Quem rege a Economia como ciência social?
Se os economistas por vezes falham, a política económica também falhará e nem sempre pode ser condenada.
A necessidade de se repensar a Economia como ciência social é imperativa para que esta se adapte à constante mudança de expectativas, ideologias, progressos tecnológicos e tudo aquilo que se renova. Defendo e sempre defendi a Economia como a ciência não só dos números ou dos modelos, mas sobretudo do pensamento crítico, racional e adaptativo. Onde, por um lado, se lida com seres racionais, agentes, mas também com números e paradigmas cada vez mais sustentados por modelos econométricos e matemáticos.
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A necessidade de se repensar a Economia como ciência social é imperativa para que esta se adapte à constante mudança de expectativas, ideologias, progressos tecnológicos e tudo aquilo que se renova. Defendo e sempre defendi a Economia como a ciência não só dos números ou dos modelos, mas sobretudo do pensamento crítico, racional e adaptativo. Onde, por um lado, se lida com seres racionais, agentes, mas também com números e paradigmas cada vez mais sustentados por modelos econométricos e matemáticos.
Onde encontramos o balanço? Desde a crise de 2008 que os economistas, leia-se, macroeconomistas, foram severamente criticados pelo impacto que a crise teve, partindo dos mercados financeiros e tendo devastado qualquer equilíbrio monetário e social. No fundo, ao que parece, a atual geração de economistas faz parte de um conjunto de indivíduos educada na base de modelos vazios e pouco incisivos que nada ou pouco dizem sobre a realidade. Se os modelos não funcionam e as previsões saem furadas, nós não andamos aqui a fazer nada. Somos instruídos sem a capacidade de indicar e reformular políticas económicas cuidadas e eficazes, embora eu acredite que não andamos a responder mal. Andamos, sim, a responder bem às perguntas erradas.
Mas todo o repensar da economia não serve apenas para fazer previsões, chegando então o momento de refletirmos para que se possam colocar as questões certas de forma a que estas se coadunem com as tais respostas. Parafraseando um recente artigo da The Economist — o objetivo de colocar questões hipotéticas na educação da economia, como “e se?” ou “assumindo que”, não é fazer previsões. É sim estender o pensamento, organizar ideias, recolher possíveis soluções que estarão sempre associadas a uma probabilidade de brilhar ou de falhar, na formulação de políticas económicas futuras. Mas quem lidera, então, a economia e suas políticas, hoje em dia?
Recentemente, a Chicago Booth Review publicou um interessante e extenso artigo intitulado “Have central bankers lost their power? (em português, “Perderam os bancos centrais o seu poder?”), advogando para a evidência da perda de poder e de controlo por parte destas entidades nas políticas monetárias que se revelam muitas vezes infrutíferas. Porém, no cerne da questão está a ideia de que cada vez mais é difícil por parte dos economistas e destas entidades emitir uma recomendação de política macroeconómica que ainda seja ouvida pelos países e acautelada de acordo com as suas necessidades. Em primeiro lugar está o poder político, que continua a influenciar fortemente a decisão de políticas económicas destas instituições. Particularmente na zona euro, onde existe uma política monetária independente e recomendável para todos os seus membros, a política fiscal continua ainda a ter o seu centro de decisão nos governos de cada país. Adicionalmente, a constante ligação entre os indicadores macroeconómicos e os mercados financeiros é também um problema, tendo em conta que estes são sensíveis a variações no global da economia e ressentem-se de choques/políticas monetários e expectativas, criando um impacto desmedido com um efeito dominó. Ilustrações e apresentações são bem dispensáveis depois de, na primeira pessoa, termos vivido a crise financeira de 2008 e, por conseguinte, da dívida pública. E, nestes casos, quando o mundo espirra, nomeadamente fortes economias como a americana e alemã, países como Portugal constipam-se.
Uma pequena economia aberta estará sempre, friso o sempre, dependente do exterior e de variações exógenas. É também aqui que se volta a falar numa possível união fiscal como o próximo, e importante, passo na integração da zona euro, aumentando a inclusão e tentado proteger os países mais pequenos contra choques assimétricos nas economias. Fica então por saber, com a alegada perda de poder destas entidades, o que rege a economia atualmente. Ainda serão estas entidades capazes de emitir políticas e recomendações eficazes, deixando a economia atuar como ciência social através de expectativas, ou será o interesse particular de cada instituição politica e/ou financeira?
Para responder a esta questão, resta-nos voltar à discussão principal: a de repensar a política económica. Como em muitos campos científicos, na economia são tomadas milhões de decisões a cada hora por outros tantos milhões de agentes. Desta forma, nunca será uma ciência exata e exemplar onde as decisões tomadas com base nesta estarão sempre corretas. E se os economistas por vezes falham, a política económica também falhará e nem sempre pode ser condenada. Não podemos simplesmente comparar uma linha de montagem mecânica baseada na repetição e na mestria a uma ciência que envolve mais premissas e debates do que aquilo que as nossas mãos podem contar. Podemos, porém, usar a teoria, o cálculo e a experiência para adaptar todo o conhecimento e a base de uma ciência ao mundo real e à formulação das suas políticas.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico