Medina mostra as casas que já fez para os pobres e promete-as à classe média

O socialista arrancou a campanha a falar de habitação. No Bairro Padre Cruz mostrou as casas que já estão a ser construídas, no centro falou dos projectos de renda acessível. E ainda deu um pulo ao Beato, onde houve a primeira enchente.

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Fernando Medina entra num café, dá beijinhos a duas senhoras e encosta-se ao balcão, mangas de camisa arregaçadas e casaco atrás das costas. É Hugo Marques, presidente da Associação de Moradores das Vilas Operárias do Beato, que faz campanha agora. “Acredita na família, não acredita? Acredita que estes são os senhores certos, não acredita?”, pergunta o dirigente a uma das mulheres.

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Fernando Medina entra num café, dá beijinhos a duas senhoras e encosta-se ao balcão, mangas de camisa arregaçadas e casaco atrás das costas. É Hugo Marques, presidente da Associação de Moradores das Vilas Operárias do Beato, que faz campanha agora. “Acredita na família, não acredita? Acredita que estes são os senhores certos, não acredita?”, pergunta o dirigente a uma das mulheres.

O candidato socialista só ao fim da tarde chegou à Vila Dias, no Beato, mas foi aqui que se sentiu o primeiro cheirinho a típica campanha eleitoral. Apareceu uma pequena multidão, munida de bandeiras e T-shirts a condizer, para ouvir da boca do actual presidente que a Câmara Municipal de Lisboa quer resolver os problemas daquela antiga vila operária, hoje muito degradada. A vila é propriedade privada, mas a autarquia está a tentar que a última venda seja anulada judicialmente e que as casas passem para as mãos do município. É o que desejam muitos moradores. “Deus queira que sim, que seja desta”, diz um homem barbudo ao autarca na soleira da porta do café.

Medina dedicou o primeiro dia da campanha às questões da habitação. Visitou de manhã o Bairro Padre Cruz, à tarde a Rua de São Lázaro e, por fim, a Vila Dias. Três formas de mostrar o trabalho feito e de argumentar subtilmente que não passou os últimos anos a olhar só para o centro da cidade, que se preocupou também com as periferias. “Não vos vamos deixar sozinhos”, disse aos habitantes da vila, garantindo que “se não for a bem, vai a mal”. Ou seja, se o tribunal não decidir a favor da câmara, esta avança para uma expropriação. A audiência gostou: houve aplausos entusiásticos e abraços como se já estivesse tudo resolvido.

Uma coisa que não está resolvida é a falta de habitação para a classe média. Medina sabe-o, mas crê ter encontrado a fórmula que funciona: o Programa de Renda Acessível (PRA), com o qual prevê disponibilizar seis mil casas com rendas abaixo dos preços actualmente praticados no mercado. O candidato compromete-se, para já, com esse número, mas o objectivo a longo prazo, ainda sem data definida, é que haja 20 mil fogos neste regime. Isso teria “um impacto enorme” para “condicionar os preços do mercado”, disse Fernando Medina num debate com estudantes de arquitectura, pela hora de almoço.

Sentada ao lado, Helena Roseta aproveitou a ocasião para lançar um desafio que, disse, não resolve o problema totalmente, mas serve para “abrir a cabeça às pessoas”. “Porque é que a câmara não lança um concurso de ideias nas universidades para saber o que fazer com mil e tal casas vazias?”, questionou a candidata e presidente da assembleia municipal, incitando os estudantes a juntarem-se e a “inventar coisas novas”. “A malta jovem tem de se organizar”, atirou.

Cerca de uma hora mais tarde, acompanhado por jovens com T-shirts que diziam “Queremos viver em Lisboa”, Medina conduziu a comitiva a uma antiga fábrica de tecidos e estofos na Rua de São Lázaro para mais uma vez falar do PRA. É naquele espaço amplo, de grandes janelas verdes que deixam entrar a vista da Graça e do Castelo, onde ainda há cassetes de Cat Stevens nas prateleiras e rolos de tecido espalhados pelo chão, que vão nascer as primeiras 126 casas do programa. “O que nos interessa é que a cidade tenha oferta de renda acessível”, frisou o socialista, referindo-se à disponibilidade da autarquia em trazer outras entidades para o PRA, como a Santa Casa e o Estado.

A relação com a Santa Casa tem sido profícua, pelo menos a julgar pelo que se viu no Bairro Padre Cruz, manhã cedo. Há dois anos, a autarquia e a instituição liderada por Santana Lopes abriram ali um edifício intergeracional: tem creche, centro de dia, residências assistidas para idosos, espaços abertos ao público. “Esta é um dos modelos mais felizes”, disse Medina no meio do recreio onde uns miúdos pedalavam em triciclos.

No Padre Cruz, o maior bairro social da Península Ibérica, além deste equipamento – que o socialista quer replicar noutros locais da cidade –, estão a ser construídas 500 casas novas com “nível elevado de acabamentos e eficiência energética”. A visita a um dos apartamentos, ainda por estrear, serviu a Medina para referir o “investimento excepcional” feito neste mandato em habitação social e para mandar uma das poucas farpas políticas do dia. Ao contrário do que diz Assunção Cristas, afirmou o autarca, não é possível atribuir todas as casas camarárias actualmente vazias. “É de quem não tem noção, de quem verdadeiramente não conhece a realidade.”