Mealhada: o concelho menos endividado aguarda o dinheiro da Europa para investir
A autarquia fechou 2016 com uma dívida de 6098 euros. Oposição diz que esta política está a atrasar o investimento.
A Câmara da Mealhada é a menos endividada do país. O executivo tem vindo a reduzir a dívida e fechou mesmo o ano de 2016 a dever 6098 euros, o que dá uma média de 30 cêntimos por cada um dos seus 20 mil moradores. Um valor residual, quando se olha para o outro extremo da tabela: em Fornos de Algodres, a dívida é de 5947 euros por habitante.
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A Câmara da Mealhada é a menos endividada do país. O executivo tem vindo a reduzir a dívida e fechou mesmo o ano de 2016 a dever 6098 euros, o que dá uma média de 30 cêntimos por cada um dos seus 20 mil moradores. Um valor residual, quando se olha para o outro extremo da tabela: em Fornos de Algodres, a dívida é de 5947 euros por habitante.
Como é que a Mealhada chega este resultado? “Faz o que tem que fazer dentro das condições financeiras que tem”, assegura o actual presidente da autarquia e candidato à recondução, Rui Marqueiro. No entanto, da esquerda à direita, a oposição critica a maioria socialista e aponta a falta de investimento como a verdadeira razão para a autarquia não recorrer ao crédito. O presidente nomeia várias empreitadas no horizonte e acena com os fundos comunitários.
O candidato pela coligação PSD-CDS, Hugo Alves Silva, entende que “este presidente ficou refém de um argumento de zero euros de divida, zero euros de juro. Não fez obra”. A única área em que a autarquia gastou dinheiro foi em “autopromoção e festividades”, argumenta.
“Os municípios não se devem endividar. No entanto devem escolher onde devem fazer o seu investimento”, entende a candidata da CDU, Isabel Lemos. A também deputada municipal diz que a sua bancada fez várias propostas nas áreas da reabilitação urbana, da mobilidade e de acolhimento de animais errantes que “nunca foram seguidas”. Actualmente, o executivo da Mealhada é composto por quatro elementos do PS e três do PSD, todos sem pelouro.
O candidato do Bloco de Esquerda, Dilan Granjo, também começa por sublinhar que tem que haver responsabilidade no que toca a contas, mas entende que a Mealhada “não está a ter um progresso considerável”. O candidato aponta para carências nos serviços públicos, na mobilidade e diz que falta uma política de criação de emprego. “O concelho da Mealhada prefere vangloriar-se pelo facto de não ter dívida, mas é fácil não ter dívida quando também não se investe ao nível público”, acusa.
Intervenções no horizonte
Rui Marqueiro, que já tinha estado à frente da autarquia entre 1989 e 1999, rejeita que tenha havido pouco investimento. Está a decorrer “uma preparação muito acelerada para os financiamentos comunitários”, assegura, apontando para uma lista de intervenções de valores na casa dos milhões.
Entre projectos planeados ou adjudicados, estão na lista a construção de novos paços do concelho (4,9 milhões de euros), o plano de regeneração urbana (3,2 milhões), um novo mercado da Mealhada (3 milhões), o mercado da freguesia da Pampilhosa (1,5 milhões), a ETAR da Mealhada (3 milhões), a requalificação da Baixa urbana da Pampilhosa (2,4 milhões), entre outros. “Se posso fazer uma coisa pagando 15%, porque é que vou pagar 100%? Todos os municípios estão à espera do quadro comunitário”.
Hugo Alves Silva estima que, se os compromissos que estão assumidos forem levados a cabo, “a almofada financeira da câmara não chega ao final de 2018”. O social-democrata entende que o investimento programado “está desfasado da realidade e das necessidades de crescimento” da cidade.
Mas para Marqueiro, investimentos desta monta não são sinónimo de recurso à banca. “Temos o planeamento financeiro todo executado para o próximo mandato e não precisaremos, em princípio, de pedir financiamento”, prevê. “O candidato do PSD não tem experiência de autarquia, portanto diz coisas menos certas”, responde.
“Seis mil euros não é nada”
E o que significa ter um endividamento baixo? O catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Pedro Ramos, explica que, se for uma situação que se verifica pontualmente, não significa muito. “Pode haver alguma razão circunstancial para, num certo ano, não ter dívida. Se for sempre o menos endividado é um pouco absurdo”, considera o académico que foi director das contas nacionais do Instituto Nacional de Estatística e consultor do Eurostat. A dívida da Mealhada era de 10.588 euros em 2014 e de 15.233 euros em 2015.
E quanto ao valor actual? “6 mil euros não é nada”. A opção de não recorrer ao mercado é “um pouco estranha”. “Podemos resolver comprar uma casa sem nos endividarmos, se comprarmos só aos 80 anos. Depois, no dia seguinte, morremos”, ilustra. “É um pouco o que essas câmaras estão a fazer: se têm por política não se endividarem, acabam por ter os equipamentos demasiado tarde, quando os podiam ter mais cedo”.