Dificuldades financeiras deixam Bombeiros Voluntários Portuenses "em risco"
Associação criada há 93 anos tem um elevado passivo e não consegue fazer face a despesas fixas e aos créditos assumidos por anteriores direcções.
A Associação Humanitária dos Voluntários Portuenses está a passar “por graves dificuldades financeiras” devido “ao passivo e a créditos herdados de anteriores direcções” e, sem ajuda, “corre o risco de fechar”, revelou nesta quarta-feira a presidente daquela entidade.
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A Associação Humanitária dos Voluntários Portuenses está a passar “por graves dificuldades financeiras” devido “ao passivo e a créditos herdados de anteriores direcções” e, sem ajuda, “corre o risco de fechar”, revelou nesta quarta-feira a presidente daquela entidade.
“Em última análise, pode estar em causa o fim da associação”, disse à Lusa Maria João Martinho, que assumiu a direcção em Maio, alertando para “um problema muito sério”, porque “o passivo herdado é bastante elevado” e, mensalmente, a associação “criada há 93 anos” não tem “dinheiro para fazer face a despesas fixas e aos créditos assumidos por anteriores direcções”.
O Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais (SNBP) denunciou hoje que os bombeiros profissionais dos ‘Portuenses’ têm ordenados em atraso desde Junho, referindo estar em causa “a subsistência de 25 funcionários, entre bombeiros e administrativos”, mas Maria João Martinho assegura que a associação apenas tem “bombeiros voluntários”.
“Efectivamente, temos salários em atraso, mas não dizem respeito a bombeiros. A Associação não tem bombeiros profissionais nos seus assalariados. Tem administrativos, técnicos ou motoristas, mas os bombeiros são voluntários”, descreveu a presidente da Associação.
Maria João Martinho refere ainda que os salários em atraso dizem respeito a “Julho e agosto”, até porque o salário de Setembro, referido pelo SNBP, “nem sequer é ainda devido”.
A preocupação da responsável é “como conseguir fazer face às dívidas acumuladas”, já que as receitas são insuficientes para resolver “um problema muito sério”.
Maria João Martinho revelou que está “há mais de um mês e meio à espera de uma reunião com o vereador da Protecção Civil, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira”, mas todos os esforços “têm sido infrutíferos”.
“Não consigo”, lamenta.
Contactado pela Lusa, o gabinete de comunicação da Câmara do Porto confirma que a reunião foi solicitada “e vai ser agendada”.
De acordo com Maria João Martinho, a autarquia apoia a associação com “17.886 euros anuais”, em “pagamentos trimestrais”, mas “as necessidades mensais” dos ‘Portuenses’ andam actualmente “à volta dos 35.000 euros”.
A responsável pretendia, por isso, sensibilizar a autarquia “para a necessidade de apoiar os ‘Portuenses’”, uma instituição onde 70 voluntários “prestam 750 serviços mensais de emergência médica”.
Para além das quotas dos associados, a Associação recebe donativos e apoios, nomeadamente do Instituto Nacional de Emergência Médica e da Associação Nacional de Protecção Civil, refere Maria João Martinho, que tomou “posse em Maio”, na sequência de um abandono “intempestivo” da anterior direcção.
Em comunicado, o SNBP refere que os salários em atraso nos ‘Portuenses’ estão “a pôr em causa a subsistência” de 25 trabalhadores da Associação, “incapazes de pagar as suas contas correntes e despesas de alimentação, havendo casos de conhecida privação alimentar”.
“No mês de Julho, os bombeiros receberam apenas duas parcelas de 200 euros cada um, não tendo sido pagos os ordenados dos meses de Agosto e Setembro”, refere o SNBP.
O SNBP considera ainda que “a falta de pagamento de ordenados foi a mais grave das consequências de um período caricato e controverso a que se assiste nesta corporação”.
“Depois da demissão da anterior direcção, foram feitas eleições. A direcção eleita é composta por elementos que são bombeiros voluntários da corporação, no quadro activo, e é presidida por Maria João Martinho, também ela candidata à Assembleia de Freguesia de Ramalde”, diz o SNBP.
Questionada pela Lusa, Maria João Martinho confirmou que integra as listas do PSD para a assembleia de freguesia de Ramalde.
De acordo com o sindicato, “esta situação, além de gerar conflitos de interesses, revela um grave problema de hierarquia. Problema ao qual se junta o facto de, actualmente, não haver comandante nem segundo comandante naquela corporação. O anterior demitiu-se”.