Em algumas secções nem luz há: Autoeuropa com “paralisação completa”, diz sindicato
Trabalhadores contestam proposta da administração para trabalhar ao sábado na produção de um novo modelo.
A adesão dos trabalhadores da Autoeuropa ao protesto contra a obrigatoriedade de trabalhar ao sábado, para assegurar a produção do novo modelo T-Roc, está a ser significativa e, segundo o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul (Sitesul), “a produção está completamente parada”.
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A adesão dos trabalhadores da Autoeuropa ao protesto contra a obrigatoriedade de trabalhar ao sábado, para assegurar a produção do novo modelo T-Roc, está a ser significativa e, segundo o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul (Sitesul), “a produção está completamente parada”.
“Há secções inteiras em que nem sequer a energia e eletricidade foi posta a funcionar. Nada vai arrancar, não há condições para haver produção hoje. A adesão à greve está a ter esse efeito e como se pode ver, neste espírito junto do piquete de greve, era expectável que assim acontecesse. Iniciou-se já ontem também com o mesmo resultado, confirma-se agora da parte da manhã e, da parte da tarde, naturalmente o resultado vai ser o mesmo: paralisação completa. Esta greve começa já a cumprir os seus objectivos”, disse na manhã desta quarta-feira o sindicalista José Carlos Silva à TSF, sem conseguir ainda adiantar números concretos da adesão à greve, que começou às 23h30 de terça-feira.
Já à agência Lusa, Eduardo Florindo, do mesmo sindicato, falou em centenas de trabalhadores que aderiram ao protesto que se prolonga até à meia-noite, na fábrica da Volkswagen em Palmela: "Há centenas de trabalhadores em greve que estão concentrados aqui à entrada da empresa", disse, lembrando que continuam à espera de uma resposta da administração a quem pediram uma reunião. Mas, enquanto o protesto durar, não se deverá saber algo da parte da administração. As negociações até devem ser apenas retomadas quando houver uma nova comissão de trabalhadores, no início de Outubro.
O conflito pôs em causa algumas diferenças de posições entre a Comissão de Trabalhadores (ou de alguns membros) demissionária e os sindicatos que, à SIC Notícias disseram, no entanto, manter a esperança de que a administração possa recuar: “Seria um passo muito importante para encontrar uma solução.”
A decisão de fazer greve foi tomada na segunda-feira em plenários de trabalhadores daquela fábrica que mandataram os dirigentes do Sitesul, afecto à CGTP, para se reunirem com a administração e tentarem encontrar uma solução para o conflito. Segundo avançou na altura o sindicato, foi uma resolução aprovada por cerca de três mil trabalhadores, num universo que ronda os quatro mil.
Declarações “lamentáveis”
O que também não passou despercebido aos sindicalistas foi o teor das declarações que António Chora – eleito pelo BE à Assembleia Municipal da Moita e antigo coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa – fez ao Negócios sobre a greve e sobre este sindicato. Ainda à TSF, José Carlos Silva lamentou-as: “Este é um conflito entre os trabalhadores da empresa e a administração e, portanto, fazer veicular esse tipo de declarações não ajuda nada à luta dos trabalhadores. Ainda por cima, vindo de quem trabalhou nesta empresa. Não mostra qualquer tipo de solidariedade e, portanto, acho que é lamentável vir alguém fazer esse tipo de declarações.”
Em causa está uma entrevista, na qual António Chora considerou que mais do que “um assalto ao castelo”, como classificou o coordenador da Comissão de Trabalhadores demissionário, Fernando Sequeira, esta greve é uma “tentativa do PCP pressionar o Governo para algumas cedências noutros lados”. Sobre o Sitesul, disse que o sindicato “montou-se em cima de quatro ou cinco populistas”, o que “é lamentável, porque é um sindicato com história”. E mostrou-se surpreendido com a primeira greve na empresa (exceptuando greves gerais): "Estou espantado. Nunca pensei ver tanta verborreia como tenho visto ultimamente, mas o populismo é assim."
Na origem do conflito na Autoeuropa está o conteúdo do pré-acordo celebrado entre a Comissão de Trabalhadores e a administração, e que foi rejeitado pela maioria dos funcionários, por implicar trabalhar obrigatoriamente ao sábado.
Em cima da mesa está a possibilidade de a fábrica passar a ter três turnos diários, de segunda-feira a sábado, com uma folga ao domingo e outra rotativa durante a semana, para se conseguir assegurar a produção de um novo carro, o T-Roc. Apesar de estar previsto “um pagamento mensal de 175 euros adicional ao que está previsto na lei, 25% de subsídio de turno e a atribuição de um dia adicional de férias”, os trabalhadores consideram que estão a ser prejudicados face ao que estipula a lei laboral e ao que acontece hoje em dia na fábrica – dois turnos de segunda à sexta e, quando é preciso trabalhar ao fim-de-semana, o trabalho é pago como extraordinário (por quatro sábados por mês, o trabalhador recebe uma compensação de 400 euros). Segundo o Sitesul, com os novos horários propostos pela administração, cada trabalhador só teria direito a gozar duas folgas seguidas de três em três semanas – tal aconteceria quando a folga rotativa fosse ao sábado ou à segunda-feira e ficasse, assim, junto da folga fixa de domingo.