O Circular aprofunda a relação com Vila do Conde – e continua a mergulhar no desconhecido

Entre estreias absolutas e nacionais, a 13.ª edição do festival recebe, a partir desta sexta-feira, criações de Martine Pisani, Miguel Pereira ou Joclécio Azevedo. E um concerto do Drumming em torno da obra de Jorge Peixinho.

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Há sempre coisas por fazer e por descobrir, mesmo quando se dinamiza um festival numa cidade pequena há mais de uma década. É o caso do Circular – Festival de Artes Performativas, que à 13.ª edição, a partir desta sexta-feira e até dia 30, olha para Vila do Conde, a cidade que o viu nascer e crescer, “de uma outra perspectiva, mais aprofundada”, afirma Paulo Vasques, director artístico do Circular juntamente com Dina Magalhães.

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Há sempre coisas por fazer e por descobrir, mesmo quando se dinamiza um festival numa cidade pequena há mais de uma década. É o caso do Circular – Festival de Artes Performativas, que à 13.ª edição, a partir desta sexta-feira e até dia 30, olha para Vila do Conde, a cidade que o viu nascer e crescer, “de uma outra perspectiva, mais aprofundada”, afirma Paulo Vasques, director artístico do Circular juntamente com Dina Magalhães.

Isso é claro em Relações Públicas, performance colaborativa em estreia absoluta no festival este domingo, no Teatro Municipal de Vila do Conde. Resultou de um projecto de longa-duração desenvolvido entre Maio e Setembro pelo coreógrafo Joclécio Azevedo, um dos artistas residentes da Circular Associação Cultural, em articulação com quatro estruturas do concelho: a Escola de Dança do Centro Municipal de Juventude, a Escola de Dança da JUM – Juventude Unida de Mosteiró, o Conservatório de Música de Vila do Conde e o grupo de teatro Camaleões. “Foi um trabalho que passou por dar a conhecer os nossos objectivos, por conhecer o modus operandi dos vários projectos, por muitos encontros e momentos de experimentação”, enquadra Paulo Vasques.

No fundo, é o cimentar da relação com a cidade, com a sua população e as suas associações culturais. “O Circular sempre estabeleceu essa ligação, mas curiosamente poucas vezes se associou a estruturas no terreno. Isso é revelador: havia aqui duas escolas de dança e nós nunca tínhamos feito um projecto com elas.” Essa inscrição no contexto” resultou também numa joint venture com o Drumming – Grupo de Percussão para recuperar o legado de Jorge Peixinho (1940-1995), um dos mais relevantes e internacionais compositores portugueses de música contemporânea, que durante anos manteve uma ligação estreita com Vila do Conde.

“Dava cursos de composição no conservatório, fazia tertúlias sobre a história da música aos domingos à tarde no centro paroquial e foi aqui que conheceu o Eduardo Luís Patriarca, seu discípulo, compositor que vive em Vila do Conde e é professor no conservatório”, explica Paulo Vasques. O concerto, marcado para dia 30 e antecedido, a 29, por uma conversa em torno de Jorge Peixinho, resgata algumas obras do compositor apenas ouvidas nas suas estreias e inclui a apresentação, em primeira mão, de uma peça encomendada pelo festival a Eduardo Luís Patriarca. Uma nova aventura para o Circular, que apesar de tudo sempre esteve próximo da música, mas numa dimensão mais performativa e experimental.

De resto, este é também o Circular do costume – o festival que faz questão de não perder o rasto a artistas que tem vindo a seguir (e a programar) ao longo dos anos. Martine Pisani, que passou por Vila do Conde em 2006 com o espectáculo Contrebande, está de regresso com a sua mais recente criação, Undated, co-produzida pelo Circular e apresentada no dia de encerramento do festival, 30 de Setembro, em estreia nacional. A coreógrafa francesa, que se destacou na cena da dança contemporânea europeia nos inícios de 2000 e que se apresentou várias vezes no Porto, convoca para este espectáculo intérpretes que a acompanharam nos seus 20 anos de trabalho, questionando como chegou até aqui, questionando a sua própria dança (e aquilo que virá a seguir).

Miguel Pereira é outro caso de cumplicidade – e de auto-interrogação. No solo Peça para Negócio, escolhido para a abertura desta edição, o histórico coreógrafo e bailarino português reflecte, com o humor que lhe é característico, sobre o seu percurso e o estado da experimentação artística num contexto capitalista e capitalizado, onde os próprios circuitos e calendários de criação, programação e apresentação estão reféns de rótulos e dinâmicas velocistas (para esta peça Miguel Pereira esteve em residência em Vila do Conde em finais do ano passado). No departamento dos jovens coreógrafos, o Circular acolhe, num programa duplo no dia 29, as novas criações de dois nomes que já passaram pelo festival enquanto intérpretes: o português Bruno Senune, que agora apresenta, em estreia absoluta, A Deriva dos Olhos, uma “pesquisa de formas de metamorfosear o corpo”, e a brasileira Ana Pi, que chega com Noirblue, “uma navegação atlântica de corpos periféricos”, em estreia nacional.

O programa desta 13.ª edição do Circular fica completo com a peça Nova Criação (dia 23), de Teresa Silva e Filipe Pereira, estreada há uma semana no festival Materiais Diversos, e com sim sim não não (dia 28), espectáculo de teatro de Maria Duarte, Sílvia Figueiredo e João Rodrigues construído a partir de To Tell a Story, a fascinante conversa de 1983 entre Susan Sontag e John Berger. O Circular leva este projecto ao espaço da mala voadora no Porto, em estreia absoluta, firmando assim uma parceria iniciada em 2014 com a companhia. E investindo, mais uma vez, nas apresentações em primeira mão – para a equipa do festival, os mergulhos no desconhecido são sempre bem-vindos. “Fazemos questão de nos associarmos a projectos sem conhecer os resultados”, assinala Paulo Vasques. “É preciso apoiar isso, abrir espaço à criação.”