Trabalhadores da Autoeuropa confirmam greve contra sábados obrigatórios

Trabalhadores confirmam paralisação que se inicia nesta terça-feira às 23h30 e mandatam sindicato da CGTP para reunir com a administração e forçar alternativas

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Autoeuropa está a atravessar um conflito laboral por causa das mudanças nos horários de trabalho DANIEL ROCHA

Os trabalhadores da Autoeuropa vão manter a greve que se inicia às 23h30 desta terça-feira e que se prolonga até à meia-noite de quarta-feira, para protestarem contra o trabalho obrigatório aos sábados. A decisão foi confirmada nos plenários que se realizaram segunda-feira, 28 de Agosto, em Palmela, tendo os trabalhadores mandatado os dirigentes do Sitesul, o sindicato da CGTP que representa os trabalhadores da indústria transformadora, energia e ambiente do Sul, para reunirem com a administração e tentarem encontrar uma solução para o conflito.

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Os trabalhadores da Autoeuropa vão manter a greve que se inicia às 23h30 desta terça-feira e que se prolonga até à meia-noite de quarta-feira, para protestarem contra o trabalho obrigatório aos sábados. A decisão foi confirmada nos plenários que se realizaram segunda-feira, 28 de Agosto, em Palmela, tendo os trabalhadores mandatado os dirigentes do Sitesul, o sindicato da CGTP que representa os trabalhadores da indústria transformadora, energia e ambiente do Sul, para reunirem com a administração e tentarem encontrar uma solução para o conflito.

“Os cerca de três mil trabalhadores [de um universo total de perto de quatro mil] que participaram nos dois plenários aprovaram, por maioria, apenas com sete abstenções e um voto contra, uma resolução que confirma a rejeição dos novos horários e a manutenção da greve”, disse à Lusa Eduardo Florindo, coordenador do Sitesul, o sindicato que convocou a greve.

No plenário, acrescentou, os trabalhadores mandaram o sindicato para enviarem a resolução à administração, juntamente com um pedido de reunião.

Na origem do conflito está o conteúdo do pré-acordo celebrado entre a Comissão de Trabalhadores e a administração da empresa e que foi rejeitado pela maioria dos trabalhadores, por implicar trabalhar obrigatoriamente ao sábado.

Esse documento prevê a existência de três turnos diários, de segunda a sábado, com uma folga ao domingo e outra rotativa durante a semana, para a empresa conseguir assegurar a produção do novo veículo (o T-Roc), que já se iniciou no final de Julho e que deveria entrar em velocidade de cruzeiro em Novembro. O acordo prevê ainda compensações pecuniárias: “um pagamento mensal de 175 euros adicional ao que está previsto na lei, 25% de subsídio de turno e a atribuição de um dia adicional de férias”.

A proposta traz alterações significativas face ao regime laboral que agora é aplicado na Autoeuropa, o que levou os trabalhadores a rejeitá-la. Actualmente, a fábrica de Palmela, que é responsável por 4% das exportações portuguesas, trabalha em dois turnos de segunda à sexta e apenas labora ao fim-de-semana quando há picos de produção, sendo o trabalho pago como extraordinário (se um trabalhador fizer quatro sábados por mês recebe agora uma compensação de 400 euros).

As mudanças afectam em particular os trabalhadores da montagem e que estão há mais anos na fábrica, uma vez que os contratos dos trabalhadores admitidos mais recentemente, em particular os que foram recrutados para responder à produção do T-Roc, já prevêem o trabalho ao sábado e folgas rotativas, apurou o PÚBLICO.

“Os trabalhadores não querem os horários que a administração pretende impor, porque põem em causa o fim-de-semana e é nocivo para a sua saúde, devido à elevada rotatividade e por concentrar mais de metade do trabalho no período nocturno”, disse ao PÚBLICO Rogério Silva, dirigente da Fiequimetal, a federação da CGTP onde está integrado o Sitesul.

Sem receio de deslocalização 

O dirigente espera que a greve desta quarta-feira leve a administração a mudar de posição e a apresentar uma proposta alternativa. “Estou convencido de que será possível encontrar uma solução”, reforçou, desvalorizando as ameaças de que a produção do novo veículo possa, pelo menos parcialmente, ser deslocada para outros países.

"Não temos esse receio, até porque grande parte do investimento na Autoeuropa para a produção do novo veículo foi feito com dinheiro do governo português. Quando negociaram esse acordo de produção os trabalhadores da Autoeuropa também deviam ter sido ouvidos. Neste momento já se fala que, durante eventuais picos de produção, os trabalhadores, além dos sábados, poderão também ser chamados para trabalharem ao domingo", acrescentou por seu turno Eduardo Florindo, do Sitesul.

Além do Sitesul, também o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA) agendou uma greve para o mesmo dia. O dirigente José Simões até concede que o acordo tem pontos positivos, mas o trabalho obrigatório ao sábado “é difícil” de aceitar, reconhece.

Nos plenários desta segunda-feira, que foram convocados pelo Sitesul, estiveram presentes alguns membros da Comissão de Trabalhadores demissionária, mas não usaram da palavra. Contactados pelo PÚBLICO, estes dirigentes remeteram quaisquer declarações para depois da greve.

Também a empresa optou pelo silêncio, escusando-se a antecipar as consequências da greve, que é praticamente inédita naquela fábrica da Volkswagen. Em entrevista ao Negócios, na semana passada, o director-geral, Miguel Sanches, alertou que deslocalizar parte da produção “é um cenário que pode estar em cima da mesa”, caso o conflito se mantenha.

Este conflito na Autoeuropa está a evidenciar as diferenças de posição entre a Comissão de Trabalhadores, ou pelo menos alguns dos seus membros, e os sindicatos, que tentam ganhar protagonismo numa empresa que tem como interlocutor privilegiado a comissão eleita por todos os trabalhadores.