Começou a segunda metade da legislatura

Pelo Costa que ouvimos ontem, vai ser igualzinha à primeira – mas com um pequeno intervalo até às autárquicas. A aliança continua. Até Marcelo já tinha ajudado

Vai durar um mês e uma semana, este curto intervalo no discurso de António Costa. “Fear not”, como se diz em inglês: o primeiro-ministro, desta vez, quase não falou do Bloco, do PCP e dos Verdes, mas é só um curto intervalo até às eleições autárquicas. À excepção dos elogios aos parceiros, que não apareceram nos 45 minutos de discurso de rentrée, o António Costa que prometia ao Expresso uma nova fase da legislatura foi igualzinho ao António Costa que acabou a primeira metade dela: cavalgou o crescimento, prometeu prudência nas contas, carregou na redistribuição de rendimentos, malhou nos adversários da direita.

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Vai durar um mês e uma semana, este curto intervalo no discurso de António Costa. “Fear not”, como se diz em inglês: o primeiro-ministro, desta vez, quase não falou do Bloco, do PCP e dos Verdes, mas é só um curto intervalo até às eleições autárquicas. À excepção dos elogios aos parceiros, que não apareceram nos 45 minutos de discurso de rentrée, o António Costa que prometia ao Expresso uma nova fase da legislatura foi igualzinho ao António Costa que acabou a primeira metade dela: cavalgou o crescimento, prometeu prudência nas contas, carregou na redistribuição de rendimentos, malhou nos adversários da direita.

Sim, as esquerdas podem estar tranquilas com o novo Costa. Na Pontinha, dando o pontapé de saída para a campanha e o Orçamento, ele pode não lhes ter agradecido o apoio, mas mostrou-lhes que vai continuar a contar com eles. Dois sinais pequenos, mas audíveis à distância da Soeiro Pereira Gomes ou da Rua da Palma, onde “moram”  Jerónimo de Sousa e Catarina Martins: quando houve uma crítica aos que não ligaram nada à sua prometida reforma florestal (“uma das maiores dos últimos séculos”, disse Costa sem ironia), atirou à direita fingindo que o PCP não tinha votado com ela; quando falou dos próximos fundos europeus, já não disse que os queria por consenso com o PSD, anotou só que “ninguém se pode colocar de fora”.

O que aí vem está traçado, mais milhão, menos milhão: o Orçamento terá menos IRS, mais investimento no SNS e na Educação, um pouco de esforço mais na melhoria das pensões (pelo menos de quem começou a trabalhar muito cedo). Sem guerras entre privado e público, sem guerras entre famílias. É tudo tão mais fácil quando a economia cresce.

E ainda mais fácil quando o Presidente ajuda. Ontem mesmo, na inauguração do novo museu de homenagens aos refugiados, em Vilar Formoso, Marcelo aniquilou, sem apelo nem agravo, o novo discurso do PSD, que se tinha posto a jeito criticando a nova lei da nacionalidade: “Nós temos a capacidade de cultivar a diferença, não perdemos tempo a discutir quem é português ou estrangeiro. [Discutirmos o estatuto dos estrangeiros] é discutirmos a circulação dos portugueses pelo mundo. É o risco de ficarmos insensíveis ou desumanos.” Veja bem a ironia disto tudo: horas antes da rentrée do PS, Marcelo acabou com o discurso de rentrée do PSD. Falando em alianças, esta é mesmo a mais estável de todas.


david.dinis@publico.pt