Assinalar notícias falsas no Facebook tem pouco impacto, alertam investigadores

Em alguns casos colocar avisos sobre notícias com "informação contestada" teve o efeito contrário. Em particular com jovens entre os 18 e os 25 anos, e os fãs das políticas de Donald Trump.

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O Facebook questiona a metodologia do estudo LUSA/PETER DASILVA

Os muitos esforços do Facebook para combater notícias falsas não estão a ajudar os norte-americanos a avaliar a informação que lêem. Um estudo recente da Universidade de Yale, baseado em inquéritos online a mais de 7500 pessoas nos EUA, mostra que as estratégias implementadas pela rede social desde Dezembro de 2016 (como recrutar verificadores de factos de outras organizações, colocar avisos em informação disputada, e dar mais ênfase ao órgão de comunicação responsável pelas notícias) têm pouco impacto. Pior – em alguns casos, têm o efeito contrário.

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Os muitos esforços do Facebook para combater notícias falsas não estão a ajudar os norte-americanos a avaliar a informação que lêem. Um estudo recente da Universidade de Yale, baseado em inquéritos online a mais de 7500 pessoas nos EUA, mostra que as estratégias implementadas pela rede social desde Dezembro de 2016 (como recrutar verificadores de factos de outras organizações, colocar avisos em informação disputada, e dar mais ênfase ao órgão de comunicação responsável pelas notícias) têm pouco impacto. Pior – em alguns casos, têm o efeito contrário.

Os investigadores descobriram que assinalar apenas algumas notícias como tendo “informação contestada” aumentava a probabilidade de alguns grupos de inquiridos acreditarem em notícias falsas. Isto acontecia por ser criada a expectativa de que todas as notícias com informação duvidosa estivessem assinaladas, o que não acontece. O Facebook tem uma parceria com algumas organizações de verificações de factos, mas estas não têm a capacidade de classificar todas as notícias.

O problema era mais frequente se os utilizadores eram fãs das políticas de Donald Trump, ou pertenciam à faixa etária dos 18 aos 25 anos. “A forma mais fácil de explicar é que a ausência de um aviso aumentava a percentagem de notícias falsas em que os apoiantes do Trump acreditavam de 18,5 para 20,3%”, resume um dos autores, David Rand, ao PÚBLICO. Já nos menores de 26, a percentagem de notícias falsas em que os participantes acreditavam subia mais de quatro pontos percentuais.   

No geral (sem olhar a grupos específicos), porém, presença dos avisos levava a um aumento de 3,7 pontos percentuais da percentagem de participantes que conseguia identificar uma notícia como falsa. Para os autores é uma percentagem pouco significativa.

“Os resultados levantam questões sobre a eficácia das estratégias de combate online às notícias falsas”, escrevem os autores David Rand e Gordon Pennycook nas conclusões do relatório. “Infelizmente parece que há um pequeno efeito de ‘ricochete’ quando as notícias falsas não têm avisos, porque são vistas como mais precisas. Isto sugere que assinalar as notícias com avisos pode causar mais danos do que benefícios”.

Outra das conclusões dos autores é que aumentar a enfase do logótipo do órgão de comunicação social responsável por um artigo não tem qualquer impacto na capacidade dos participantes avaliarem a veracidade de uma notícia.

Para chegar aos resultados, os investigadores mostraram um conjunto de 24 notícias que foram postadas no Facebok entre 2016 e 2017, metade das quais eram falsas. O Facebook questiona a metodologia do estudo. "Isto é um estudo escolhido por pessoas que estão a ser pagas para responder a perguntas num inquérito; não são dados reais de utilizadores do Facebook", nota um porta-voz da empresa, em comunicado. 

Além disso, o estudo não passou pelo processo de peer review em que é avaliado por especialistas que fazem relatórios anónimos sobre o artigo, ditando se é aceite ou não numa revista científica. A rede social acrescenta que a verificação de factos é apenas parte da solução do Facebook contra factos incorrectos: “[A resposta do Facebook] inclui eliminar o proveito financeiro dos spammers, construir novos produtos, e ajudar as pessoas a fazerem escolhas mais conscientes sobre o que lêem, aquilo em que confiam e que partilham."

Para os investigadores de Yale não é o suficiente. Os resultados mostram que “mudanças ‘cosméticas’ na forma como os títulos das notícias são apresentados na rede social não são eficazes o suficiente para combater as notícias falsas. São necessárias soluções mais fundamentais”.

Quanto questionados sobre essas soluções pelo PÚBLICO, Rand diz não ter “uma boa respostas”, em parte, devido à reticência da rede social em divulgar informação. “O primeiro passo para o Facebook é partilhar mais informação e dados com a comunidade de investigação”, nota Rand.

O investigador de Yale acrescenta que embora o estudo se foque apenas na população dos EUA, "em princípio" a conclusão de que os avisos não funcionam porque é impossível avaliar todas as notícias na rede social, pode-se aplicar a qualquer população.

A luta da rede social contra a predominância de informação falsa não tem sido fácil. No início do Setembro o Facebook admitiu ter descoberto que durante quase dois anos houve anúncios facciosos (alguns com origem na Rússia) a circular na rede social, sobretudo nos EUA.