Facebook permitia publicidade direccionada a anti-semitas
Anunciantes podiam criar publicidade para pessoas que se diziam interessadas em temas como “ódio a judeus” ou “como queimar judeus”, revelou uma investigação jornalística.
O Facebook está a rever o seu sistema de publicidade segmentada depois de uma investigação jornalística ter descoberto que a rede social permitia criar anúncios destinados a utilizadores assumidamente anti-semitas.
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O Facebook está a rever o seu sistema de publicidade segmentada depois de uma investigação jornalística ter descoberto que a rede social permitia criar anúncios destinados a utilizadores assumidamente anti-semitas.
Num exercício de teste, a ProPublica, uma organização norte-americana de jornalismo de investigação, fez-se passar por um anunciante que pagou 30 dólares ao Facebook para ver se era possível criar anúncios destinados aos grupos de utilizadores que incluem nos interesses temas como “ódio a judeus” ou “como queimar judeus” (há cerca de 2300 registados na rede social).
O número de utilizadores era, porém, muito pequeno para a rede social autorizar o processo, mas a plataforma deu algumas sugestões.O sistema automático do Facebook propôs um grupo de pessoas que gosta do tema “o Hitler não fez nada de errado” (tinha cerca de 15 utilizadores) e o grupo de pessoas interessado na segunda emenda da Constituição Americana (que estabelece o direito de porte de armas), que reunia 119 mil pessoas. De acordo com a ProPublica, o sistema automático do Facebook parece associar indivíduos com interesses anti-semitas a pessoas que querem comprar armas.
Com a inclusão daqueles grupos e das pessoas interessadas no Partido Nacional Democrata da Alemanha (um grupo ultranacionalista com mais de 194 mil utilizadores no Facebook), a publicidade falsa foi finalmente aceite. No total, o processo demorou cerca de 15 minutos.
Antes de a ProPublica publicar os seus resultados, contactou a rede social que – além de negar o conhecimento da possibilidade de dirigir anúncios a grupos de ódio – já retirou várias categorias de anúncios anti-semitas, bem como pessoas que se descreviam como anti-semitas.
“Há alturas em que o conteúdo na nossa plataforma não segue os nossos valores”, disse Rob Leathern, o director de produto do Facebook em resposta à investigação da ProPublica.
Num comunicado publicado ontem, a rede social nota que, após a denúncia da ProPublica, detectou uma “pequena percentagem de pessoas que introduzia respostas ofensivas que violavam as políticas do Facebook” na informação de perfil. Os utilizadores em questão já foram retirados da rede social. Cerca de 470 eram contas falsas.
O Facebook acrescenta que o número de utilizadores envolvidos em campanhas contra judeus foi pequeno. “Dado que o número de pessoas nestes segmentos era incrivelmente pequeno, apenas um pequeno número de pessoas teve acesso a publicidade anti-semita”, lê-se no comunicado.
Porém, de acordo outra investigação, do Congresso Mundial de Comunidades Judaicas uma publicação com conteúdo anti-semita é publicada nas redes sociais a cada 83 segundos (ao longo de 2016, foram criadas mais de 382 mil publicações do género).
“Sabemos que temos muito trabalho para fazer, por isso também estamos a criar novas medidas de segurança no nosso produto e a rever o processo de criação de anúncios”, admite Rob Leathern.
Nos últimos tempos, a secção de publicidade do Facebook concitou a atenção mundial pelos piores motivos. A plataforma admitiu a semana passada que foram gastos cerca de 100 mil dólares (84 mil euros) em milhares de anúncios que divulgavam informação falsa sobre temas como a imigração ou os direitos humanos, entre Junho de 2015 e Maio deste ano. Parte dos anúncios teve origem na Rússia.
A rede social aproveitou a situação para recordar os utilizadores que "proíbe expressamente o ataque de pessoas com base nas suas características, incluindo a religião, e proíbe anunciantes de discriminar pessoas com base na religião e outros atributos”.