Trump promete gestão exemplar na cheia de "proporções bíblicas" que engoliu Houston
"Queremos que olhem para nós, daqui a cinco ou dez anos, e digam que é assim que se faz", disse o Presidente norte-americano no Texas. Especialistas apontam para as barragens e dizem que o pior ainda está para vir.
O mau exemplo da forma como a Administração Bush lidou com as consequências do furacão Katrina há 12 anos, em Nova Orleães, tem levado o actual Presidente norte-americano, Donald Trump, a garantir em cada oportunidade que tudo vai ser diferente em Houston e nas outras cidades assoladas pelo furacão Harvey desde a passada sexta-feira. À chegada a Corpus Christi, esta terça-feira, Trump agradeceu a todos os que têm participado nas operações de salvamento e pôs a fasquia lá em cima: "Queremos que olhem para nós, daqui a cinco ou dez anos, e que digam que é assim que se faz."
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O mau exemplo da forma como a Administração Bush lidou com as consequências do furacão Katrina há 12 anos, em Nova Orleães, tem levado o actual Presidente norte-americano, Donald Trump, a garantir em cada oportunidade que tudo vai ser diferente em Houston e nas outras cidades assoladas pelo furacão Harvey desde a passada sexta-feira. À chegada a Corpus Christi, esta terça-feira, Trump agradeceu a todos os que têm participado nas operações de salvamento e pôs a fasquia lá em cima: "Queremos que olhem para nós, daqui a cinco ou dez anos, e que digam que é assim que se faz."
O avião presidencial Air Force One aterrou pouco depois das 11h locais (17h em Portugal continental) no aeroporto de Corpus Christi, a 300 km de Houston, sob um céu azul pintado com nuvens brancas que há dias não se via por aqueles lados.
Já no centro de operações de Corpus Christi, o Presidente norte-americano fez uma breve declaração aos jornalistas, rodeado por vários responsáveis pelas operações de salvamento e outras personalidades – do governador do Texas, Greg Abbott, ao senador do Texas e seu rival nas eleições primárias no Partido Republicano, Ted Cruz. Mais tarde, por volta das 17h locais (23h em Portugal continental), Trump chegará à capital do Texas, Austin, onde se espera que dê mais pormenores sobre os planos para a região.
Muito se falou sobre a decisão da Casa Branca de não levar o seu Presidente até ao epicentro da devastação na costa do Texas – a gigantesca cidade de Houston, a 4.ª maior do país, com uma área metropolitana habitada por mais de seis milhões de pessoas. Mas a explicação é simples: Houston é, por estes dias, uma cidade isolada; sem aeroportos a funcionar, e quase sem estradas por onde entrar e sair. A informação não é oficial, mas esta terça-feira circularam rumores de que o Presidente norte-americano irá a Houston no sábado, depois de o dilúvio provocado pela tempestade tropical ter passado.
Por enquanto, a situação parece ainda nem ter chegado ao pior: estão confirmados dez mortos, mas as autoridades avisam que o balanço final pode ser muito superior. Em várias zonas do imenso condado de Harris (onde se inclui Houston), as equipas de salvamento não conseguem chegar a todo o lado, e ainda não saíram da fase de resgate das pessoas que ficaram em cima de telhados e em zonas mais elevadas. Nos próximos dias, depois de a tempestade abrandar e acabar por desaparecer, terá lugar a tarefa de procurar os desaparecidos – e só nessa altura será possível ter uma ideia da destruição e do número de vítimas mortais.
A maior preocupação das autoridades são as cheias, que podem engolir cidades inteiras nos próximos dias, até mesmo depois de o Harvey se ter dissipado. Se há 12 anos, em Nova Orleães, grande parte das mortes aconteceu porque os diques não aguentaram a força das águas, desta vez a quantidade recorde de chuva que tem caído em Houston e outras cidades do Texas levou várias barragens ao limite – em duas das maiores foram sendo feitas descargas, mas rapidamente voltaram a encher-se até ao máximo, receando-se agora que a água transborde e faça elevar ainda mais o rio Buffalo.
Os responsáveis locais falam numa tempestade de "proporções bíblicas", e os especialistas concordam que a quantidade de chuva que tem caído desde sexta-feira é fora do comum – dizem que é uma "cheia de 500 anos". O que isso quer dizer, na prática, não é que o dilúvio dos últimos dias só acontece de 500 em 500 anos, mas sim que há 0,2% de probabilidade de ocorrer num qualquer ano, explicou o jornalista de dados Christopher Ingraham, do Washington Post.
No mesmo texto, Ingraham recorre aos números publicados e assinala que este é o terceiro ano consecutivo que Houston regista uma "cheia de 500 anos" – e em todo o país houve pelo menos 25 cheias deste tipo desde 2010.
"Esta informação é alarmante para os residentes em Houston, em Nova Orleães e para outros milhões de pessoas que vivem em áreas vulneráveis a cheias extremas. Sugere que aquilo que em tempos entendíamos como condições meteorólogicas extremas se tornam mais comum à medida que o clima aquece", diz Christopher Ingraham.
A Organização Meteorológica Mundial disse esta semana que o grande volume de chuva produzido por esta tempestade está "provavelmente" relacionado com as alterações climáticas – naquela região do planeta a subida da temperatura faz aumentar a quantidade de humidade na atmosfera.