Carris atrasa recuperação de passageiros nos transportes públicos
Dados do primeiro semestre das transportadoras mostram crescimento no número de utilizadores. Carris está a caminho mas ainda não inverteu tendência. CP e Metro de Lisboa registaram as maiores subidas.
As empresas de transportes públicos estão a conseguir recuperar das perdas de passageiros que as atingiram nos anos mais agudos da crise, mas a ritmos diferentes.
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As empresas de transportes públicos estão a conseguir recuperar das perdas de passageiros que as atingiram nos anos mais agudos da crise, mas a ritmos diferentes.
No primeiro semestre deste ano, de acordo com os dados recolhidos pelo PÚBLICO junto das empresas, a Carris ainda sofreu uma ligeira descida, de 0,8% em termos homólogos, chegando aos 61,9 milhões de viagens.
Do lado oposto estão a CP e a Metro de Lisboa, com crescimentos semestrais de 7,5% (para 60,2 milhões) e de 7,3% (81,3 milhões).
Ao todo, as empresas públicas que operam neste sector (CP, Metro de Lisboa, STCP, Metro do Porto e Transtejo, além da Carris, que desde Janeiro está na esfera da Câmara de Lisboa), registaram uma subida de 2,5% entre Janeiro e Junho deste ano, atingindo 536 milhões de viagens. Junte-se aqui o grupo Barraqueiro, o maior operador privado ligado aos transportes públicos colectivos (dono de treze empresas rodoviárias com serviço público, e responsável pela Fertagus, concessionária da ligação ferroviária Lisboa-Setúbal pela ponte 25 Abril), e o crescimento passa a ser de 2,2%, de 637 para 650,5 milhões de viagens.
Rodovia mais com dificuldades
Com serviços fora das grandes zonas urbanas de Lisboa e do Porto, que têm beneficiado do enorme crescimento do turismo, a vertente rodoviária da Barraqueiro tinha vindo a perder clientes nos últimos anos. Em 2016, a descida foi de 1,6%, mas nos dois anos antes aproximou-se dos 7%. Agora, de acordo com fonte oficial do grupo de Humberto Pedrosa, falta perceber se a ligeira recuperação deste semestre (0,8%), “ainda não significativa”, é algo que se confirma nos próximos meses.
Por parte da Carris, a empresa liderada por Tiago Lopes Farias diz que se tem assistido a uma “tendência de inversão” da descida de passageiros, “que tem vindo progressivamente a tornar-se mais notória ao longo dos últimos meses”. Os dados “relativos ao acumulado de Janeiro a Agosto deste ano provam que é já notória uma inversão da tendência de perda”, assegura a empresa. Nesse período, e tendo em conta que as informações de Agosto são ainda provisórias, a descida foi de 0,06%.
Se o número de passageiros foi afectado negativamente nos últimos anos por factores como o elevado desemprego e emigração que se seguiram à entrada da troika de credores em Portugal, em 2011, bem como a redução da oferta e aumentos tarifários, agora é a vez da recuperação do emprego, e dos rendimentos, bem como do crescimento do número de turistas, impulsionarem o processo de recuperação.
No entanto, e tendo em conta os últimos dados anuais, os valores globais, com ou sem Barraqueiro, estão ainda abaixo dos de 2012 (e muito aquém de 2011).
Metro de Lisboa no topo
O metro de Lisboa não só teve o segundo maior crescimento do sector no último semestre como é a empresa de transporte público com mais utilização, tendo chegado aos 153 milhões de viagens (um passageiro fará mais do que uma deslocação) em 2016 e aos 81,3 milhões entre Janeiro e Junho deste ano. Com maior movimento nas linhas Amarela e Azul (por esta ordem), e nos horários das 7h30 às 9h30 e das 17H às 20h, a empresa refere que a maior subida ocorreu nos títulos ocasionais, principalmente em termos de receita (que superou as previsões e atingiu os 53,2 milhões de euros). Não obstante as várias interrupções de serviço nas linhas e redução do número de carruagens disponíveis, a empresa presidida por Vítor Manuel dos Santos refere que a tendência de crescimento começou a verificar-se já “no segundo semestre de 2014”.
Recorde no Porto
No caso da CP, a empresa pública diz que se tem verificado um “crescimento contínuo de passageiros” desde o último trimestre de 2013 e que isso resulta da “atenção especial” dada aos clientes dos vários segmentos, como o das “viagens de lazer e turismo, quer de cidadãos nacionais, quer de estrangeiros em visita ao nosso país”. Olhando para os dados disponíveis da CP, agora presidida por Carlos Gomes Nogueira, foi nos serviços urbanos de Lisboa que se verificou a maior subida entre Janeiro e Junho deste ano, chegando aos 8,1% (para 40,9 milhões de viagens).
Aqui, é normalmente a linha que liga Cascais a Lisboa a que mais se destaca, mas é também uma das que precisa de novos investimentos. Em termos de receitas, a subida global da CP no primeiro semestre foi de 8%, para 119 milhões de euros.
Recorde no Porto
No Metro do Porto, as subidas mensais levaram a empresa liderada por Jorge Delgado a bater novos recordes, como no último mês de Maio, altura em que houve 5,6 milhões de validações. Analisando o conjunto do primeiro semestre, a subida foi de 4,8%, para 30,5 milhões de viagens. Os maiores contributos, segundo fonte oficial da Metro do Porto, vieram do “tronco comum às linhas Azul, Vermelha, Verde, Violeta e Laranja”, e, depois, da linha Amarela. Em termos relativos, segundo a mesma fonte, “destaca-se o crescimento da linha Violeta, que serve o aeroporto do Porto, com uma variação de 14%, ou seja, mais 80 mil validações”.
Já a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) viu o número de validações subir 6,4%, para 36,6 milhões, valores que, segundo a empresa, “confirmam, de uma forma definitiva, que se conseguiu inverter a tendência de perda de clientes que era uma constante ao longo dos últimos anos”.
Quanto às ligações fluviais entre as duas margens do Tejo, asseguradas pela Transtejo (e que agrega a Softlusa), o ano passado foi de crescimento, tal como o primeiro semestre, com destaque para a ligação Lisboa-Cacilhas.
Segundo os dados da empresa, que não deixa de destacar as “grandes dificuldades sentidas”, dado “o período de greves e a paralisação de várias embarcações para reparação”, entre Janeiro e Junho foram registadas 8,2 milhões de viagens, mais 3,8% face ao mesmo período de 2016. A manter-se este ritmo, o ano será o melhor dos últimos seis exercícios, mas ainda longe dos números de 2011.