André Ventura, o candidato "inaceitável" que continua a sê-lo
Ideias do candidato do PSD a Loures vão contra o programa do partido, defendem Pedro Duarte e José Eduardo Martins.
André Ventura, comentador desportivo da CMTV, entrou na corrida autárquica à Câmara de Loures com um activo: o de concorrer pelo PSD, um dos principais partidos portugueses. Mas depressa o candidato se afastou do programa social-democrata, como lembram agora Pedro Duarte e José Eduardo Martins, cabeças de lista do PSD às assembleias municipais do Porto e de Lisboa, respectivamente.
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André Ventura, comentador desportivo da CMTV, entrou na corrida autárquica à Câmara de Loures com um activo: o de concorrer pelo PSD, um dos principais partidos portugueses. Mas depressa o candidato se afastou do programa social-democrata, como lembram agora Pedro Duarte e José Eduardo Martins, cabeças de lista do PSD às assembleias municipais do Porto e de Lisboa, respectivamente.
"Choca-me que terroristas e pedófilos homicidas sejam executados? Eu digo honestamente: não me choca", disse André Ventura, há dias, no programa SOS 24 da TVI24. Já antes Ventura havia proferido declarações polémicas sobre minorias, mas o facto de haver um candidato do PSD a defender publicamente a pena de morte, mais do que incómodo, causou embaraço.
"Apetece-me dizer: É inaceitável", desabafa, ao PÚBLICO, o social-democrata Pedro Duarte, que foi director de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa e que concorre ao segundo cargo mais importante, em termos autárquicos, na cidade do Porto. "Contraria princípios basilares do PSD", sublinha. "Andará muito mal o partido se trocar votos por convicções".
Na mesma lógica, José Eduardo Martins, candidato à Assembleia Municipal de Lisboa, acabou por comentar o tema publicamente na página de Facebook de Nuno Garoupa, quando uma discussão derivou da entrevista de Graça Fonseca ao DN, em que a governante assumia ser homossexual, para a defesa da pena de morte, assumida por André Ventura.
"O PSD é um partido livre. Com uma tradição de respeito pela vontade dos seus eleitos sem par", começa por escrever José Eduardo Martins sobre as reacções díspares do partido à entrevista de Graça Fonseca. "Nos anos que fui deputado, fosse sobre Interrupção Voluntária da Gravidez, sobre o casamento das pessoas do mesmo sexo ou qualquer outro tema de direitos fundamentais, fui sempre livre de votar no que acreditei e nunca ninguém me criticou. Não sei se há muitos partidos assim. Não vejo à volta."
Contudo, quando a discussão muda de ângulo e se detém na pena de morte, José Eduardo Martins é peremptório: "É absolutamente excluída como possibilidade pelo nosso programa. Está na declaração de princípios que todos subscrevemos quando nos tornamos militantes", responde a Nuno Teixeira de Castro, um utilizador que o confronta com as declarações de André Ventura.
E mais tarde, quando o mesmo utilizador recorda que "a liderança do partido ainda não se pronunciou contra a alarvidade defendida pelo sr. Ventura", o candidato à assembleia municipal de Lisboa acrescenta: "Acho que não fui claro. Não é possível ser do PSD e a favor da pena de morte".
Luís Marques Mendes já tinha criticado o apoio do PSD a André Ventura (o CDS retirou entretanto a confiança política ao candidato). Fê-lo na SIC, no seu comentário dominical. “Pergunta-se: mas ele devia ter saído das listas? Eu responderia que nunca deveria ter entrado”, disse Mendes.
O ex-líder do PSD aproveitou para desconstruir a estratégia de Ventura: “Era pouco conhecido, estava mal nas sondagens, arranjou uma polémica e passou a ser falado. É uma táctica muito conhecida. É a tradução daquela ideia – não interessa se falam bem ou mal de mim, preciso é que falem”, disse, justificando que em política não vale tudo.