“Temos uma semana de férias e passamos três dias no aeroporto”
Passageiros invadem Aeroporto do Porto à procura de respostas. Quem comprou uma viagem pela Ryanair, tem duas opções: ou remarca o voo ou pede um reembolso.
Judite Silva faz parte dos cerca de 315 mil passageiros que viram os seus planos alterados devido ao cancelamento de 2100 voos da Ryanair. Tal como os outros lesados, foi informada via correio electrónico que o voo tinha sido cancelado, mas o dela não consta na lista de ligações canceladas a 26 de Setembro.
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Judite Silva faz parte dos cerca de 315 mil passageiros que viram os seus planos alterados devido ao cancelamento de 2100 voos da Ryanair. Tal como os outros lesados, foi informada via correio electrónico que o voo tinha sido cancelado, mas o dela não consta na lista de ligações canceladas a 26 de Setembro.
“Tenho hotel reservado em Veneza”, afirmou Judite Silva que, antes de chegar ao Porto, passou por Dublin, rumando agora em direcção a Milão, onde vai apanhar o comboio para Veneza. “Se não chegar lá quando tinha planeado, vou perder a minha reserva e isso vai comprometer toda a viagem, que só termina em Bali”, explica. Judite Silva tentou remarcar o voo e apresentaram-lhe duas opções no balcão da Ryanair no Aeroporto Sá Carneiro: há um voo dia 24 e outro dia 26 ao final da tarde. Quando falou ao PÚBLICO, ainda não sabia o que ia fazer.
A decisão da companhia aérea em cancelar quase 50 voos diários até ao fim do mês de Outubro foi conhecida na passada sexta-feira, quando a Ryanair em comunicado afirmou que o cancelamento tinha como objectivo “melhorar o sistema de pontualidade”. Na segunda-feira, o presidente da Ryanair, Michael O’Leary, numa conferência de imprensa, pediu desculpa aos clientes lesados, explicando que o cancelamento dos voos se deveu, afinal, ao mau planeamento das férias dos pilotos, assumindo "toda a responsabilidade pessoal". "Não temos falta de pilotos. Houve uma falha na distribuição das férias e não temos uma reserva de pessoal suficiente para enfrentar os transtornos sofridos”, disse o presidente da Ryanair como resposta aos relatos da BBC que apontavam para a dificuldade da companhia aérea em recrutar pessoal, depois de ter perdido 140 de pilotos para a Norwegian Air.
Até esta quarta-feira, foram cancelados 20 voos de e para o Porto, sendo o Aeroporto Sá Carneiro o mais afectado, uma vez que a operação da Ryanair é maior nessa infra-estrutura.
"Na internet não dava para fazer nada"
Florbela Gomes Palhais, emigrante há 20 anos, vem todos os anos passar férias a Portugal. Este ano não foi diferente. Veio de avião, alugou um carro e foi para Mira, em Coimbra, de onde é natural. No dia seguinte à sua chegada, recebeu o email da Ryanair a informar o cancelamento do voo de regresso. “Pela internet só tínhamos viagem no dia 26 de Setembro”, começou por afirmar, explicando que tinha de estar em Montpellier antes desse dia. Assim, e tendo em conta que pela “internet não dava para fazer nada”, Florbela Gomes Palhais e o marido deixaram Mira rumo ao aeroporto do Porto na terça-feira.
Depois de seis horas na fila de espera, arranjaram voo para Toulouse no dia seguinte. Tinham de passar a noite no Porto e a Ryanair encarregou-se de marcar um hotel para o casal no centro da cidade. “Tinham dito que pagavam o hotel e depois de manhã tivemos de pagar 135 euros”, afirma. Por esquecimento, a companhia não enviou um email ao hotel a confirmar a reserva, tendo sido cobrado ao casal o valor do quarto. De volta à fila, “muito mais pequena” do que no dia anterior, Florbela Gomes Palhais esperava pelo reembolso do dinheiro. “Temos voo às 14h. Vamos fazer escala em Lisboa e, três horas depois, saímos em direcção a Toulouse, que não é o nosso destino. Não sei como vamos chegar a Montpellier”, referiu a emigrante, que numa situação normal iria para o Aeroporto de Marseille, a duas horas da cidade onde mora. “Temos uma semana de férias e passamos três dias no aeroporto”, lamentou, confessando que irá fazer uma reclamação à companhia.
Tal como aconteceu com o caso de Florbela Gomes Palhais, a Ryanair espera remarcar voos alternativos da companhia a mais de 175 mil passageiros até ao final desta quarta-feira.
Ryanair oferece 12 mil euros a pilotos
Na quarta-feira, à hora de almoço, a fila no balcão da Ryanair do aeroporto do Porto não tinha mais do que dez pessoas. Rafael Castro esperava para saber se a sua viagem a Londres ainda tinha hipótese de acontecer. “Tenho hotel e o voo de regresso por outra companhia reservado”, afirmou, alegando que não voltará a viajar pela Ryanair se a situação não se resolver da melhor maneira. Depois de falar com a funcionária da companhia, saiu da fila sem respostas. “Fiz o pedido de reembolso online e agora vou ter de esperar. Não me souberam dizer mais nada”, explicou.
Segundo Kenny Jacobs, a maioria dos pedidos dos passageiros com voos cancelados está a ser solucionada online. Contudo, tem existido alguns “erros no sistema”. De acordo com o que foi noticiado esta quarta-feira pelo Jornal de Notícias, milhares de passageiros estão a ser obrigados a pagar taxas de bagagem e de marcação de lugares que já tinham pago previamente, ou novas tarifas superiores às que pagaram. O responsável de marketing afirmou que as taxas serão reembolsadas.
Para diminuir o número de cancelamentos de voos, a Ryanair oferece 12 mil euros a comandantes e 6 mil a co-pilotos para voarem nas folgas. Os funcionários da companhia aérea que aceitaram a proposta têm de trabalhar dez dias de folgas entre o dia 15 deste mês e 31 de Outubro de 2018, devem completar mais de 800 horas de voos em 12 meses até Outubro de 2018, e não podem ter mais de quatro faltas não autorizadas.
Texto editado por Pedro Ferreira Esteves