Refugiados: “Ajudar, mas sem ideia do que fazer”
A sociedade civil alemã mobilizou-se para ajudar os refugiados, mas o verdadeiro desafio foi pôr em acção projectos eficazes.
Ana Alvarez veio da Costa Rica para a Alemanha em 2015, na mesma altura que mais de 800 mil refugiados, e enquanto esperava, também ela, para começar o curso de integração, voluntariou-se para ajudar e fazer consultoria pro bono.
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Ana Alvarez veio da Costa Rica para a Alemanha em 2015, na mesma altura que mais de 800 mil refugiados, e enquanto esperava, também ela, para começar o curso de integração, voluntariou-se para ajudar e fazer consultoria pro bono.
E viu que se a sociedade civil estava a ter uma enorme mobilização na ajuda a refugiados, “muitas pessoas não faziam a menor ideia do que estavam a fazer”, diz. Algumas viam o acto de ajudar como “o modo de ser o herói da aldeia”. Os refugiados estavam a ser como antes foi a ecologia, e antes outra coisa qualquer.
Foi pouco depois disso que se envolveu no Migration Hub, que acabou por tornar numa rede de empresas e projectos de empreendedorismo social. E que é difícil descrever porque o que lhe interessa não é ter uma definição fixa, mas sim ser “ágil e flexível” para qualquer desafio.
Ana Alvarez e Hannah Wurzel, as principais responsáveis, deixam claro que não estamos num co-working, apesar de ter um espaço de trabalho. A mais-valia da rede é o aconselhamento em termos de estrutura e facilitar contactos com especialistas em várias áreas. Está a ter sucesso considerável: a rede tem 23 membros, mas há 47 candidatos em lista de espera.
No espaço do Migration Hub, encontrámos Hugo Menino Aguiar, engenheiro português de 31 anos que deixou a Google em 2014 para se dedicar a tempo inteiro ao Speak, dedicado a línguas e trocas culturais, que faz agora parte desta rede.
Com presença já em sete cidades em Portugal, o Speak está agora a começar em Berlim e Turim, porque sendo locais cosmopolitas, com expats, estudantes, e startups, tem também um público-alvo nos refugiados, explica.
A ideia é que através de troca de sessões de línguas (não são aulas, e só há dois níveis), contribuir para o estabelecimento de uma rede de contactos, e social, para quem está num país estranho.
“Por exemplo, a Fattema chegou a Portugal e candidatou-se para ensinar árabe e aprender português”, diz. “E o que conseguiu foi não só isso mas uma rede de apoio informal que ajudou quando foi preciso tratar de coisas desde onde encontrar comida barata a inscrever-se no SNS ou a ter um fiador para alugar uma casa.”
Este é um exemplo, “mas não queremos dar a ideia de que alguém está a ser ajudado”, garante Hugo Aguiar. “Só criamos o ambiente bom para isso acontecer.”
Para se inscrever no site há várias hipóteses, desde ir a eventos únicos como ser buddy e ensinar uma língua, ou aprender. Eventos e aprendizagem são pagos (25 euros em Portugal, 29 em Berlim, por três meses), ou gratuitos, para quem ensinar também.
Agora Hugo Aguiar é ele próprio um estranho numa cidade onde não conhece a língua. Se vai aprender alemão? “Claro! Vou inscrever-me no Speak!”
Ao empenhar-se num projecto de apoio, Ana Alvarez acabou por encontrar, ela também, um modo de trabalhar e de se integrar. Diz que muitas pessoas lhe perguntam o que vai fazer quando “isto acabar”, a chegada de refugiados e imigrantes. Ela abana a cabeça. “Não vai acabar.”