A "Diada do sim" à independência da Catalunha está na rua

Mobilização ultrapassa a dos últimos anos, a três semanas do referendo que os independentistas querem realizar contra a vontade de Madrid e da Justiça.

Foto
No exterior da Casa Batllo, no Passeig de Gràcia Toni Albir/EPA

Como tem acontecido nos últimos anos, a marcha oficial da Diada, o feriado nacional catalão, arrancou quando eram precisamente 17h14 em Espanha (uma hora a menos em Portugal continental). Ao fim da manhã, já os 49 troços do percurso desenhado pela organização estavam repletos de gente à espera do momento para erguerem lonas e da ordem para avançar.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Como tem acontecido nos últimos anos, a marcha oficial da Diada, o feriado nacional catalão, arrancou quando eram precisamente 17h14 em Espanha (uma hora a menos em Portugal continental). Ao fim da manhã, já os 49 troços do percurso desenhado pela organização estavam repletos de gente à espera do momento para erguerem lonas e da ordem para avançar.

A ideia é formar um mais (+) no centro de Barcelona no ano da “Diada do Sim”, tema escolhido para a concentração que se realiza a menos de três semanas do referendo sobre a independência marcado pelos líderes catalães, um referendo que Madrid e a Justiça espanhola tudo farão para impedir.

1714, 11 de Setembro, o dia em que se celebra a derrota da Catalunha e a sua integração definitiva no reino de Espanha, o dia que os catalães escolherem para celebrar a sua nunca alcançada “nação”.

O objectivo deste ano, diz a Associação Nacional Catalã (ANC, principal organizadora da marcha, a par da Òmnium Cultural), é transmitir uma “mensagem positiva”, capaz de “somar todos” no caminho para um estado próprio – um objectivo difícil quando a Catalunha surge precisamente partida ao meio, entre os que defendem a consulta de 1 de Outubro e os que a consideram ilegal.

Foto
Um "castell" com as cores da Catalunha Albert Gea/REUTERS

O mais (+) forma-se através da multidão que transborda das ruas e se encontra no cruzamento da rua Aragó com o Passeig de Gràcia. A ANC quer que esta cruz seja “uma explosão de cor”. A grande força do independentismo, nos últimos anos, tem sido precisamente a de se apresentar como um projecto feliz, uma celebração do presente que promete um futuro melhor. Este ano, com o parlamento catalão partido quase ao meio sobre a consulta e as sondagens a darem conta da mesma divisão, a mensagem será mais difícil de passar, mas também se torna mais importante que nunca.

O + da soma dos catalães forma-se com a ajuda de quatro lonas de 16 por 16 metros, erguidas pelos manifestantes – quase 400 mil estavam pré-inscritos – e que a ANC quer que representem “os valores da paz, da democracia e do compromisso com a construção da nova República”. Longe do milhão e meio de pessoas que saíram à rua em 2012, dando ao independentismo um novo impulso, esta Diada junta, mesmo assim, mais gente que a dos últimos anos.

"Só queremos votar"

Vestidos a rigor, com a T-shirt amarelo fosforescente escolhida como farda deste ano e bandeiras independentistas na mão, catalães de Barcelona e não só (chegaram à cidade 18 autocarros vindos da região) acorreram à chamada da ANC e da Òmnium, os dois grupos que planeiam uma marcha que nos últimos anos se tornou num protesto anual pela independência e pelo “direito a decidir”. Muitos prepararam os seus próprios cartazes como aquele em que se lê: “Não somos delinquentes, só queremos votar”.

“Esta não é uma Diada qualquer”, disse o presidente da Generalitat, Carles Puigdemont. “Para nós não é uma opção que o referendo não se celebre”, afirmou ainda de manhã, sublinhando que o apoio massivo dos cidadãos, esperado para a Diada, é um reflexo de que “não pode haver marcha atrás”, apesar das medidas que o Governo de Mariano Rajoy possa tomar e das decisões que irão sair do Tribunal Constitucional (que vai considerar ilegal tanto a convocatória como a Lei do Referendo e a Lei da Fundação da Soberania, entretanto aprovadas pelos independentistas no parlamento catalão).

Puigdemont admitiu que continua a desejar um referendo negociado e não este que se prepara para fazer – um desafio ao Estado. Basta que o Governo central esteja disponível e os líderes catalães ainda quererem conversar sobre uma eventual consultada acordada entre Barcelona e Madrid, algo que Rajoy também descarta por considerar qualquer referendo inconstitucional. Assumindo parte da culpa na ausência deste diálogo, o líder do governo catalão imputou a Rajoy a responsabilidade principal, “por ser ele que não quer sentar-se à mesa para falar”.

Terça-feira vai voltar-se à política e aos tribunais, mas esta segunda-feira é mesmo dia de festa, uma festa que só acabará daqui a várias horas na Praça da Catalunha, entre discursos de deputados, muitos concertos e a festa habitual.