"Lançamento de míssil". A mensagem assustadora que acordou os japoneses
O lançamento do projéctil acordou a população japonesa, que considera que o país "já não é seguro".
Ai Onodera estava a dormir em Hokkaido, no Norte do Japão, nesta terça-feira (noite de segunda-feira em Lisboa), quando um alarme no seu telemóvel a acordou de abanão às 6h02: “Lançamento de míssil. Lançamento de míssil. A Coreia do Norte lançou um míssil. Abrigue-se num edifício sólido ou debaixo de terra”.
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Ai Onodera estava a dormir em Hokkaido, no Norte do Japão, nesta terça-feira (noite de segunda-feira em Lisboa), quando um alarme no seu telemóvel a acordou de abanão às 6h02: “Lançamento de míssil. Lançamento de míssil. A Coreia do Norte lançou um míssil. Abrigue-se num edifício sólido ou debaixo de terra”.
Quatro minutos antes, às 5h58, a Coreia do Norte lançou um míssil balístico que sobrevoou o Japão, o que não acontecia desde 2009, e estava a dirigir-se em direcção às principais ilhas, no Norte do Japão.
Três minutos após o lançamento, o primeiro-ministro, Shinzo Abe, ordenou aos funcionários para se juntarem e analisarem as informações que chegavam sobre o lançamento. Um minuto depois, o Governo lançou um alerta no seu sistema nacional, avisando os residentes do Norte do país, incluindo Onodera, da ameaça do míssil.
Em pânico, Onodera ligou a televisão. Todos os canais estavam a passar informações com o mesmo aviso. Rapidamente, Onodera ligou ao seu marido, que estava numa viagem de negócios. “Estava aterrorizada que não o pudesse voltar a ver”, disse a mulher de 33 anos residente em Sapporo, capital de Hokkaido.
Poucos minutos depois do primeiro aviso, às 6h06, o míssil entrou no espaço aéreo de Hokkaido, de acordo com um comunicado do Governo divulgado pouco depois. Às 6h07, o míssil – que voava a 12 mil quilómetros por hora e a uma altitude máxima de 550 quilómetros – atravessou a ilha, em direcção do mar.
Confusão e impotência
Em várias cidades do Norte, as sirenes soaram e os altifalantes alertaram os residentes para serem cautelosos, levando alguns a saírem de suas casas enquanto outros confessam que não sabiam o fazer.
Algumas pessoas que ainda vivem em casas temporárias depois do terramoto e tsunami de Março de 2011 escreveram nas redes sociais: “O que é que eles querem dizer com edifícios sólidos? Nós não temos nenhum.”
Os responsáveis locais apressaram-se a sair para os seus escritórios mais cedo, enquanto a circulação de comboios na região, incluindo os comboios rápidos que fazem a ligação entre Tóquio e o Norte do país, foi interrompida.
“Sentimo-nos impotentes ao saber que não há nada que possamos fazer, mesmo enquanto o míssil passa pelos céus do Japão”, afirmou Hiroaki Kumasaka, 38 anos, que trabalha numa editora e estava na estação de Tóquio para uma viagem de negócios.
“Enviei uma mensagem à minha família a dizer ‘o Japão já não é seguro’ e o desconhecido que estava a meu lado partilhou o mesmo sentimento que eu”, disse.
Nas últimas semanas, a Coreia do Norte lançou vários mísseis em direcção ao Japão, mas a maioria deles caiu no Mar do Japão, na zona oeste do país. As crescentes ameaças levaram a que várias cidades costeiras na principal ilha japonesa de Honshu executassem exercícios de mísseis. Hokkaido, uma ilha com 5,5 milhões de habitantes, conhecida pelos resorts de esqui, marisco, cerveja e batatas, estava a planear, para sexta-feira, o que parecia ser o primeiro exercício.
Às 6h12, cerca de 14 minutos depois do lançamento perto da capital da Coreia do Norte, em Pyongyang, o míssil caiu no Oceano Pacífico a 1180 quilómetros a leste do Cabo de Erimo. O alerta da Agência de Gestão de Incêndios e Catástrofes de que o míssil tinha passado por cima de Hokkaido foi enviado dois minutos depois.
Andrew Kaz, um cidadão americano de 24 anos que trabalha como professor assistente de línguas na parte oriental de Hokkaido, em Kushiro, disse que estava preocupado com a potencial resposta do Japão e dos Estados Unidos.
“Eu sei que isto já aconteceu anteriormente mas sinto-me pequeno e sem rumo”, afirmou à Reuters. “Parece que tudo está igual, mas dá para ver que as pessoas estão abaladas”.