A nova verdade
A relação entre o aquecimento global e este tipo de fenómenos meteorológicos voltou a estar na ordem do dia.
A história pode começar nos Açores. Os furacões afetam os Açores em qualquer altura do ano, uma vez de dez a 20 anos. Porém, no mês de janeiro e desde 1850, apenas três furacões percorreram o Atlântico: a 4 de janeiro de 1938 (quando ainda não se atribuíam nomes próprios por ordem alfabética), de 31 de dezembro de 1954 a 4 de janeiro de 1955 (o furacão Alice), e a 15 de janeiro de 2016 (o furacão Alex). Tendo em conta toda a informação disponível, é possível dizer que este último foi bastante mais forte que os restantes.
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A história pode começar nos Açores. Os furacões afetam os Açores em qualquer altura do ano, uma vez de dez a 20 anos. Porém, no mês de janeiro e desde 1850, apenas três furacões percorreram o Atlântico: a 4 de janeiro de 1938 (quando ainda não se atribuíam nomes próprios por ordem alfabética), de 31 de dezembro de 1954 a 4 de janeiro de 1955 (o furacão Alice), e a 15 de janeiro de 2016 (o furacão Alex). Tendo em conta toda a informação disponível, é possível dizer que este último foi bastante mais forte que os restantes.
Depois dos furacões Katrina, em 2005, que afetou Nova Orleães, e do furacão Sandy, em 2012, que deixou Nova Iorque inundada já quase fora da época para este tipo de tempestades (final de outubro), a relação entre o aquecimento global e consequentes alterações climáticas e este tipo de fenómenos meteorológicos voltou a estar na ordem do dia. As reflexões são em grande parte convergentes — há um conjunto de fatores relacionados com as alterações climáticas que amplificaram as consequências: o nível do mar está mais elevado do que há algumas décadas; as temperaturas à superfície do oceano mas também já em profundidade, na trajetória do furacão, estão mais altas, levando a que a evaporação seja maior; com temperaturas do ar também mais elevadas, a tempestade consegue conter e transportar um volume de água muito superior.
A devastação de um furacão está relacionada com a forma como o território afetado foi planeado e ordenado, e como medidas de prevenção, que habitualmente designamos por adaptação a este tipo de eventos incluindo de uma forma as alterações climáticas, foram ou não implementadas. Ao mesmo tempo, a resposta preventiva e atuação da proteção civil são determinantes na redução da mortalidade. As consequências são geralmente mais dramáticas quando o grau de desenvolvimento das zonas atingidas é menor.
No que respeita à ocorrência de cheias, quem estudou ou trabalha na área da hidrologia tem um olhar probabilístico, onde a dimensão de uma cheia tem uma possibilidade de acontecer tanto menor quanto maior for a sua dimensão. Falamos da cheia dos 100 anos ou dos 500 anos (cujas probabilidades de ocorrência são de uma vez em cada cem anos ou em cada 500 anos, respetivamente). O historial de dados com que fizemos a avaliação destas probabilidades está a mudar rapidamente (e a agravar-se em termos de possibilidade de ocorrência), quer pelas mudanças no território quer devido às alterações climáticas. Estamos perante uma evolução que torna os riscos cada vez maiores. A causa humana é cada vez mais indissociável, à escala local e global, e a previsibilidade mais difícil, assumindo nomeadamente alguns furacões uma dimensão destrutiva enorme.
O furacão Harvey que afetou os Estados Unidos e o furacão Irma que está a devastar as Caraíbas também a caminho dos EUA têm desviado as atenções do Bangladesh, que tem um terço do seu território inundado, da Índia, com cidades paralisadas, somando-se centenas de mortes, ou ainda do recorde de 60 anos de precipitação registado há uma semana em Pequim.
Talvez a destruição que parte dos EUA enfrentam e cuja dimensão é também resultado das alterações climáticas faça mudar de ideias um Presidente que em junho passado começou a rasgar o Acordo de Paris sobre o clima.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico