Apelo à mobilização pela “democracia” em todos os municípios da Catalunha

A polícia nacional, a Guardia Civil, tem estado muito activa no cumprimento das ordens para evitar a realização do referendo, apreendendo boletins e listas de eleitores.

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A Procuradoria da Catalunha suspeita que os Mossos não estejam a cumprir as suas ordens Toni Albir/EPA

No dia em que Madrid decidiu lançar uma operação policial para impedir a consulta que a Generalitat quer organizar a 1 de Outubro, os primeiros autarcas chamados a prestar declarações recusaram fazê-lo. A Procuradoria catalã está preocupada com os Mossos, a polícia da Generalitat, temendo que estes não estejam a obedecer a ordens.

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No dia em que Madrid decidiu lançar uma operação policial para impedir a consulta que a Generalitat quer organizar a 1 de Outubro, os primeiros autarcas chamados a prestar declarações recusaram fazê-lo. A Procuradoria catalã está preocupada com os Mossos, a polícia da Generalitat, temendo que estes não estejam a obedecer a ordens.

Quase 10 milhões de boletins de voto apreendidos

São 9.894.350 os boletins de voto para o referendo de 1 de Outubro que a Guardia Civil apreendeu numa gráfica industrial de Bigues i Riells, na província da Barcelona. No mesmo lugar, a política encontrou cartazes onde se lia “Local eleitoral”, actas de constituição de mesas de voto e actas de listas numeradas de eleitores intituladas “Referendo de autodeterminação da Catalunha 2017. Desde a semana passada que a polícia estava de vigia a várias gráficas e sabe-se que já tinha confiscado, pelo menos, 100 mil cartazes de campanha. Também visitou jornais e rádios para os notificar das ordens judiciais que os impedem de difundir “propaganda ou publicidade relativa ao referendo de 1 de Outubro”.

Hospitais e escolas entre as 300 instituições sob vigilância

Quatro dias depois de Madrid ter colocado a gestão orçamental da Generalitat (Governo catalão) sob a sua tutela, o Ministério das Finanças enviou uma carta aos directores das associações bancárias explicando com mais detalhe como pretende conseguir a colaboração dos bancos para impedir gastos ou pagamentos relacionados com a organização do referendo. Nas instruções enviadas pelo ministro Felipe Martínez Rico inclui-se uma lista de 297 instituições públicas e privadas que se entende precisarem de um controlo especial, para que estes gastos não sejam feitos através das suas contas. Desta lista fazem parte agências ligadas à Generalitat que ali esperaríamos encontrar, da Agência Tributária da Catalunha às que tratam de temas como a água ou o turismo, mas também lá estão hospitais (incluindo o Instituto Catalão de Oncologia), universidades (todas as públicas), centros de estudo ou instituições culturais, como a Biblioteca da Catalunha, o Instituto de Arqueologia ou o Museu Nacional de Arte da Catalunha.

Primeiros autarcas chamados à Procuradoria recusam prestar declarações

São mais de 700 os presidentes de câmara da Catalunha (de um total de 947 municípios) que se disponibilizaram a participar no referendo de 1 de Outubro, com muitos a aprovar decretos em que afirmam o seu apoio à Generalitat e, consequentemente, o desafio às ordens do Estado central. A Procuradoria-Geral abriu uma investigação contra todos eles e a Procuradoria da Catalunha decidiu chamá-los a depor, um processo que se prevê irá prolongar-se durantes semanas ou mesmo meses. Os primeiros 16 a serem citados recusaram prestar declarações esta quarta-feira.

Mossos têm “assobiado para o lado”

A Procuradoria da Catalunha está descontente com a aparente falta de acção dos Mossos d’Esquadra (a polícia catalã) para evitar os preparativos da consulta. “Os Mossos assobiam para o lado e não estão a fazer nada”, dizem responsáveis do Ministério Público citados pelo El País. A semana passada, a procuradoria catalã chamou os representantes das várias polícias que actuam na Catalunha, incluindo chefe dos Mossos, Josep Lluís Trapero: todos receberam ordens para “apreenderem urnas” e qualquer material destinado a preparar e celebrar o referendo de 1 de Outubro. As várias unidades de polícia judiciária, por seu turno, devem reagir face a qualquer acto realizado por autoridades, funcionários ou “particulares em conivências com aqueles” dirigidos a preparar e celebrar o “referendo de autodeterminação ilegal”. Sabe-se que Trapero comunicou estas ordens aos chefes de todas as unidades, mas os agentes queixam-se de ter recebido indicações demasiado genéricas e os sindicatos até já criaram linhas especiais de apoio, tal é o número de telefonemas que recebem de Mossos com dúvidas sobre como agir perante situações concretas. Entretanto, o Ministério do Interior suspendeu as folgas de todos os polícias de serviço na Catalunha até depois de 1 de Outubro.

ANC apela a concentração no domingo

Os presidentes das duas organizações que mais têm feito pela promoção do independentismo pedem aos cidadãos para se concentrarem no domingo, dia 24 de Setembro, às 11h, diante de todos os municípios catalães. O apelo, do presidente da Assembleia Nacional Catalã, Jordi Sànchez, e do líder da Omnium Cultural, Jordi Cuixart, descrevem a necessidade de uma mobilização “em defesa da democracia”.

45 mil cartas apreendidas

Sabia-se que a Generalitat queria enviar cartas a 55 mil pessoas convocando-as para gerir as 6300 mesas eleitorais previstas para o referendo. Na quinta-feira, os Correios de Espanha tinham escrito aos directores dos balcões catalães “recordando” que não podem envolver-se na entrega ou recepção de documentos ligados ao referendo. A Guardia Civil fez saber que apreendeu mais de 45 mil envelopes guardados em caixas de cartão que o governo estaria pronto a enviar.