Caso Huawei: NOS pagou viagens de cinco colaboradores e nove convidados à China
Operadora de telecomunicações confirmou à Lusa “existência de um pagamento das viagens aéreas da referida visita a um total de 14 pessoas”, das quais “cinco colaboradores da empresa".
A operadora de telecomunicações NOS confirmou esta segunda-feira o pagamento das viagens aéreas à China em Junho de 2015, a cinco colaboradores e mais nove convidados externos, adiantando estar a apurar "o enquadramento deste pagamento".
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A operadora de telecomunicações NOS confirmou esta segunda-feira o pagamento das viagens aéreas à China em Junho de 2015, a cinco colaboradores e mais nove convidados externos, adiantando estar a apurar "o enquadramento deste pagamento".
Num comunicado enviado esta noite à Lusa, a NOS "confirma que, em Junho de 2015, colaboradores da empresa participaram numa viagem de trabalho a Zhang Zhou e Shenzehen, que teve como único objectivo partilhar com os participantes conhecimento e melhores práticas na área da saúde".
Na nota, a operadora de telecomunicações "confirma também a existência de um pagamento das viagens aéreas da referida visita a um total de 14 pessoas, sendo cinco dessas [pessoas] colaboradores da empresa".
Ao PÚBLICO, fonte institucional da empresa já tinha confirmado que “em Junho de 2015, colaboradores da Nos acompanharam um grupo de representantes de entidades públicas e privadas do sector da saúde, numa visita de trabalho à Huawei na China”. Mas recusara-se a avançar quaisquer pormenores, dizendo que a empresa está “a apurar internamente o respectivo enquadramento e todo o detalhe associado a esta visita”.
Segundo a comunicação da companhia à Lusa, "o enquadramento deste pagamento encontra-se ainda a ser apurado", já que as regras internas na operadora "não prevêem a possibilidade da empresa suportar, mesmo que parcialmente, custos de deslocações que não os dos seus próprios colaboradores".
"Perante isto e face às informações entretanto vindas a público, a comissão executiva da Nos prontamente decidiu apurar internamente o enquadramento e detalhe de um eventual envolvimento da empresa na referida viagem", acrescenta-se no comunicado difundido esta segunda-feira, 28 de Agosto.
A NOS argumenta que "a organização de visitas de trabalho com convidados, cujas funções estejam relacionadas com o objectivo de partilhar conhecimento, competências e planos de desenvolvimento tecnológico é uma prática empresarial comum e lícita".
A viagem, sublinha, incluiu "uma visita ao hospital de Zhang Zhou, considerado uma referência internacional, e à sede da Huawei, em Shenzhen, onde foram organizados vários ‘workshops’ sobre as mais recentes inovações tecnológicas na área da saúde".
As explicações da empresa surgem no mesmo dia em que a Huawei disse à Lusa que a empresa "não pagou viagem à China a nenhuma pessoa envolvida neste caso" e que o Ministério da Saúde difundiu um comunicado adiantando que dirigentes dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), "em particular" os presidente e vogal do conselho de administração, colocaram à disposição os respectivos lugares, mas o Ministério entendeu aguardar pelas conclusões da averiguação pedida à Inspeção-geral das Actividades de Saúde (IGAS).
O Ministério adianta que regista “como positiva” a atitude tomada pelos dirigentes de colocarem à disposição os seus lugares, mas entende como adequado esperar pelas conclusões da IGAS, que “habilitarão a uma tomada de decisão definitiva, justa e fundamentada”.
Em causa estão “factos ocorridos em Junho de 2015” e que, segundo o ministério, “carecem de clarificação ao nível do seu contexto ético, jurídico e institucional”.
De acordo com o jornal Expresso, trata-se de uma viagem realizada entre 2 e 06 de Junho de 2015, envolvendo cinco dirigentes do Ministério da Saúde. Em Fevereiro do mesmo ano, outro destacado funcionário do Estado, Carlos Santos, da Autoridade Tributária, viajou para a China “com tudo pago”.
O jornal cita uma fonte ligada ao processo, segundo a qual a empresa pagou “tudo, mesmo tudo”, incluindo a alimentação.
A viagem incluiu uma visita ao Hospital de Zheng Zhou para observar como funciona o sistema de telemedicina da unidade e outra à sede da tecnológica em Shenzhen, perto de Hong Kong.
“Os altos quadros dos SPMS que viajaram a convite são Artur Trindade Mimoso, vogal executivo do conselho de administração, Nuno Lucas, director de sistemas de informação, Ana Maurício, directora de comunicação, Rui Gomes, director de sistemas de informação, e Rute Belchior, directora de compras”, lê-se na notícia do Expresso.
Os SPMS confirmaram ao jornal a deslocação “suportada pela entidade que organizou a visita”, justificando-a com “objectivos prioritários” de adquirir e partilhar conhecimentos sobre "os recursos, modelos e estratégias diferenciadoras utilizadas no âmbito da telemedicina”.