Catalães já podem saber onde votar no referendo que Madrid promete impedir
Responsáveis da Generalitat detidos são acusados de "insurreição". Associações pró-independência prometem não sair das ruas e já há um pré-aviso de greve geral a partir de 3 de Outubro.
Um dia depois das operações policiais que terminaram com a detenção de pelo menos 16 pessoas, incluindo altos responsáveis da Generalitat, e passada uma noite marcada por momentos de tensão entre manifestantes e a Guarda Civil, os independentistas não deram sinais de recuo e garantem que o referendo sobre a independência vai mesmo acontecer a 1 de Outubro.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Um dia depois das operações policiais que terminaram com a detenção de pelo menos 16 pessoas, incluindo altos responsáveis da Generalitat, e passada uma noite marcada por momentos de tensão entre manifestantes e a Guarda Civil, os independentistas não deram sinais de recuo e garantem que o referendo sobre a independência vai mesmo acontecer a 1 de Outubro.
O vice-presidente do governo autonómico, Oriol Junqueras, chegou a dizer que as detenções e a apreensão dos boletins de voto e de outros materiais necessários para a consulta “alteraram as regras do jogo”, parecendo assim admitir que o referendo, a realizar-se, estaria longe do desejado pela Generalitat. Entretanto, de Madrid chegava a convicção que a consulta deixara de ser “materialmente” possível e sucediam-se convites ao diálogo.
Para quem duvidasse, a resposta chegou pelo Twitter e foi dada pelo presidente catalão, Carles Puigdemont, que ao final da tarde publicava o endereço da página da Internet onde os catalães devem ir para saber a que secção de voto se dirigir no dia do referendo.
Na quarta-feira chegaram a estar 40 mil pessoas nas ruas – algumas dormiram diante do Departamento de Economia do governo, impedindo por diversas vezes a saída dos agentes da polícia espanhola que se encontravam no seu interior. O ponto de concentração deslocou-se agora para o Palácio da Justiça – a Assembleia Nacional Catalã (ANC) e a Omnium Cultural (as duas organizações que mais promovem a causa da independência) garantem que a mobilização continuará até à libertação do último detido.
Dois dos 16 detidos foram libertados, mas os 13 membros da Generalitat permanecem sob detenção. O juiz que ordenou as detenções fez saber através do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha que vários responsáveis do governo catalão são acusados de “insurreição”. Prevaricação, desobediência e desvio de fundos públicos são os outros crimes que constam das acusações. O “número dois” de Junqueras e secretário-geral de Economia e Finanças, Josep Maria Jovè, que se considera ter estado a “gerir elementos fundamentais do referendo” depois da suspensão da convocatória pelo Tribunal Constitucional, é acusado de todos estes delitos.
O juiz que ordenou a operação contra a Generalitat está a investigar se os líderes catalães gastaram 6,2 milhões de euros na organização da consulta. Segundo o jornal El País, que teve acesso às ordens dadas por Juan Antonio Ramírez Sunyer à Guarda Civil, o juiz quer que os agentes “localizem, confisquem e ponham à disposição judicial” qualquer documentação relacionada com três pontos do Orçamento para 2017. Dois deles, um no valor de 400 mil euros, outro de 5,8 milhões, foram incluídos na apresentação do orçamento e Junqueras terá explicado na altura que se destinavam “a processos eleitorais e participativos”.
“Um povo unido”
“Não são delinquentes, são os nossos heróis”, foi um dos cânticos mais entoados ao longo do dia na concentração organizada pela ANC e pela Omnium, e por onde passaram vários deputados independentistas, incluindo a presidente do parlamento, Carme Forcadell, alguns membros da Generalitat e líderes partidários, como o secretário-geral do Podemos catalão, Alvando Dante Fachim.
O presidente da Omnium, Jordi Cuixart, agradeceu “ao povo da Catalunha que está a parar um verdadeiro golpe de Estado”. Xavier Domènech, deputado de En Comú Podem (coligação apoiada pelo Podemos), foi um dos mais aplaudidos. Na sua intervenção, dirigiu-se ao primeiro-ministro, Mariano Rajoy, avisando-o que “não sobreviverá à força de um povo unido”. A Omnium diz que levará impressoras para as mobilizações marcadas para todos os municípios da Catalunha no próximo domingo: “Por cada cartaz arrancado ou apreendido aparecerão outros 100”.
Rajoy pode ter a lei do seu lado e o apoio de dois dos maiores partidos da oposição, o PSOE e o Cidadãos. Mas nas ruas e não só promete-se continuar em modo de desobediência civil.
Os estivadores dos portos de Barcelona e de Tarragona, para onde Madrid enviou navios que deveriam alojar os polícias chamados a reforçar os agentes da região, decidiram em assembleia que não irão operar estas embarcações “em defesa dos direitos civis” dos catalães. E a central sindical CGT (Confederação Geral do Trabalho da Catalunha) apresentou um pré-aviso de convocatória de uma greve geral na Catalunha a partir de 3 de Outubro em protesto contra a actuação de um “Estado autoritário”.