Acesso ao superior implica cuidados extra no ensino secundário

Muitas escolas optaram por deixar 10.º ano de fora da flexibilidade curricular com receio dos impactos do projecto nos exames nacionais.

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A adopção da flexibilidade curricular está a ser mais prudente no 10.º ano Miguel Manso

“Se tivesse ensino básico, se calhar teria projectos mais arrojados. Assim sendo, temos que ir com cuidado.” A confissão é de Alexandre Costa, director da Escola Secundária de Loulé, uma das 235 que vão integrar a experiência pedagógica de flexibilidade curricular no novo ano lectivo.

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“Se tivesse ensino básico, se calhar teria projectos mais arrojados. Assim sendo, temos que ir com cuidado.” A confissão é de Alexandre Costa, director da Escola Secundária de Loulé, uma das 235 que vão integrar a experiência pedagógica de flexibilidade curricular no novo ano lectivo.

O novo modelo vai ser aplicado na escola, a todas as turmas do 10.º ano, mas é o mesmo responsável que classifica as mudanças que vão ser introduzidas como “contidas”. O receio de que a flexibilidade na gestão do currículo implique menos atenção às disciplinas em que os alunos vão ter exames determinantes para o acesso ao ensino superior aconselha prudência. O caso da secundária de Loulé não é único.

De resto, há casos como o do agrupamento de escolas da Senhora da Hora, em Matosinhos, ou o de Ponte da Barca, no distrito de Viana do Castelo, que apesar de integrarem todos os restantes inícios de ciclo (1.º, 5.º e 7.º anos) no projecto de flexibilidade curricular, optaram por deixar o 10.º ano de fora. “O secundário é uma situação muito específica. É necessário um cumprimento do que está no programa que tem a ver com a preparação para o exame e a avaliação para acesso ao superior. Há algumas resistências por parte dos professores e também cuidados redobrados por parte dos pais, que estão muito mais atentos”, defende Paulo Amaral, adjunto da direcção da escola de Matosinhos.

“O horizonte dos exames nacionais é incontornável”, concorda Alexandre Costa. As disciplinas específicas para acesso a alguns cursos do superior “valem muito” e a escola “não pode negligenciar essa parte”, prossegue. A proposta da escola passa assim por trabalhar um projecto de turma (tranversalmente, envolvendo diferentes disciplinas) que vai passar a ter um peso moderado nas notas dos alunos. “Isto vai permitir-nos avaliar outras competências e capacidades que os alunos têm, algo que até aqui era muito difícil”, explica.

A visão cuidadosa sobre os impactos no secundário não é, porém, unânime. O director da associação dos estabelecimentos do ensino particular, Rodrigo Queiroz e Melo, diz que o projecto “vem romper com o imobilismo” neste nível de ensino: por exemplo, um aluno que, à entrada para o 10.º ano, esteja na dúvida sobre seguir Engenharia ou Economia no superior, acaba por escolher geralmente a área de Ciências e Tecnologias, que é onde pode ter Física, para aceder às engenharias. “Agora, esses alunos pode eventualmente escolher Economia, em vez de Biologia e Geologia, por exemplo. É um conceito de secundário mais adequado aos dias de hoje.”