Jerónimo coloca PT e Autoeuropa na linha da frente das preocupações do PCP

Na abertura da Festa do Avante, o líder comunista alerta para o “quadro contraditório” da luta de trabalhadores, em que a reposição de salários e direitos e a aceitação do mínimo de existência contrasta com o ataque pelas empresas aos direitos laborais.

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Jerónimo de Sousa abriu a Festa do Avante! Miguel Manso

O líder do PCP colocou esta sexta-feira a luta dos trabalhadores nas empresas na linha da frente das preocupações dos comunistas, em particular na PT e na Autoeuropa. No discurso de abertura da Festa do Avante!, Jerónimo de Sousa referiu-se às contradições a que o país assiste, em que por um lado vai havendo “reposição de salários e direitos” e por outro há uma “acção concertada de várias empresas” que põem em causa esses direitos.

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O líder do PCP colocou esta sexta-feira a luta dos trabalhadores nas empresas na linha da frente das preocupações dos comunistas, em particular na PT e na Autoeuropa. No discurso de abertura da Festa do Avante!, Jerónimo de Sousa referiu-se às contradições a que o país assiste, em que por um lado vai havendo “reposição de salários e direitos” e por outro há uma “acção concertada de várias empresas” que põem em causa esses direitos.

Começou pela PT:  “O controlo público da PT seria um acto patriótico e de defesa do interesse nacional”, preconizou. Mas sendo já demasiado tarde para isso, Jerónimo defendeu que “devem ser usados todos os mecanismos existentes na actual legislação, clarificada e reforçada a sua garantia”. E afirmou que foi com esse objectivo que o PCP apresentou esta semana um projecto de lei na Assembleia da República.

Jerónimo não deixa de criticar as privatizações e de apontar as suas piores consequências. “Não é entregando ao capital monopolista o que temos de melhor que o país avança e afirma a sua soberania”, disse. “Depois da escandalosa evolução da banca comercial privada em Portugal, é o processo de destruição da PT, a maior empresa nacional de comunicações e telecomunicações em benefício da multinacional Altice, arrasando milhares de postos de trabalho, os seus direitos e a sua dignidade, e transferindo para o estrangeiro sectores estratégicos”.

Mas se apontou o dedo à Altice no que chama de “processo de destruição da PT”, o líder dos comunistas foi mais tímido em relação à fábrica da Volkswagen e nunca verbalizou o nome da Autoeuropa: “O capital, numa acção concertada de várias empresas, tendo como guarda avançada as multinacionais, tenta fazer o assalto aos horários de trabalho e eliminar o avanço civilizacional do sábado como dia de descanso”.

“É neste quadro contraditório” em que sublinha haver “reposição, defesa e conquista de salários e direitos” que defende que “a luta dos trabalhadores assume um papel incontornável e insubstituível, a partir dos seus anseios, das suas reivindicações concretas e legítimas nas empresas e sectores”.

Sobre o Orçamento do Estado (OE), o líder do PCP não quis alongar-se. Em relação ao que os comunistas colocaram em cima da mesa das negociações, afirmou que o Governo “veio agora admitir” avanços como o mínimo de existência (um valor de rendimento anual de 8500 euros ou menos em que não se paga IRS), “reiteradamente colocado pelo PCP no sentido de repor a protecção fiscal dos salários e pensões de mais baixo valor”.

Mas foi vago nas reivindicações como o descongelamento das carreiras da função pública, optando por uma formulação genérica, dizendo que o PCP apresentará propostas para concretizar “muito do que falta na reposição de salários, rendimentos e direitos e mais justiça fiscal e para eliminar o que subsiste de cortes e congelamentos feitos pelo governo anterior”.

Num momento em que avançam as negociações sobre o OE e com as autárquicas à vista, Jerónimo de Sousa afirmou que nestes meses de construção da 41ª Festa do Avante! o partido “não fechou para obras”. Nem abandonou as suas bandeiras, como a oposição ao tratado orçamental e a imposição europeia de um défice abaixo dos 3%. “A fixação do défice nas contas públicas não pode ser transformada no alfa e ómega da política económica e financeira nacional”, disse Jerónimo, defendendo que há outros défices mais importantes como o “défice estrutural da produção nacional”.

“É criando mais riqueza, mais produção nacional, com mais, melhor aparelho produtivo e mais desenvolvido, que o país encontrará a saída para a solução dos seus principais problemas e atraso”, preconizou. Uma máxima para a qual não seria difícil encontrar um amplo consenso nacional.

Jerónimo de Sousa deixou ainda uma palavra de elogio à colaboração do PCP na actual solução governativa: “Nesta fase da política nacional, o PCP e a CDU, com a sua intervenção, a sua proposta e a sua iniciativa deram uma contribuição insubstituível nos avanços alcançados”. E fez mira ao PSD e ao CDS dizendo que, “ao contrário dos anúncios das desgraças e dos diabos que aí vinham”, o que aconteceu foi “a valorização dos salário, rendimentos, reformas e abonos de família e a gratuitidade dos manuais escolares para o 2º ciclo já em Setembro”.