Devíamos falar sobre pensões (com pés e cabeça)
Governo, PCP e Bloco já vão para a terceira alteração ao sistema de reformas em 10 meses. E negoceiam um outro aumento extra em 2018. E que tal pensar em tudo de forma integrada?
São três mexidas num ano: primeiro veio o aumento de pensões até 800 euros, incluindo as mínimas; em Agosto o aumento extraordinário combinado com PCP e Bloco, porque o sistema informático não permitia que fosse antes; e em Outubro, precisamente a 1 de Outubro, virá a reforma antecipada sem penalizações para quem tenha carreiras de 46 anos e começado a trabalhar aos 14.
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São três mexidas num ano: primeiro veio o aumento de pensões até 800 euros, incluindo as mínimas; em Agosto o aumento extraordinário combinado com PCP e Bloco, porque o sistema informático não permitia que fosse antes; e em Outubro, precisamente a 1 de Outubro, virá a reforma antecipada sem penalizações para quem tenha carreiras de 46 anos e começado a trabalhar aos 14.
Como sempre, quando estamos a falar de aumentar rendimentos, todos os casos são - em si mesmo - justos. É claro que os pensionistas pagaram muito da crise que vivemos em Portugal, é claro que as pensões de reforma estão fartas de perder valor, mesmo para lá dos cortes, tendo em conta a inflação, é claro também que quem começou a trabalhar aos 14 anos e trabalhou 46 merece não ter penalização quando chega à idade de ir descansar. Tudo impecável, portanto. Ou não.
O problema é que a justiça redistributiva da Segurança Social não se mede só assim. Nem só no presente, nem relativamente a cada um de nós. Tal como o nosso sistema existe, uma avaliação de justiça redistributiva nas pensões de reforma exigem uma perspectiva futura dos que trabalham hoje e dos que ainda nem começaram a trabalhar. Estamos fartos de falar disto: ponham em cima desta fórmula o envelhecimento da população e temos o quadro todo - nem preto, nem branco, mas muito complexo.
O que faz confusão neste processo é que a actual maioria esteja a tratar das pensões por partes, sem discutir soluções de forma integrada. Não faz sentido que caminhemos para uma terceira mudança no sistema em Outubro, não faz sentido que se esteja a negociar um novo aumento extra de pensões no próximo ano, como pediu o PCP (notícia de ontem do Negócios) e ainda faz menos sentido que o Governo tenha marcado lá para o fim do ano uma discussão na concertação social sobre a sustentabilidade do sistema - incluindo as medidas que ajudarão, do lado da receita, a caminhar nessa sustentabilidade.
Esta é a oportunidade. Não apenas porque a economia está a crescer mais do que prevíamos e o emprego a aumentar (razão pela qual tudo isto se pode fazer assim, dando um pouco mais de cada vez). É porque é a esquerda quem está na maioria, com a responsabilidade de governar. Junte-se, portanto, um mais um: há matérias onde a direita nunca poderá mexer, sobretudo não sozinha. E se a esquerda pode e tem a oportunidade, que tal se se sentarem e combinarem tudo direitinho de uma só vez, para não termos outro problema mais tarde? Pode ser? Sff?