Repensar o envelhecimento
A estratégia que é hoje apresentada ao governo tem potencial para mudar tudo, ou quase tudo, na relação que hoje estabelecemos com a terceira idade. Com vinte por cento da população portuguesa acima dos 65 anos, era urgente traçar um plano para alterar esta constante promoção da juventude como ideal social. Até porque o número de idosos ainda vai aumentar: a esperança média de vida vai continuar a subir e não há imigrantes suficientes para dar vazão à necessidade de gente nova na pirâmide etária.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A estratégia que é hoje apresentada ao governo tem potencial para mudar tudo, ou quase tudo, na relação que hoje estabelecemos com a terceira idade. Com vinte por cento da população portuguesa acima dos 65 anos, era urgente traçar um plano para alterar esta constante promoção da juventude como ideal social. Até porque o número de idosos ainda vai aumentar: a esperança média de vida vai continuar a subir e não há imigrantes suficientes para dar vazão à necessidade de gente nova na pirâmide etária.
Esta corajosa estratégia que é hoje entregue ao Governo inverte todo o paradigma. A ideia passa a ser viver mais tempo, mas vivê-lo de forma activa e saudável, um direito que todos temos. E isso exige uma abordagem transversal que dê mais oportunidades aos séniores e que ponha o resto da sociedade mais preparada para lidar com essa faixa etária. Não basta abrir vagas na universidade sénior, é preciso preparar as universidades para lidar com estes novos estudantes. Não basta oferecer check-ups a quem passa a barreira dos 65 anos, é preciso garantir que eles os fazem e isso passa pelos médicos de família. Ou seja, a adopção desta estratégia exige um repensar de toda a estrutura da sociedade, que tem de se orientar mais para os mais velhos que vamos ser. E o plano também vai por esse caminho, ao propor medidas como o combate à discriminação pela idade e na promoção de investigação sobre o envelhecimento – área em que Portugal pode investir de forma decisiva como factor distintivo a nível internacional.
Todo este trabalho terá agora de ser acompanhado dos problemas de fundo: como é que se vai financiar um sistema de saúde e pensões desequilibrado em termos etários? Como é que se vai rentabilizar para o país a experiência e conhecimento dos cidadãos mais idosos? Como é que se vai fornecer novas competências aos cidadãos idosos que queiram e possam continuar activos? Como é que isso que relaciona com uma digitalização da sociedade e do trabalho em que apenas as capacidades criativas serão valorizadas?
São perguntas que não têm resposta para já, mas que serão o inevitável passo seguinte desta estratégia. Assim ela seja aceite pelo governo e acolhida pelas outras forças políticas, para que não seja mais uma medida que se muda ao sabor dos mandantes e que não se consegue tornar estrutural.