Forças dos EUA na NATO sem armas para enfrentar a Rússia
A Brigada Aerotransportada 173 é a unidade de reacção rápida da Aliança Atlântica na fronteira Leste. Sabe combater no Iraque e no Afeganistão, não contra a Rússia, diz relatório do Exército dos EUA.
A NATO tem uma unidade de vanguarda, a Brigada Aerotransportada 173, americana, cuja missão é ser a primeira a intervir em caso de agressão ou invasão da Rússia. Mas esta força de reacção rápida, que é a primeira linha de defesa da Europa, está impreparada, afirma um relatório do Exército dos EUA a que a edição europeia do Politico teve acesso.
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A NATO tem uma unidade de vanguarda, a Brigada Aerotransportada 173, americana, cuja missão é ser a primeira a intervir em caso de agressão ou invasão da Rússia. Mas esta força de reacção rápida, que é a primeira linha de defesa da Europa, está impreparada, afirma um relatório do Exército dos EUA a que a edição europeia do Politico teve acesso.
Se tropas russas pisarem solo da Aliança Atlântica, enfrentarão uma brigada “mal armada”, “mal equipada” e “inadequadamente organizada”, diz o relatório que deveria circular apenas no Exército americano.
Quando a Rússia invadiu a Crimeia em 2014 (que era território da Ucrânia), foram os paraquedistas da 173, estacionados em Vicenza (nordeste de Itália) os primeiros a chegar aos Estados bálticos — numa missão de dissuasão, advertindo a Rússia que a Aliança estava posicionada para responder a possíveis violações do seu flanco Leste.
Porém, se for necessário entrar em combate, a brigada não está preparada, explica o relatório. Na última década, a 173 cumpriu missões no Iraque (foi a primeira força a entrar quando os EUA invadiram o país em 2003) e no Afeganistão, o que criou “falhas críticas nas capacidades”. Está equipada e treinada para teatros de guerra no Médio Oriente e Ásia, mas não para enfrentar os russos. O exército americano na Europa tem “falta de capacidades essenciais para cumprir a sua missão de forma eficaz e com a rapidez essencial”, diz o analista que avaliou a brigada.
A avaliação foi feita na observação de exercícios militares entre a 173 e o exército ucraniano, que tem experiência de combate com os separatistas do Leste, que usam material e tácticas russas. Revelaram-se problemas que podem comprometer a segurança do bloco europeu.
Os americanos aprenderam que os ucranianos separatistas usam drones baratos para assinalarem alvos para a artilharia, como modernos veículos armados. Usam também várias ferramentas electrónicas para baralhar as comunicações.
A Brigada 173 depende dos satélites e dos sistemas de GPS — é o que basta no Iraque e no Afeganistão, onde o inimigo não tem poder de destruição aéreo ou equipamento de alta tecnologia. Se os russos conseguirem bloquear-lhes o acesso aos satélites, os americanos perdem capacidade de comunicação e navegação.
"Abrir de olhos"
“As lições que aprendemos com os parceiros ucranianos são substanciais. Foi um abrir de olhos para a absoluta necessidade de nos vermos de forma crítica”, disse ao Politico o coronel Gregory Anderson, que encomendou o relatório. “Se a Rússia usar equipamentos electrónicos para atingir a artilharia da Brigada e se as armas anti-tanque não conseguirem ir até aos veículos russos, se conseguirem baralhar e perturbar os paraquedistas, podemos ter uma longa guerra pela frente”.
O momento da divulgação do relatório não é o melhor para a NATO, que terminou em Julho um exercício de larga escala na sua fronteira Leste, o Saber Guardian 2017. O objectivo: mostrar recursos e capacidade de reacção. Esta debilidade é revelada a poucos dias de ser a vez da Rússia mostrar a sua força com o exercício Zapaz 17 (Ocidente 17), que entre 14 e 20 de Setembro envolverá cem mil homens, segundo a Aliança Atlântica. Serão as maiores manobras militares de Moscovo da era pós-soviética, na Bielorrússia e na Rússia.
Alguns dos problemas detectados têm fácil solução, diz o relatório que fala, por exemplo, na falta de redes de camuflagem para ocultar veículos blindados de helicópteros ou drones inimigos — o documento chama a estas redes "luxos difíceis de encontrar" nesta unidade considerada crucial na defesa da fronteira leste da Aliança. Os veículos que a 173 tem são velhos e desadequados — são bons para enfrentar estradas armadilhadas no Iraque, mas não para a Europa. E os blindados e tanques são demasiado grandes e pesados: é recomendado que sejam usados outros mais fáceis de proteger dos mísseis anti-tanque russos. Espera-se que os militares da Letónia ensinem aos americanos como evitar ficarem sem comunicações ou sistema de navegação. Para proteger as comunicações e navegação, diz o relatório, o custo também é baixo pois as soluções são low tech.
Os quatro mil homens e o equipamento da Brigada Aerotransportada 173 não são, obviamente, o único recurso da NATO em caso de conflito com a Rússia. Mas o relatório também diz que os problema detectados na 173 são, de alguma forma, transversais às unidades americanas estacionadas na Europa.
"O relatório é sobre a 173, mas na realidade é mais do que isso. É sobre o que o exército americano tem que fazer [pela defesa da Europa]", disse ao Politico Adrian Bonenberger, ex-oficial de infantaria da 173 que combateu no Afeganistão e que vive agora na Ucrânia.