A noite eleitoral vai ser um clássico (ou dois)
As autárquicas estão para a política como a Taça de Portugal para o futebol — podemos achar que há vencedores antecipados, mas há sempre um resultado para nos surpreender.
Hoje arranca a campanha das eleições autárquicas e eu trago-lhe um desafio: ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a noite de 1 de Outubro não vai ser só um clássico (o tal Sporting-Porto de que já aqui falámos). Vai ser outro clássico, o da política cá da casa.
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Hoje arranca a campanha das eleições autárquicas e eu trago-lhe um desafio: ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a noite de 1 de Outubro não vai ser só um clássico (o tal Sporting-Porto de que já aqui falámos). Vai ser outro clássico, o da política cá da casa.
As autárquicas são as eleições mais difíceis de acompanhar. E nestas, à partida, não se vislumbram surpresas. Se fosse tudo assim tão simples, restava-nos o futebol. Mas não é, porque as autárquicas estão para a política como a Taça de Portugal para o futebol — podemos achar que há vencedores antecipados, mas há sempre um resultado para nos surpreender.
Vamos aos detalhes, que é onde tudo se joga. E passemos por cima de Lisboa, mesmo sabendo que o PS pode perder muitos votos face a 2013 e que a batalha à direita está mesmo taco a taco. Vamos, sim, ao Porto, onde a questão é a governabilidade: ao contrário de Medina, não será fácil a Moreira aguentar quatro anos sem maioria e sem parceiro. Vai uma aposta?
Entre os partidos, não aposte que Passos ficará, mesmo com uma derrota: imagine que o partido ainda perde mais câmaras face a 2013; ou que Porto e Lisboa ficam muito abaixo dos 20%. E, aí, como será? Já para o PS, estas eleições são como posar para as fotografias: o melhor é não se mexer, para não sair tremido. É que uma vitória retumbante põe em perigo o PCP. E uma derrota, a segunda de Costa no PS, neste caso não se resolve com “geringonças” e mal se remenda com remodelações. Não esquecer: logo atrás da porta vem a negociação do Orçamento.
Mas também vamos ter de olhar para o total de votos. Porque este é o último teste antes das legislativas, porque PS e PSD andam há anos a perder terreno no voto urbano, porque as coligações à direita já nem existem em Lisboa e Porto. E vale a pena ter atenção ao CDS: desde 2009 que o partido não se arrisca sozinho numa eleição nacional (e desta vez Lisboa assume esse estatuto).
Como se não bastasse, ainda vamos olhar para os dinossauros, os que regressam e os que se vão embora, para as divisões dentro dos partidos (no PS ainda há resquícios da guerra Costa-Seguro), para os independentes e os ex-independentes recuperados. E até para a desventura de Loures, que é um teste que dispensávamos, mas que é inevitável.
Por isso, prepare o comando da televisão: as autárquicas não terão a euforia de um Sporting-Porto, mas prometem um comentário que não se esgota num flash interview. Isso é garantido.