SOS Rio Paiva critica nova ponte transparente anunciada pelo município de Arouca
Associação ambientalista receia que o projecto “megalómano” relegue para segundo plano o património ecológico do geoparque.
A SOS Rio Paiva – Associação de Defesa do Vale do Paiva - está preocupada com construção da nova ponte sobre o rio Paiva, em Arouca, anunciada na semana passada,e que considera ser mais um apelo ao "turismo de massas” na região. A associação ambientalista teme que se repita a enchente de visitantes que chegou a Arouca, no Verão de 2015, na altura da abertura dos Passadiços do Paiva, e que o espaço se transforme num “parque de diversões e desportos de aventura” sem respeito pela natureza da região.
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A SOS Rio Paiva – Associação de Defesa do Vale do Paiva - está preocupada com construção da nova ponte sobre o rio Paiva, em Arouca, anunciada na semana passada,e que considera ser mais um apelo ao "turismo de massas” na região. A associação ambientalista teme que se repita a enchente de visitantes que chegou a Arouca, no Verão de 2015, na altura da abertura dos Passadiços do Paiva, e que o espaço se transforme num “parque de diversões e desportos de aventura” sem respeito pela natureza da região.
“É um projecto megalómano que, em termos de preservação do ambiente, não vem acrescentar absolutamente nada”, refere ao PÚBLICO Sérgio Caetano, presidente da associação.
As obras ainda não arrancaram, mas a associação ambientalista antecipa a falta de sossego e os impactos que a nova construção na “Garganta do Paiva”, entre as localidades de Areinho e Espiunca, poderá causar na fauna e flora da região, numa zona classificada pela Rede Natura 2000, que tem como objectivo assegurar a conservação das espécies e dos habitats ameaçados da Europa.
Apesar de reconhecer a importância da construção dos passadiços para o desenvolvimento e “dinamismo” da região, o responsável acredita que a aposta deveria ser feita no "turismo de natureza", direccionado a pessoas que tenham "alguma sensibilidade para o ambiente”, ao invés de se apostar no “turismo de massas que é atraído, não pela beleza natural nem pelo valor ecológico do rio Paiva, mas pela adrenalina”.
A câmara de Arouca, contudo, rejeita essa ideia. “Todo este projecto à volta dos passadiços não é só uma atracção turística. É um projecto turístico e ambiental que está a servir para educar para a preservação”, referiu ao PÚBLICO Margarida Belém, vice-presidente da autarquia.
O projecto foi conhecido na semana passada. Trata-se de uma ponte pedonal de 480 metros que vai ligar as duas margens do rio na zona da “Garganta do Paiva”, por apenas dois cabos. Com o piso transparente e suspensa a 150 metros de altura, a ponte vai ter vista para a cascata das Aguieiras e para a escadaria que serpenteia a íngreme encosta do rio Paiva.
A obra está já adjudicada e vai custar à autarquia cerca de 1,7 milhões de euros. Falta agora o aval do Tribunal de Contas para que a empreitada arranque o que, prevê Margarida Belém, deverá acontecer em Outubro ou Novembro. E, se tudo correr como o esperado, deverá estar concluídas no Verão do próximo ano.
“Aquela região não está preparada para tanta gente”
Ainda assim, a SOS Paiva reconhece o "esforço" que a autarquia fez para "minimizar" estes impactos quando, face a tamanha procura, decidiu limitar o acesso ao passadiço para as 3500 pessoas por dia e começou a cobrar um euro por entrada.
“As coisas ficaram mais ou menos controladas”, diz Sérgio Caetano. Mas com o novo projecto, a associação receia que a situação "se volte a descontrolar". E recorda os “problemas graves” que os primeiros tempos depois da abertura dos passadiços causaram na paisagem e na biodiversidade da região. A começar pela quantidade de pessoas que chegaram para visitar os passadiços que, nalguns dias, “foram mais de dez mil”, além de cortes de vegetação e do lixo que os visitantes largam ao longo do percurso. E alerta para os "riscos elevados para a segurança das pessoas" que os frequentam por estarem inseridos "numa zona de elevado risco de incêndio, declives acentuados e acessos bastante limitados". Nos últimos anos, o fogo já ali engoliu centenas de metros dos passadiços que foram depois reconstruídos.
“Aquela região não está preparada para tanta gente. Recordo-me de ver veículos do bombeiros a tentar passar naquela zona, porque não há outros acessos, e não conseguiam passar”, conta o presidente da associação.
A SOS Rio Paiva questiona agora a câmara de Arouca e a Agência Portuguesa do Ambiente sobre se há (e quais são) as medidas previstas para mitigar os impactos ambientais que um projecto desta envergadura possa causar naquela área que integra também o Arouca Geopark, que é, desde 2009, reconhecido pela UNESCO como património geológico da Humanidade.
Ao PÚBLICO, a autarca reitera que não há razão para alarme, já que tem havido “um controlo muito grande nos acessos” e que o limite de entradas no parque, por dia, baixou de 3500 para 2000. Além disso, acrescenta, foram colocadas “equipas no percurso a assegurar que são preservadas todas as espécies e habitats”.
Além da ponte, estão previstas as construções de "bases de apoio logístico" aos operadores turísticos, de uma “base de acolhimento” à entrada da ponte e de um bar de apoio, “infra-estruturas que são necessárias para criar condições para o visitante”, diz Margarida Belém. Questionada sobre se a nova ponte terá efeito no preço das entradas nos passadiços, a autarca referiu que existirá "certamente um custo acrescido", mas que o valor não está ainda definido.
“Eu percebo a preocupação das associações ambientalistas e iremos, certamente, reunir com eles para sossegar todas estas preocupações, que são as mesmas desde o início do projecto. Todas estas questões irão ser trabalhadas e articuladas com as respectivas entidades”, garante.