalão com dúvidas sobre como agir face a situações concretas, num cenário absolutamente excepcional.

Para alojar os reforços na Catalunha, o Governo alugou três cruzeiros já atracados nos portos de Tarragona e Barcelona – os estivadores destes portos decidiram entretanto não operar estas embarcações “em defesa dos direitos civis” dos catalães.

Entre tanta tensão e perante a escalada dos últimos dias, uma destas embarcações acaba de provocar uma vaga de piadas nas redes sociais. Trata-se do Moby Dada, que tem o exterior decorado com personagens da série de animação Looney Tunes, da Warner Bros: em concreto, o Piu Piu, o Coiote e o Silvestre.

No centro de Barcelona, junto ao Palácio da Justiça, continuam entretanto uma concentração em apoio aos detidos. Mais de duas centenas de manifestantes passaram mesmo ali a noite e já se vêem algumas tendas.

Universidade ocupada

Na quinta-feira permaneciam detidas 14 pessoas, quase todos altos cargos ou funcionários do governo regional, mas têm estado a ser postos em liberdade desde a manhã desta sexta: sabe-se que os primeiros seis libertados estão acusados de desobediência, prevaricação e desvio de fundos, mas não de insurreição, ao contrário do que acontece com o secretário-geral da Economia, Josep Maria Jové.

Jové foi entretanto destituído do cargo para não ter de pagar a multa de 12 mil euros diários a que está obrigado por ser considerado o responsável da coordenação do referendo (apesar de não ser garantido que a justiça o poupe mesmo assim aos pagamentos). Na quinta-feira, o Tribunal Constitucional já condenara os membros do Conselho Eleitoral formado pela Generalitat para o referendo ao pagamento de multas diárias.

A alguma distância do Palácio da Justiça (situado junto ao parque da Ciutadella), cerca de três mil estudantes concentraram-se na Praça da Universidade (vizinha da Praça da Catalunha), enchendo-a, para depois ocuparem o Edifício Histórico da Universidade da Catalunha, em defesa da consulta sobre a independência. Alguns edifícios da universidade foram entretanto encerrados para evitar uma ocupação maior, diz uma trabalhadora citada pelo El País.