O Partido dos Santos
O facto mais assinalável das eleições angolanas é o nascimento de um novo partido.
Ontem nasceu em Angola mais um partido político. É um partido muito original, que não se preocupa com essas minudências do voto e da democracia, mas é efectivamente o partido que controla o Estado angolano. É o Partido dos Santos, cujo presidente efectivo é José Eduardo e os militantes são os seus filhos e restantes apaniguados. São estas pessoas que controlam as finanças do país e são estas pessoas que têm no poder militar, judicial e policial os seus aliados.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ontem nasceu em Angola mais um partido político. É um partido muito original, que não se preocupa com essas minudências do voto e da democracia, mas é efectivamente o partido que controla o Estado angolano. É o Partido dos Santos, cujo presidente efectivo é José Eduardo e os militantes são os seus filhos e restantes apaniguados. São estas pessoas que controlam as finanças do país e são estas pessoas que têm no poder militar, judicial e policial os seus aliados.
Ora, quem ganhou as eleições foi João Lourenço, o novo Presidente, que é do MPLA e que vem também do partido dos Santos. Neste momento os interesses são coincidentes e o partido dos Santos é indistinto do MPLA pelo que nesta primeira fase nada muda. Os interesses são coincidentes e a partilha dos espaços do poder também. O cenário, no dia a seguir à eleições, confirma que quem manda é o partido dos Santos, em coligação com o MPLA. Mas esta coligação não deve durar toda a legislatura. Ao longo do tempo, João Lourenço vai ter de continuar a alimentar a legião que o apoia – e essa já não será totalmente coincidente com o grupo que está do lado de José Eduardo dos Santos. A dimensão das fissuras entre os dois partidos vai depender do que acontecer até lá: do estado de saúde de José Eduardo dos Santos, da capacidade dos filhos Santos na gestão financeira, da vontade de João Lourenço em investir verdadeiramente nas infra-estruturas do país e da capacidade da sociedade angolana para exigir mudanças.
Uma coisa é óbvia: com o preço do petróleo tão baixo, o dinheiro não chega para todos. A situação da Sonangol é dramática e o país está em recessão económica, pelo que o dinheiro disponível não chegará para manter os clientelismos de José Eduardo dos Santos mais os desejos políticos do novo Presidente. Um milagre económico não se faz sem investimento, até porque ao contrário do petróleo os sectores produtivos não nascem do solo. E se a ideia é criar um sector primário e secundário no país que passe pelo petróleo, é preciso mais investimento em infra-estruturas e muito mais investimento em pessoas, porque o analfabetismo e as doenças não são boas para quem precisa de funcionários capazes de trabalhar. Para que João Lourenço fique realmente conhecido como o autor de um milagre económico que vá para lá dos seus bolsos, seria bom acabar com a corrupção e começar por dar educação e saúde aos angolanos.