Zero critica agricultura intensiva no Parque Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina
A associação ambientalista afirma que o ICNF não sabe qual é a área ocupada por estufas nestas áreas protegidas. Segundo a Zero, o grande uso de fertilizantes pode ter um grande impacto na natureza.
A associação Zero alertou esta sexta-feira para o aumento da agricultura intensiva na área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e para a falta de controlo desta actividade, o que tem originado "reclamações e conflitos".
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A associação Zero alertou esta sexta-feira para o aumento da agricultura intensiva na área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e para a falta de controlo desta actividade, o que tem originado "reclamações e conflitos".
Num comunicado divulgado sexta-feira, com o título "agricultura intensiva sem controlo no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina", a Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável disse ter recebido "muitas denúncias" relativamente à actividade agrícola nesta área protegida, que abrange concelhos do Alentejo e Algarve.
A Zero diz ter solicitado esclarecimentos ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) "sobre a execução de medidas e o cumprimento das normas ambientais previstas no Plano de Ordenamento" do PNSACV e que "o ICNF reconhece que existe, actualmente, um forte incremento da actividade agrícola intensiva, com instalação de novas estufas".
O ICNF, segundo a associação, admitiu também que "a execução das medidas e normas" do plano de ordenamento "ou não está a acontecer", como é o caso da "certificação ambiental dos agricultores" e da "sua sensibilização para práticas agrícolas de menor impacto ambiental", ou, então, "só agora está a dar os primeiros passos", nomeadamente no que diz respeito ao "controlo da qualidade da água".
"O ICNF reconhece não saber qual a área ocupada por estufas e túneis, quando existe um limite imposto por lei de 30% no Perímetro de Rega do Mira", adianta a associação ambientalista. Esta situação, alertou a associação, "está a originar reclamações e conflitos por parte das populações residentes e de agentes turísticos e a gerar impactos nos valores naturais, traduzindo uma situação que, do ponto de vista da sua capacidade legal e da articulação entre entidades, não tem permitido prevenir o que está a acontecer".
De acordo com a Zero, "trata-se de um aspecto relevante", por este tipo de instalações induzir "forte impacto visual numa área de turismo de natureza" e poder "potenciar um uso excessivo de fertilizantes e de fitofármacos, susceptíveis de causarem a degradação do solo e da qualidade da água".
A agricultura intensiva é praticada na área do Perímetro de Rega do Mira (PRM), abastecida pela Barragem de Santa Clara, que, apesar de ocupar "apenas cerca de 11% da área total" do parque, "estende-se por 41 quilómetros e ocupa 15 mil hectares", sendo "um dos locais com maior intensidade agrícola do país", pode ler-se no comunicado.
"Foi neste contexto que, na última revisão do Plano de Ordenamento, se estipularam diversas medidas que permitiriam monitorizar e compatibilizar a actividade agrícola, em particular a horticultura e a floricultura, com a preservação da natureza", lembrou a Zero.
A "ausência de medidas de prevenção dos problemas actualmente identificados" levou mesmo à criação de um grupo de trabalho, composto por diversas entidades e coordenado pelo ICNF e pela Câmara de Odemira (Beja), para "avaliar os conflitos existentes" neste perímetro de rega.
E, apesar de o grupo de trabalho "reunir mensalmente desde Janeiro de 2016", frisou a Zero, "o assédio para a aquisição e/ou ocupação de terrenos para agricultura, nomeadamente para cultura em estufa de framboesas e mirtilos, não tem parado de aumentar, com impactos sociais e ambientais de gravidade crescente".