Governo birmanês desvaloriza cessar-fogo anunciado pelos rebeldes rohingya
Quase 300 mil refugiados chegaram já ao Bangladesh em apenas duas semanas. Crise no país ameaça transição para a democracia avisa o International Crisis Group.
Os rebeldes rohingya que a 25 de Agosto atacaram postos da polícia no estado de Rakhine, desencadeando uma feroz contra-ofensiva do Exército birmanês que já levou à fuga de quase 300 mil membros desta minoria muçulmana para o vizinho Banglahdesh, declaram um mês de tréguas para permitir o envio de ajuda aos civis encurralados pelos combates. Numa primeira reacção, um porta-voz do Governo avisou que não haverá negociações com “os terroristas”.
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Os rebeldes rohingya que a 25 de Agosto atacaram postos da polícia no estado de Rakhine, desencadeando uma feroz contra-ofensiva do Exército birmanês que já levou à fuga de quase 300 mil membros desta minoria muçulmana para o vizinho Banglahdesh, declaram um mês de tréguas para permitir o envio de ajuda aos civis encurralados pelos combates. Numa primeira reacção, um porta-voz do Governo avisou que não haverá negociações com “os terroristas”.
O anúncio do Exército de Salvação de Arração (ARSA), foi feito através do Twitter e assinado pelo alegado líder do grupo, Ata Ullah, mas não é claro o impacto que pode ter no terreno, onde as agências das Nações Unidas continuam a não conseguir entrar e onde se calcula que haja milhares de civis em fuga, sem acesso a comida ou abrigo.
O número de rebeldes terá aumentado significativamente desde Outubro, quando o grupo lançou o seu primeiro ataque em Rakhine. Mas não há não sinais de que o ARSA tenha sido capaz de montar grande resistência à contra-ofensiva militar – o Exército birmanês alega ter matado dezenas de guerrilheiros e as fotografias que divulgou do material apreendido mostram sobretudo armas de fabrico artesanal e machetes.
Os rebeldes apelam aos militares para que façam também uma trégua nos combates e às organizações humanitárias para que façam chegar rapidamente ajuda aos civis, “independentemente da sua etnia ou religião”. O Exército não reagiu oficialmente ao anúncio, mas um porta-voz de Aung San Suu Kyi, líder de facto do Governo birmanês, anunciou também através do Twitter: “Não temos como política negociar com terroristas”.
O Exército acusa os rebeldes de incendiarem aldeias e matarem os habitantes budistas e hindus de Rakhine (pelo menos 27 mil civis destas comunidades fugiram também aos combates), contrariando os relatos de muitos dos rohingya que continuam a chegar ao Bangladesh, dando conta de aldeias arrasadas e perseguições. Segundo as últimas informações, cerca de 294 mil pessoas chegaram até este fim-de-semana à região de Bazar Cox, porta de entrada no Bangladesh para os rohingya, o que levou as Nações Unidas a lançar um apelo de 77 milhões de dólares para financiar a assistência aos refugiados na zona.
A situação dos rohingya, minoria a quem a Birmânia não reconhece sequer a nacionalidade, está a colocar sob pressão Suu Kyi, Nobel da Paz pelo seu empenho na luta pela democracia na Birmânia. Mas o International Crisis Group (ICG) avisa que o conflito em Rakhine é já mais do que uma crise humanitária, ameaçando o processo de transição democrática iniciado há cinco anos e que permitiu ao Governo liderado por Suu Kyi assumir grande parte do poder que durante décadas esteve nas mãos da junta militar.