Eleições alemãs: tudo em aberto na corrida para o terceiro lugar
Há várias ofertas ideológicas, da ecologia à extrema-direita, e alguma pode vir a entrar para o Governo.
O terceiro é o novo primeiro? A corrida entre os partidos pequenos é, segundo as sondagens, a mais competitiva nas eleições alemãs de 24 de Setembro. E quem conseguir coligar-se com o vencedor poderá ditar alguma alteração de rumo política num Executivo que deverá voltar a ser liderado por Angela Merkel.
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O terceiro é o novo primeiro? A corrida entre os partidos pequenos é, segundo as sondagens, a mais competitiva nas eleições alemãs de 24 de Setembro. E quem conseguir coligar-se com o vencedor poderá ditar alguma alteração de rumo política num Executivo que deverá voltar a ser liderado por Angela Merkel.
Neste momento, os partidos Die Linke (esquerda anti-capitalista), AfD (Alternativa para a Alemanha, extrema-direita), FDP (liberal, direita) e Die Grüne (Verdes) competem no espaço dos 7 a 11% nas sondagens, parecendo certo que todos entrarão no Bundestag (a AfD estreou-se nas últimas eleições, mas ficou abaixo da barreira dos 5% necessária para ter representação parlamentar; já os Liberais ficaram, pela primeira vez na sua história, fora do Parlamento).
Die Linke tem feito campanha por um fortalecimento do Estado social, luta contra a pobreza, e fim dos apoios a grandes empresas e bancos. Apesar da mensagem ter eco em trabalhadores desiludidos com os sociais-democratas, não conseguiu beneficiar do estatuto de maior partido da oposição. Mais, é um partido fracturado, com dois presidentes (Katja Kipping e Bernd Riexinger) e dois cabeças de lista (a mais mediática Sahra Wagenknecht e Dieter Bartsch), e o resultado é de alguma confusão.
Já os Liberais têm tido mais atenção pelo seu líder do que por propostas concretas. A campanha está totalmente centrada em Christian Lindner, cujos cartazes de campanha poderiam ser confundidos com uma produção de uma revista de moda – uma foto a preto e branco, uma posição de reflexão em que não está visível todo o rosto do político, com o slogan “a impaciência também pode ser uma virtude”.
Lindner tem tentado afastar a ideia de que os liberais querem sobretudo cortes fiscais para as empresas e os mais ricos. Tem-se manifestado contra uma série de políticas de Merkel – criticou a entrada de refugiados em 2015, quer uma lei de imigração diferente baseada em competências como no Canadá, e quer ainda uma política diferente em relação aos países em crise, tendo mesmo sugerido uma alteração aos tratados europeus para permitir a expulsão da Grécia. Há quem chegue a considerar os liberais o partido para quem está descontente com Merkel mas não se atreveria a votar AfD.
Os Verdes, o segundo maior partido de oposição, está no seu nível mais baixo dos últimos 15 anos. O partido partiu para estas eleições dizendo que tanto poderia aliar-se à esquerda ou à direita.
Os dois líderes do partido, Katrin Göring-Eckardt e Cem Özdemir (os Verdes têm sempre uma liderança com um homem e uma mulher), não são os mais carismáticos.
Mas a sua descida pode explicar-se de outro modo: o partido viu-se privado da sua causa mais mobilizadora quando Angela Merkel mudou a política em relação ao nuclear, após o acidente na central de Fukushima, no Japão, determinando o fim faseado das centrais alemãs. Mais investimento em energias renováveis ou melhor separação do lixo doméstico não despertam o mesmo entusiasmo.
Finalmente a AfD, que nasceu como um partido anti-euro, focou-se depois de 2015 sobretudo na imigração e crítica dos refugiados, revelando-se cada vez mais racista nas afirmações dos seus líderes. Alexander Gauland, que divide a liderança com Alice Weidel, criticou há cerca de uma semana a comissária para Integração, Aydan Özoguz, dizendo que ela poderia “ser posta na Anatólia” (Özoguz, nascida em Hamburgo, é de ascendência turca).
Os cartazes do partido não deixam dúvidas quanto ao teor da sua mensagem: um mostra uma barriga de uma grávida dizendo: “Novos alemães? Fazemo-los nós”.
Nesta eleição há, no entanto, duas certezas: a AfD não entrará em nenhum governo, já que é rejeitada por todos os outros partidos, e qualquer governo terá apoio de uma maioria parlamentar.
Se um (ou dois?) destes partidos formarem governo, a influência política que terão também é discutível. No último acordo de coligação, o SPD conseguiu impor o salário mínimo nacional contra a vontade expressa de Merkel. Mas os liberais não têm grande coisa a celebrar da sua passagem pelo executivo da chanceler (2009-2013), com o ímpeto reformador totalmente perdido em quatro anos marcados sobretudo por pequenos conflitos. Se Lindner, tendo a hipótese, quererá evitar uma repetição do fiasco, também não é claro o que seria para ele prioritário para exigir no programa de Governo.