Turquia ameaça curdos com sanções, se referendo for para a frente

Votação para a independência do território curdo no Iraque marcada para segunda-feira. Governo de Ancara vai tomar decisões antes.

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Recep Erdogan LUSA/JASON SZENES

O Presidente turco, Recep Erdogan, ameaçou impor sanções aos curdos do Norte do Iraque devido à realização de um referendo de independência — está marcado para segunda-feira, mas foi considerado inconstitucional pelo Parlamento de Bagdad. O objectivo é criar pressão económica depois da pressão militar; tropas turcas já foram estacionadas junto à principal fronteira comercial entre os dois países.

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O Presidente turco, Recep Erdogan, ameaçou impor sanções aos curdos do Norte do Iraque devido à realização de um referendo de independência — está marcado para segunda-feira, mas foi considerado inconstitucional pelo Parlamento de Bagdad. O objectivo é criar pressão económica depois da pressão militar; tropas turcas já foram estacionadas junto à principal fronteira comercial entre os dois países.

A maior população curda da região está na Turquia, que avisou que qualquer separatismo nos vizinhos Iraque ou Síria pode originar um conflito global. A Turquia deverá anunciar a sua resposta às movimentações curdas na sexta-feira, três dias antes do referendo.

Erdogan disse em Nova Iorque, onde está para a abertura da 72.ª Assembleia Geral da ONU, que o conselho de segurança nacional turco vai discutir as opções do Governo de Ancara. Vão “averiguar o tipo de sanções que podem ser aplicadas”, disse Erdogan.

As autoridades curdas iraquianas ignoraram as pressões internacionais para cancelar o referendo, que os vizinhos do Iraque receiam poder repercutir-se junto das comunidades curdas que têm nos seus territórios. Os aliados ocidentais dos curdos dizem que a votação, e o seu resultado, pode desviá-los da luta comum contra os radicais islâmicos do Daesh.

Cerca de cem tanques e outros veículos militares, apoiados por lança-rockets e radares, foram estacionados junto à fronteira, as armas apontadas para sul, para as montanhas curdas.

Mas esta movimentação militar teve, até agora, pouco impacto, mantendo-se as filas de camiões que querem atravessar a fronteira para o lado controlado pelo Governo Regional Curdo, no Norte do Iraque.

A Turquia, que durante anos foi a ligação entre este governo regional e o mundo exterior, construiu fortes laços económicos com a região semi-autónoma, que exporta diariamente para os mercados internacionais centenas de milhares de barris de petróleo através do oleoduto turco.

Erdogan não especificou que sanções irá aprovar, mas os camionistas à espera em Habur nesta quarta-feira disseram recear que as mercadorias que transportam se estraguem, caso o comércio nesta fronteira, crucial para a economia local, fique comprometido.

“Tenho quatro filhos, tenho 35 anos e não há outro trabalho ou fábrica na região”, disse o condutor de camiões Abdurrahman Yakti, que leva petróleo do Iraque para uma refinaria turca na província de Hatay.

“Estamos agrarrados a este trabalho. Se este portão se fecha, é a nossa desgraça.”

Ferhat, que há dez anos transporta carga seca, diz que se Habur se fechar o Sudeste da Turquia fica paralisado.

A demonstração de força na fronteira e a ameaça de sanções reflecte uma preocupação crescente com o referendo de segunda-feira e a possibilidade de este encorajar o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), banido, que desde 1983 trava uma luta armada pela autonomia da região curda da Turquia.

Erdogan disse que a determinação dos curdos em fazer um referendo de independência não teve em consideração o apoio que a Turquia deu até aqui à liderança do Governo Regional Curdo. “Era bom que eles levassem isso em consideração — disse Erdogan —, vamos divulgar as nossas decisões finais na reunião do Governo e do conselho de segurança nacional.”