Ordem dos Médicos preocupada com impacto do protesto dos enfermeiros na "segurança das grávidas"
Bastonário diz que vai disponibilizar no site da Ordem um requerimento que os médicos devem entregar nos hospitais no sentido de terem alguma protecção. Isto se deixarem de ter enfermeiros especialistas nas suas equipas.
A Ordem dos Médicos está preocupada com impacto do protesto dos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica, que anunciaram que vão entregar os títulos que os habilitam profissionalmente para a especialidade.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Ordem dos Médicos está preocupada com impacto do protesto dos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica, que anunciaram que vão entregar os títulos que os habilitam profissionalmente para a especialidade.
Enfermeiros especialistas, muitos deles a trabalhar em blocos de partos, estão a entregar na sua Ordem, desde a semana passada, o título de especialidade, o que impede que exerçam funções nos serviços especializados, uma acção para exigir a revalorização salarial das suas funções como especialistas. Em declarações à Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, disse que será emitida uma nota aos médicos para que estejam alertados para a situação. Nesse sentido, a Ordem disponibilizará na segunda-feira um requerimento que os médicos devem entregar nos respectivos hospitais no sentido de terem alguma protecção no caso de acontecer alguma coisa fora do normal.
“É uma situação muito preocupante. Tenho tido contacto com colegas de obstetrícia que estão preocupados porque o objectivo principal é assegurar cuidados de saúde às grávidas e as grávidas têm muitas situações urgentes a que os hospitais têm de dar resposta”, disse.
Miguel Guimarães explicou que, se os enfermeiros especialistas deixarem de fazer as suas tarefas, os médicos terão uma pressão maior o que poderá ter consequências negativas para as próprias grávidas. “O que me preocupa é garantir a segurança das grávidas e o seu bem-estar e de alguma forma também a segurança dos próprios médicos de obstetrícia e ginecologia”, disse.
A nota, que será publicada na página da Ordem dos Médicos, explicou Miguel Guimarães, alerta os médicos para a eventualidade de deixarem de ter enfermeiros especialistas nas suas equipas.
O que vão fazer os hospitais?
Este enquadramento de equipa multidisciplinar na especialidade (médicos e dois enfermeiros, um deles especialista), adiantou, foi criado pela própria Ordem dos Médicos, mas face à situação que agora se coloca não será possível cumprir, diminuindo a qualidade das condições de trabalho. Os hospitais, frisou, também terão de definir o que fazer relativamente a esta matéria.
Os enfermeiros especialistas estão em protesto há duas semanas, não cumprindo as funções especializadas pelas quais ainda não são pagos. O protesto seguiu-se a outro, nos mesmos moldes, ocorrido em Julho e que foi interrompido para negociações com o Governo.
No final de Agosto, os profissionais queixaram-se de ameaças por parte dos conselhos de administração dos hospitais e acusaram o ministro da Saúde de desonestidade e de ter enganado os profissionais.
Em comunicado, o movimento que representa estes enfermeiros anunciou no sábado o endurecimento da luta e a bastonária da Ordem dos Enfermeiros disse à Lusa neste domingo que alguns profissionais já começaram a entregar os títulos que os habilitam para a especialidade.
Esta situação, adiantou a bastonária, surge porque estes enfermeiros começaram a ser ameaçados pelos conselhos de administração dos hospitais com processos disciplinares, o que levou a Ordem a preparar uma intimação para protecção de direitos, liberdades e garantias dos enfermeiros. “Essa tentativa de abertura de processos disciplinares, ameaças e coacção diárias começou a acontecer nos hospitais e levou a este limite. Ninguém consegue trabalhar assim”, frisou.
A bastonária sublinhou que os enfermeiros estão exaustos, não têm carreira profissional e levam para casa menos de mil euros por mês, tanto os generalistas como os especialistas, trabalhando 35 ou 50 horas por semana.