Um telemóvel para deixar o smartphone de lado
Há também empresas que vêem mercado em desenvolver aplicações e acessórios para ajudar as pessoas a passarem menos tempo a olhar para o ecrã.
Os smartphones são cada vez mais uma parte central do dia de quem os usa e a ansiedade de os largar torna-se, pelo menos para alguns, cada vez maior. Afinal, basta um toque de dedos no ecrã para aceder a notícias, jogos, redes sociais, vídeos, e – em alguns casos – aplicações que avaliam o número de passos, horas que se dormiu, ou o que se comeu.
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Os smartphones são cada vez mais uma parte central do dia de quem os usa e a ansiedade de os largar torna-se, pelo menos para alguns, cada vez maior. Afinal, basta um toque de dedos no ecrã para aceder a notícias, jogos, redes sociais, vídeos, e – em alguns casos – aplicações que avaliam o número de passos, horas que se dormiu, ou o que se comeu.
Em Portugal, há 6,5 milhões de pessoas a utilizar os aparelhos segundo dados de Julho de 2017 da Marketest. Fazer uma publicação nas redes sociais antes de ver o menu no restaurante, parar no meio da rua para ver quantos passos é que já se deu, e ver crianças focadas no ecrã do smartphone dos pais é cada vez mais comum. Um estudo global da Delloite nota que 78% dos consumidores em países desenvolvidos olha para o smartphone menos de uma hora depois de acordar, com 22% a conectar-se logo às redes sociais. Os investigadores estão preocupados, mas há quem veja no problema uma oportunidade.
Já há empresas a desenvolver telemóveis, aplicações e outras tecnologias para ajudar as pessoas a passar menos tempo agarradas ao smartphone, ou ajudar os pais a controlar o tempo que os filhos passam com os aparelhos.
Uma capa contra excessos
A Otomos é uma capa para iPhone que permite aos pais desligarem o telemóvel dos filhos à distância. Os investigadores japoneses descrevem-na como um “escudo inteligente” que impede os mais novos de ficarem viciados na tecnologia. É um problema crescente: há cada vez mais “campos de desintoxicação” de smartphones para adolescentes em todo o mundo. A tendência ainda não chegou a Portugal, mas resultados do projecto europeu Net Children Go Mobile em 2014 já mostravam que 31% dos jovens com 13 e 14 anos utilizam-nos excessivamente.
A Otomos resolve o problema com um mecanismo na própria capa que activa o botão de desligar do smartphone em alturas específicas. Depois de colocada no telemóvel, a capa não pode ser removida sem uma chave especial e os pais podem definir limites específicos para os smartphones dos filhos (por exemplo, o tempo de utilização diária ou horas obrigatórias para “desligar”), através de uma aplicação móvel . A capa também bloqueia o telemóvel quando o utilizador está a andar (ou seja, não dá para mandar mensagens enquanto se atravessa a estrada), e envia um alerta aos pais caso o aparelho esteja danificado.
A capa, que pesa cerca de 110 gramas, custa cerca de 50 euros. Apenas está disponível para iPhone (suporta qualquer modelo lançado depois do iPhone 6).
Um telemóvel mais leve
O Light Phone é um pequeno aparelho do tamanho de um cartão de crédito (com menos de 40 gramas) que foi concebido para se tirar do bolso apenas quando necessário. Apresenta-se como um “segundo telemóvel” para quando se quer deixar o smartphone (e as distracções associadas) para trás. Distingue-se de outros telemóveis básicos porque funciona com o mesmo número que o telemóvel principal e não permite mensagens, pequenos jogos, ou qualquer coisa além de fazer e receber chamadas.
Nos EUA, o aparelho consegue receber chamadas reencaminhadas através de uma plataforma online que conecta o aparelho ao smartphone do utilizador. A versão internacional do telemóvel (que custa cerca de 155 euros, com portes incluídos) ainda não permite aceder à plataforma. Ou seja, o aparelho apenas funciona com um novo número, ou com uma cópia do sim actual (que é possível pedir nas operadoras).
A dupla de criadores norte-americanos acentua que não é contra a evolução, mas contra a tecnologia que “escraviza os seres humanos ao transformá-los em dados informáticos”.
Recentemente, o novo Nokia 3310 (a evolução do modelo clássico da marca, o “indestrutível” Nokia) também é visto como uma boa opção para um telemóvel mais simplificado que permite passar menos tempo obcecado com o ecrã do smartphone. Custa cerca de 65 euros em Portugal.
Caminhar para abrir aplicações
Para o criador do Android, Andy Rubin, a solução para os viciados não é utilizar um telemóvel mais simplista, mas um smartphone ainda mais inteligente que seja capaz de ajudar os utilizadores. O criador do Essential PH-1 (cujo nome é um trocadilho com a palavra inglesa para telefone, “phone”) quer introduzir algoritmos mais complexos nos seus telemóveis que utilizem inteligência artificial para automatizar várias tarefas e reduzir a necessidade das pessoas verem o telemóvel. “Se o smartphone for a nossa versão virtual, podemos estar a apreciar a vida, a jantar, sem tocar no smartphone, porque confiamos nele para fazer as coisas por nós. Acho que isso pode resolver parte do vício”, disse Rubin em declarações à Bloomberg ao falar sobre o lançamento do Essential PH-1.
Até lá, há outras aplicações para ajudar. A Space, do laboratório Dopamine Lab’s, obriga o utilizador a ter “momentos zen” antes de utilizar aplicações que abre com frequência (ou seja, fica bloqueado o acesso à aplicação com mensagens com o objectivo de relaxar o utilizador – por exemplo, “respire” – a aparecer no ecrã). Já a StepLock quer reduzir o vício de utilizar certas aplicações enquanto motiva as pessoas a mexerem-se mais: é preciso dar um número específico de passos durante o dia para aceder a aplicações específicas.
É claro que com aplicações, o desafio é não alterar as definições ou apagá-las para utilizar o telemóvel.