Moody’s mantém rating de Portugal, mas abre porta a uma subida

Perspectiva da nota passou de “estável” para “positiva”. Agência deixa elogios mas também avisos. Centeno fala em "reconhecimento".

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Para Centeno, a agência reconhece os “avanços na gestão orçamental” e no crescimento da economia Nuno Ferreira Santos

A agência de notação financeira Moody’s seguiu os passos da concorrente Fitch e colocou o rating de Portugal numa perspectiva “positiva”. A nota atribuída à República portuguesa mantém-se igual, num patamar de “lixo” financeiro. O que aconteceu foi uma alteração da tendência desse rating, que deixou de estar numa orientação “estável”. Fica aberta a porta a uma revisão para cima dentro de 12 a 18 meses.

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A agência de notação financeira Moody’s seguiu os passos da concorrente Fitch e colocou o rating de Portugal numa perspectiva “positiva”. A nota atribuída à República portuguesa mantém-se igual, num patamar de “lixo” financeiro. O que aconteceu foi uma alteração da tendência desse rating, que deixou de estar numa orientação “estável”. Fica aberta a porta a uma revisão para cima dentro de 12 a 18 meses.

Para o ministro das Finanças, que reagiu por escrito poucos minutos depois de a decisão ser conhecida, a avaliação representa “um crescente reconhecimento por parte de vários actores institucionais e privados quanto à solidez da economia”.

A empresa norte-americana continua a avaliar o país com a nota Ba1 (11.º lugar em 21 degraus). Está ainda no patamar de não-investimento (conhecido como “lixo” financeiro), sendo, neste nível, a classificação imediatamente abaixo das avaliações que já se encaixam nos graus de investimento. O que levou a agência a alterar o chamado “outlook” são, essencialmente, três razões: a resiliência do crescimento económico, pela recuperação do investimento; a melhoria das contas públicas e a “expectativa da Moody’s de que a consolidação orçamental se vai manter”; e o facto de o país enfrentar menos riscos de financiamento.

Apesar dos elogios, a agência deixa também um aviso: não é impossível que o rating volte a “estável” se o compromisso do Governo “com a consolidação orçamental e a redução da dívida, ou a sua capacidade em alcançar este objectivo, abrandar”.

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A decisão da agência segue o caminho da Fitch, que em Junho manteve o rating e também o colocou em sentido “positivo”, sinalizando uma possível subida, para retirar o país da classificação de “lixo” financeiro. Neste momento, é essa a avaliação feita pelas três grandes empresas do mercado de rating a nível global: a Moody’s, a Fitch e a Standard & Poor’s (S&P). Só a canadiana DBRS – a quarta agência do grupo de agências levadas em consideração pelo Banco Central Europeu – é que tem Portugal avaliado acima de “lixo”.

Para a agência, a melhoria na dinâmica do investimento – e o seu impacto naquilo que diz ser as “oportunidades de produtividade” – poderá aumentar o potencial de crescimento da economia, que a Moody’s estima actualmente nos 1,5%. Para este ano, a expectativa da agência é que a economia cresça 2,5%, uma previsão que tem em conta o desempenho da “forte actividade económica” na primeira metade do ano.

A gestão da dívida

Na frente orçamental, a agência nota o facto de Portugal ter saído do Procedimento por Défice Excessivo e mostra-se convicta de que o limite dos 3% não voltará a ser ultrapassado nos próximos anos. Sobre a correcção das contas em 2016, sublinha a diminuição do défice estrutural em 0,3%, apesar das medidas extraordinárias (com impacto apenas em 2016).

O “corte significativo” na despesa em 2016, entende, permitiu criar uma “boa base” para Portugal continuar a ter uma “posição orçamental prudente”.

Em relação à dívida pública, a Moody’s elogia a estratégia de antecipar pagamentos ao FMI (começada pelo anterior Governo e continuada com o actual). Apesar do nível da dívida continuar acima dos 130% do PIB, Centeno espera uma descida do montante em relação ao PIB até ao final do ano. E para a Moody’s, o facto de Portugal ter uma almofada de financiamento que no fim do ano deverá rondar os 40 a 50% das necessidades de financiamento para o ano seguinte é uma notícia positiva. A previsão da agência é que a dívida, ainda em alta, entre numa trajectória de estabilização e descida. Pela negativa, lembra que o país ainda está vulnerável ao “sentimento dos investimentos” do que outros países periféricos da zona euro.

Os analistas do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI no boletim Mercados Financeiros de Agosto referiam que Portugal poderá em 2018 voltar a ser avaliado “na classe de investimento por mais uma agência de rating”.

Depois da Fitch e da Moody's, está agendada para 15 de Setembro uma avaliação da S&P, que tem neste momento o rating na perspectiva “estável”. A expectativa dos analistas é que a agência possa seguir o mesmo percurso das duas concorrentes.