Com Tancos na ordem do dia, Passos guina para a defesa europeia
Líder do PSD crítica silêncio de Costa sobre reforço da cooperação europeia, matéria que divide PS, BE e PCP
Com o ministro da Defesa sob o fogo da oposição - pelas declarações sobre ou roubo de material de guerra em Tancos, que fez numa entrevista em que pôs em causa a existência de um assalto -, o líder do PSD, Pedro Passos Colho, preferiu escolher como seu alvo principal o primeiro-ministro. Ou melhor, “o silêncio” de António Costa sobre o reforço da cooperação na defesa europeia, matéria em que os Estados-membros têm de tomar uma posição até ao final do mês sobre o papel que querem assumir neste domínio.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Com o ministro da Defesa sob o fogo da oposição - pelas declarações sobre ou roubo de material de guerra em Tancos, que fez numa entrevista em que pôs em causa a existência de um assalto -, o líder do PSD, Pedro Passos Colho, preferiu escolher como seu alvo principal o primeiro-ministro. Ou melhor, “o silêncio” de António Costa sobre o reforço da cooperação na defesa europeia, matéria em que os Estados-membros têm de tomar uma posição até ao final do mês sobre o papel que querem assumir neste domínio.
Numa visita ao Centro de Assistência Paroquial de Amora (Seixal), Passos Coelho não deixou de criticar o ministro da Defesa, Azeredo Lopes. “Por uma questão de princípio do PSD”, o líder social-democrata não pediu a demissão de Azeredo Lopes (“isso cabe ao chefe do Governo”), mas não deixou de lamentar a “situação caricata” de o ministro “aparecer em público a lavar as mãos” relativamente ao assalto a Tancos. Mas aquilo de que o líder do PSD queria mesmo falar era do reforço da cooperação europeia em matéria de defesa.
Em meados de Junho, os 28 chegaram a um consenso no Conselho Europeu para, no espaço de três meses, acordarem numa lista de critérios e compromissos, de modo a fazer avançar a cooperação europeia a nível de defesa. Esta lista permite que os Estados-membros que já estejam em condições de o fazer possam adiantar, sem demora, qual é a sua disponibilidade para participarem num novo mecanismo de cooperação na área da defesa, que passa ainda uma cooperação reforçada entre a NATO e a UE.
Segundo Passos Coelho, esta é que é “uma questão de Estado” e matéria “crítica e crucial” para o país e para a sua soberania. O presidente do PSD já tinha abordado o assunto no comício da Festa do Pontal, em Agosto, e na Universidade de Verão do partido, já no início de Setembro. Com o prazo estabelecido pelo Conselho Europeu para os Estados-membros tomarem uma posição a chegar ao fim, Passos coloca o tema no centro da oposição política ao Governo.
Passos Coelho deixou claro que o PSD defende a entrada do país neste novo quadro da defesa europeia e criticou António Costa por nada dizer sobre o assunto, exigindo ao primeiro-ministro que dê explicações ao país sobre esta matéria.
Questionado se o PSD está disposto a apoiar o Governo, caso este não obtenha, como se prevê, o apoio do PCP e BE, o líder do PSD respondeu que as posições do seu partido não dependem das decisões destas duas forças políticas. Não deixou, porém, de desafiar Costa a explicar se ainda tem apoio dentro da maioria parlamentar que suporta o Governo para avançar neste domínio e acusou o executivo de permanecer num "silêncio ensurdecedor e incompreensível".
Esta segunda-feira, contudo, em matéria de defesa nacional, o assalto a Tancos, conhecido há dois meses e meio, continuava a ser o assunto na ordem no dia. No domingo, CDS-PP e PSD já tinham exigido a presença de Azeredo Lopes na Assembleia da República, por este, na entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, perante a falta de provas visuais, testemunhais ou confissão, ter admitido a possibilidade de, "no limite, não ter havido furto nenhum". O CDS pediu mesmo a demissão do ministro.
Ao final da manhã desta segunda-feira, o ministro da defesa, através do seu gabinete, manifestava-se disponível para ir ao Parlamento, se “para tal fosse convidado”.
Só depois surgiram PCP e BE a concordarem com a ida de Azeredo Lopes ao Parlamento. Os comunistas dizem, porém, que esta presença só deverá acontecer se houver novidades, considerando mesmo irrelevantes as "suposições" do governante sobre o que aconteceu.
Quem recusou comentar as palavras do ministro foi o Presidente da República, que não deixou de voltar a exigir celeridade no “apuramento de factos e responsabilidades” do assalto a Tancos.
Quem também não comenta “por razões institucionais”, é o presidente da Comissão Parlamentar de Defesa Nacional, o social-democrata Marco António Costa. Mas não deixou de saudar a disponibilidade do ministro para ir ao Parlamento. Marco António Costa disse ao PÚBLICO que continua sem receber a informação pedida à Defesa sobre Tancos e revelou que uma audição ao ministro, marcada para esta segunda-feira, foi adiada para dia 20, devido a uma deslocação de Azeredo Lopes aos Estados Unidos.