Modelo do mercado de transferências já gera mais do que simples críticas

A dois dias do encerramento do defeso, o PÚBLICO faz o ponto da situação em relação a um tema que deixa os cabelos em pé aos treinadores. A Premier League será o primeiro campeonato a tentar forçar a mudança.

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Gylfi Sigurdsson chegou ao Everton já com a época em curso Reuters/ANDREW BOYERS

José Mourinho, Antonio Conte, Massimiliano Allegri, Sérgio Conceição, Jorge Jesus, Rui Vitória. São muitos os treinadores, de diferentes Ligas, que no presente defeso já vieram a público manifestar discordância face ao actual modelo do mercado de transferências. No centro do furacão está o timing escolhido, em particular a data de encerramento, que provoca alterações nos plantéis já com a época em andamento. Com as críticas a subir de tom, o passo seguinte é uma posição de força conjunta, que a Premier League está disposta a encabeçar.

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José Mourinho, Antonio Conte, Massimiliano Allegri, Sérgio Conceição, Jorge Jesus, Rui Vitória. São muitos os treinadores, de diferentes Ligas, que no presente defeso já vieram a público manifestar discordância face ao actual modelo do mercado de transferências. No centro do furacão está o timing escolhido, em particular a data de encerramento, que provoca alterações nos plantéis já com a época em andamento. Com as críticas a subir de tom, o passo seguinte é uma posição de força conjunta, que a Premier League está disposta a encabeçar.

São duas dimensões diferentes que se cruzam a meio do caminho: a perspectiva dos treinadores, que querem fechar o mais cedo possível o lote de jogadores com que vão trabalhar, e a visão dos agentes e dos proprietários dos clubes, que procuram rentabilizar ao máximo os activos. Do ponto de vista estritamente desportivo, é, porém, difícil aceitar como benéfico que a temporada arranque no início de Agosto e que os plantéis permaneçam “sob ameaça” durante praticamente quatro semanas, no que diz respeito às Ligas mais competitivas.

“O que eu acho é que temos de adaptar-nos à situação, seja ela qual for, mas como treinador preferia que o mercado fechasse mais cedo. Toda a gente saberia os jogadores que tinha, os negócios seriam feitos antes e não assistiríamos a situações de atletas a fazerem o primeiro jogo por um clube e o segundo por outro”, argumentou Mourinho, técnico do Manchester United, na passada semana. Uma visão que é partilhada pela esmagadora maioria dos técnicos da Liga inglesa.

Sendo um dos campeonatos mais cobiçados, mas também um dos mais poderosos do mundo, a Premier League quer fazer uso do seu peso no universo do futebol para se fazer ouvir. Nas últimas semanas tem recolhido opiniões junto dos responsáveis dos clubes e há já uma reunião agendada para o início de Setembro, no dia 7, para se decidir qual o rumo a seguir.

Se a maioria votar a favor da alteração de datas, a Premier League deverá avançar já em 2018-19, na próxima época, para uma tentativa de encerramento da janela de transferências na semana que antecede o arranque do campeonato. Uma decisão que deverá ser comunicada à FIFA, naturalmente, mas que poderá ser adoptada de forma unilateral, até porque os regulamentos determinam apenas que, no caso de Inglaterra, o defeso não pode exceder as 12 semanas nem prolongar-se para lá de 1 de Setembro.

Um risco para Inglaterra?

Estivesse já este calendário em vigor e ter-se-ia evitado que o islandês Gylfi Sigurdsson, por exemplo, tivesse falhado o jogo de arranque da época pelo Swansea, por estar “já com a cabeça” no Everton, clube para o qual viria a transferir-se. É para evitar episódios como este, muito frequentes, que a Premier League quer avançar, consciente de que corre sempre o risco de, ao continuar aberto o mercado em Ligas concorrentes, ver alguns dos activos saírem para o estrangeiro. Um risco que José Mourinho desvaloriza: “Eu pergunto quantos clubes no mundo têm poder suficiente para comprar os nossos melhores jogadores.”

Mas se este formato do mercado desagrada a tantos intervenientes no negócio, o que o justifica? Em muitos casos, o facto de, à volta do mundo, os campeonatos começarem e terminarem em datas muito distintas, tentando assegurar-se alguma paridade no período de tempo que os clubes de cada país têm para apetrechar-se.

Seja como for, a Premier League conta com um aliado de algum peso institucional nesta luta. A Associação Europeia de Clubes, que também se sentará à mesa com os dirigentes dos emblemas da Liga inglesa na reunião do próximo mês, parece disposta a remar para o mesmo lado, dando cumprimento à vontade de muitos dos seus associados